Reportagem

Agricultores do Libolo aumentam produção

Leonel Kassana

Jornalista

No Quirianga, considerado o "pulmão hortícola" do Cuanza Sul, estão concentrados vinte e quatro agricultores, que se dedicam a produção, em alta escala, de repolho, da mandioca, milho, tomate, feijão, pimento e outros bens alimentes

27/11/2023  Última atualização 09H01
© Fotografia por: DR

Detentor da zonas  agro-ecológicas por excelência, e com chuva durante sete meses Libolo é, actualmente, das zonas que regista um aumento exponencial na produção de cereais e hortícolas. Por alguns dias, o Jornal de Angola tomou o pulso a pequenos, médios e grandes agricultores, que alimentam muitos lares nas vilas e cidades angolanas.

O que se segue são, pois, os relatos de produtores de comunidades das várias aldeias das comunas de Calulo, Cabuta, Munenga e Quissongo.

Na localidade de Quirianga, cerca de cinquenta quilómetros da vila emblemática de Calulo, há campos  agrícolas a perder de vista, sobretudo de repolho, que já chega à localidades tão longínquas, como Saurimo, no Leste de Angola.

Aqui (Quirianga), que é considerado, por assim dizer, o "pulmão hortícola" da Província do Cuanza Sul, ouvímos os clamores dos produtores sobre apoios financeiros, dificuldades de escoamento dos produtos, tal a precariedade das vias de acesso aos campos agrícolas.

A ligação para a vila de Calulo, desde a EN 120 e daqui para as comunidades do interior, é, nos dias que correm, um dos principais nós de estrangulamento da actividade agrícola no Libolo, algo que o Jornal de Angola pôde ver, com dezenas de viaturas completamente atoladas  na lama.

Só no Quirianga, estão concentrados vinte e quatro agricultores, que se dedicam, além do repolho, à produção da mandioca, milho, tomate, feijão  pimento e outros produtos.

Em consequência, muita  produção perde-se nos diversos campos agrícolas. E é disso que a generalidade dos homens do campo reclama.

Tal é o caso de Banjamim Capagaio, proprietário de mais de doze hectares, dos quais nove completamente trabalhados.

Ele diz enfrentar "muitas dificuldades", desde a transplantação do viveiro, até ao carregamento para os grandes mercados, sobretudo de Luanda, Malanje, Ndalatando, além de Calulo.

No dia em que passámos pela sua propriedade, encontramo-lo a carregar uma carrinha com 4,5 toneladas de repolho para a capital do país. Explica que nessa época já fez cinco carregamentos, algo poderia superar  não fossem o mau estado das estradas.

Nesta altura, está particularmente preocupado com a transplantação de um  hectar de tomate por escassez de mão de obra, que busca, fundamentalmente, do Bailundo, Província do Huambo. Por dificuldades financeiras, teve que dispensar três dos seus seis trabalhadores, com isso criando enormes constrangimentos na produção.  Banjamim Capagaio, enumera, depois, enormes carências, como adubos vários, pesticidas, mangueiras, motobombas e outros meios, para garantir a irrigação.

O agricultor acrescenta que, "praticamente só estamos sobreviver, a remediar porque as dificuldades são enormes".

O seu colega Segunda Máquina, que possui cerca de 400 hectares, com produção, sobretudo, de milho, feijão, e ginguba, alinha pelo mesmo diapasão, ao referir que a principal dificuldade é a falta de apoio financeiro, que permitiria alargar as áreas produtivas.

Nesta altura está a semear milho, cujo colheita pode chegar  aos 700 quilos por hectare, descontados os prejuízos com algumas pragas e de animais selvagens, sobretudo macacos, abundam nas encostas os montes próximos às fazendas.

Na próxima época sementeira, Segunda Máquina vai apostar na fileira do feijão, mas recusa-se a avançar, por enquanto, qualquer diagnóstico sobre os rendimentos. "Vai depender muito de outros factores, como a qualidade dos solos", afirma, cauteloso.

O agricultor acrescenta, se os produtores tivessem, pelo menos tractores devidamente equipados, estariam em condições de "inundar" o mercado nacional e recorda que, no passado, só da área da Quirianga chegaram a sair mais de sessenta carrinhas só de repolho, tomate e pimenta.

O seu colega Inocência Ferreira, explica que a situação é tão crítica que actualmente o aluguer de tractor chega a atingir cerca de 200 mil kwanzas. "Isso é algo comportável para o bolso dos agricultores e estamos, por isso, muito abaixo daquilo que são as nossas potencialidades", adianta.

Mostrou-nos, depois, enormes  extensões de terreno completamente cobertos de milho, de que espera colher pelo menos sete toneladas por hectare. "Tenho, aqui, sete hectares de milho", afirma, interrompendo, por instantes, o trabalho de adubação do tomate num hectare. Num outro hectare, está a produzir mandioca, prevendo três mil beldades de "macroeira".

