Sociedade

Adolescência problemática não impediu a continuidade da sua luta

Rui Ramos

Jornalista

Isildo Tito Marques, natural de Luanda, tem 23 anos de idade e é filho de Áurea António de Melo Marques e de Tito Bandi João.

11/04/2021  Última atualização 08H58
© Fotografia por: DR
"Os meus pais separaram-se quando eu tinha 7 meses e a minha vida ficou quase entregue à minha avó materna, Isilda Maria de Melo”, recorda Isildo Tito Marques, que fez o ensino primário na Escola Teresiana de Viana, bairro da Estalagem, onde estudou até à 4ª classe.
Com 9 anos, e após uma visita ao Centro Polivalente Nzoji, uma academia de polícia que alberga crianças e adolescentes familiares de efectivos que querem seguir a mesma carreira, Isildo Tito Marques pede à família para viver no internato.

No centro, Isildo Tito Marques passou parte da infância e adolescência. Aos 14 anos viu-se envolvido em inúmeros problemas que culminaram com a sua expulsão do centro, matando, assim, o seu grande sonho de ser polícia.
"Tornei-me na decepção da família, que já perspectivava um futuro brilhante para mim após a minha saída da academia de polícia”, diz-nos, para acrescentar que então regressou ao convívio da avó, na Estalagem, no meio de quase insanáveis dificuldades económicas.

Isildo Tito Marques concluiu com sucesso o primeiro ciclo numa escola da Estalagem, votado ao isolamento familiar, devido ao seu passado.
Então decide entrar no estilo kuduro "Juking” e funda o grupo "Os mais Picantes” com os amigos e passam a fazer kuduro de rua para a comunidade. "A música passa a interferir nos estudos e a minha mãe proíbe-me que me afaste da escola”.

Matricula-se no Puniv - Ciências Prisionais de Viana, onde fez o ensino médio, com sucesso, muitas vezes pensando em desistir por não dispor das mínimas condições de vida, situação agravada quando vai viver com a mãe, desempregada e sem proventos.
Em 2017, impossibilitado de prosseguir os estudos superiores, assiste a palestras do jornalista Victor Hugo Mendes e ganha paixão pela fala em público e cria a ideia de partilhar com os jovens a sua experiência, por meio de palestras.

Certo dia, Isildo Tito Marques ganhou coragem, pôs-se em pé e partilhou a sua vida. Victor Hugo Mendes gostou e convida-o para uma palestra na Mediateca de Luanda, com o tema "Superando desafios e limitações”, onde os dois prelectores partilharam as suas experiências de vida com mais de 300 jovens.

Isildo Tito Marques abraçou a missão de partilhar a sua história e experiência com jovens, como forma de incentivá-los a caminhar firmes e fortes, rumo à mudança. O jovem trilhou então o asfalto, becos e picadas da imensa Luanda, ministrando palestras em escolas e lares de acolhimento.
Implementou o projecto "ITM no teu Bairro”, para motivar os jovens a deixarem o mundo das drogas e incentivar o hábito pela leitura. Mas Isildo Tito Marques não desistiu dos estudos é actualmente aluno do 2º ano no curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto.

Em 2018, funda o projecto "Juntos podemos mover Angola”, uma plataforma composta por jovens que decidiram "afastar-se da crítica permanente para contribuir, de forma activa, na busca de soluções para os principais problemas das comunidades”.
Recentemente, realizou a campanha de sensibilização "Minha comunidade em primeiro lugar”. Isildo Tito Marques tem viajado por todo o país, para falar com os jovens, e tem participado em campanhas de limpeza e sensibilização. É parceiro do Centro de Acolhimento Padre Horácio (CACAJ), no Palanca, para motivar os jovens acolhidos na instituição. 

Isildo Tito Marques foi contemplado com uma bolsa de estudos, pela Agência dos Estados Unidos Para o Desenvolvimento Internacional (USAID) pelo programa YALI - Iniciativa para Jovens Líderes Africanos, onde fez o curso de Graduação em Liderança Cívica e Gestão de Projectos Sociais, na Universidade da África do Sul. O Comité Yali tem como objectivo formar jovens e prepará-los para assumirem a liderança de África.

Com o seu projecto social, tem ido às zonas periféricas para dialogar com os jovens sobre o seu posicionamento na sociedade.
No ano passado foi seleccionado para o Top 10 dos jovens activistas africanos que mais impactaram o continente, por meio de acções comunitárias, pela organização internacional Africans Risings, sendo o único representante de Angola e, por consequência, participou no Concurso Activista Africano do Ano, no qual ocupou a segunda posição, sendo considerado o segundo jovem activista africano mais influente.

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