Inocência Ferreira, quarenta e oito anos, que emprega doze pessoas, explica que actualmente, devido às dificuldades para a aquisição de adubo, sobretudo e outros meios, a produção depende muito da chuva, como a que cai por esses dias, de forma abundante na região do Libolo, para alegria dos agricultores.

Ele clarifica que com o aumento do preço do combustível, os agricultores tiveram que se reinventar, optando pelo uso de gás na rega. "É retirar o carburador e fazer ligação directa e já está", sublinha Inocêncio Ferreira.

As Mesmas dificuldades

Albino Domingos é outro agricultor basificado no fértil vale da Quiranga. Ao Jornal de Angola abriu a sua propriedade de trinta e dois hectares, para mostrar a produção de citrinos, como mangueiras, abacateiros, milho, repolho, feijão, tomate, além da  criação de caprinos.

O ano passado, recolheu mais de quatro toneladas de milho, mas registou quebra na produção do tomate, devido à praga que afectou a região, ficando-se pelas quinhentas caixas, enquanto no repolho enviou para os mercados quatro a cinco carrinhas. "Muito pouco", como diz, indicando que isso representa pouco mais de vinte toneladas.

"Aqui, no Quirianga, já fizemos grandes produções, mas devido à falta de apoios estamos a ir abaixo", acrescenta, notando que já chegou alimentar os mercados de quase todo país, com destaque Saurimo, Luanda, Malanje, Ndalatando, além do próprio Cuanza Sul".

Como outro agricultores, revela que no campo, "gasta-se muito dinheiro" e indica que com pelo menos 10 milhões de kwanzas estaria em condições de manter a sua propriedade minimamente sustentável.

Albino Domingos mostra-se particularmente preocupado com o frete das carrinhas de transporte dos produtos, que considera elevado. "Chegamos a pagar mais de cento e cinquenta mil kwanzas", sublinha, acrescentando que a situação deixa os  produtores desesperados e com muito pouca margem de lucro.

Destaca, no entanto, "dentro das limitações", que os agricultores recebem da Administração Municipal do Libolo, nomeadamente adubos diversos, amônio e outros imputes.

Os empregos que se vão perdendo, são outra das preocupações dos agricultores estabelecidos na baixa do Quirianga. "Imagine, se cada um dos vinte e quatro agricultores daqui empregasse pelo menos dezasseis pessoas, os ganhos que isso representaria para o município do Libolo"? argumenta.

 
Apoio estatal

O engenheiro Barroso Muteba Saizama  é director da Agricultura, Pecuária e Pescas no Libolo. Foi com ele que palmilhámos o interior do município. Explicou ao Jornal de Angola aquilo que são os apoios concretos para os agricultores.

"Na campanha agrícola passada, oito mil famílias camponesas receberam a devida assistência técnica e que foram preparados cerca de 12 mil hectares, com uma produtividade, média, de 24 quatro mil toneladas",  disse.

Mas esses números devem crescer na presente época, como explica Barroso Saizama. São esperados 29 mil toneladas de produtos diversos    com o envolvimento de oito mil e duzentas famílias, a trabalhar em cerca de 13 mil e 200 hectares.

Mas de números não é tudo. Para dar sustentabilidade à agricultura  familiar, as autoridades do Libolo disponibilizaram aos produtores  pelo menos sete toneladas de adubos diversos.

As famílias receberam, igualmente, duas toneladas de milho amarelo, outras tantas de milho branco, assim como uma de feijão e outra de massambala, um exercício continuado das autoridades, a pensar no aumento os níveis de produção, como disse o responsável da agricultura.

Barroso Saizama refere que a Estação de Desenvolvimento Agrário (EDA), tem controladas em todo o território do Libolo cerca de 312 famílias, que têm acompanhamento  técnico sobre as melhores práticas agrícolas, enquanto outras 800 terão assistência do Grupo Carrinho.

Esses são dados da presente campanha agrícola, para qual são aguardados mais de 97 toneladas, entre adubos compostos  e amônio.

O director da agricultura no Libolo olha para os resultados das últimas safras e diz que, contrariamente, a impressão geral de quem circula pela Estrada Nacional numero 120, o vizinho Município da Quibala tem vindo, progressivamente, a perder espaço para Libolo em produtos agrícolas, algo que trás "reponsansabilidades acrescidas”.

"O quadro tem vindo inverteu-se de algum tempo a esta parte. Produtos, como batata-doce, mandioca, amendoim, feijão, banana e outros revendidos no mercado da Quibala são adquiridos no Libolo", gaba-se Barroso Saizama, que espera ainda por crescentes remessas com a melhoria das vias de comunicação para os campos agrícolas.

Além da abundância de chuvas, ele destaca a vasta rede hídrica, com rios como o  Cuanza, Luhwa e Quizaca, ao Norte, Futy, Luinga e Mbuiza (Leste), bem como o Longa, Luaty, Muconga e Muxixe, mais para no Sul.

"Todo esse potencial dá-nos a garantia de podermos ambicionar o estatuto de uma mais maiores agrícolas",  sublinha.


Um mundo de propriedades agricolas

No Quirianga, também estivemos na propriedade de um jovem, mais conhecido por   "Troia", Francisco Droia, de seu nome. As fotos de Arsénio Bravo, com quem palmilhamos os campos agrícolas do Libolo, não mentem. São vários hectares totalmente verdes  de repolho. Pelo meio, fica a produção da mandioca, nessa propriedade, num das baixas de terreno dessa propriedade que faz fronteira com a localidade da Xixila.

A Xixila deve ser destacada, por ser pioneira na implementação de culturas como videira, que permitiu a montagem de uma industrial para a produção de mesa - passe a publicidade, bem como de olival, para a produção de azeitonas e seus derivados.

Além de Francisco Droia, na linha do Luaty, para quem segue para a Quibala, vímos, também, as propriedades de Pascoal Raul, Domingos Caliombo, Alberto Benjamim e Inocêncio Dianchin e, à ilharga, as fazendas de António Manuel Domingos, "Diwé" e da "Tia - Ká", uma conhecida empresária de Calulo, que também investe na hotelaria.

Todas a produzirem, mas tendo, como traço comum, as dificuldades das vias de comunicação, algo que se reflecte na capacidade de escoamento para os principais centros de consumo.

Esse é o quadro que se repete nas áreas de Umba, Quimguba e Longolo, por exemplo. Mas o que não falta é gente empenhada em trabalhar no campo, apesar de tudo. É muita gente nos campos agrícolas, nessa altura de grandes enxurradas.

Assim também é no Kiundo, próximo de Calulo, antes de alcançarmos o Quissongo, com uma paragem na fazenda Weza Montez, na Paca, no Quirianga.


Fazendas apostam na produção de frutas tropicais no Quissongo

O Libolo é, hoje, uma incontornável referência frutícola, pelo projecto  que está a ser desenvolvido na Fazenda Canduma e, também, para a Cleomas, outro investidor de grande dimensão no Cuanza Sul.

Mais para Norte, em direcção a comuna do Quessongo, está aquela que pode ser considerada como  uma das unidades agrícolas de referência na região do Libolo. Em concreto, está-se, aqui, a falar da Fazenda Canduma, no Cambau, propriedade de origem familiar, criada há sessenta e sete anos por Manuel Teixeira da Cunha, cujo dono é o seu filho, o conhecido empresário Carlos Cunha.

Escalámos o empreendimento agrícola, que se destaca, quer pela dimensão, como pela quantidade de fruteiras a perder de vista. Estão numa fase de conclusão mais de 500 hectares de diversas frutas tropicais, igual espaço e já com investimentos assumidos, no seguimento a estratégia para o seu alargamento.

No local, está, com efeito, uma elevada concentração de equipamentos técnicos, como tubagem para a rega, máquinas, entre outros meios logísticos.

Do seu gerente, Marcos Lima dos Santos,   apurámos alguns números "interessantes”, a traduzir a imponência do empreendimento: inicialmente com 15 hectares, só a produção de maracujá vai chegar aos cerca de 150 hectares. "Um volume de produção muito significativo”, diz Marcos dos Santos.

Além do ananás, na Candumba a aposta está nos citrinos, abacate, manga,que vão ser desenvolvidas  nas primeira e segunda  fases.

O abacate vai ter a maior área, com cer a de 300 hectares, no final.  

À nossa insistência, a partir de Luanda, o proprietário da fazenda tratou de explicar parte dos projectos.

"A Fazenda Canduma é a maior unidade de fruta tropical em Angola e uma das maiores de África", gaba-se o seu proprietário, acrescenta que a  produzir em velocidade de cruzeiro, pode chegar às  cerca de 24 a 30 mil toneladas de fruta natural, numa altura em que a produção actual andará a volta das 800 toneladas, subindo para 12 mil daqui há três anos, como diz Carlos Cunha.

Uma parte da fruta será transformada em polpa e sumos, havendo já obras para a futura unidade industrial dentro da fazenda. Além do mercado interno, outra terá como destino a exportação, clarificou o empresário.

 
Investimentos contínuos

Ainda por apurar, o investimento na Canduma pode chegar, no final, aos 10 mil milhões de kwanzas, sendo que só as unidades de transformação da fruta vão consumir 300 milhões de kwanzas, segundo Carlos Cunha.

Referiu que, dos investimentos em curso, setenta por cento são recursos próprios e os restantes trinta da banca, não quantificáveis nesta altura.

Esse empresário, que também  investe no sector  Hoteleiro, garante 200 empregos directos, número que  poderá ascender aos 350, entre técnicos médios e superiores, administrativos, operadores de máquinas, motoristas e  pessoal da rega.

Mais claro, avança alguns números: "Estão preparados mais de 1.500 hectares para a produção de café, sendo 500 já irrigados de café arábica e 1000 em sequeiro de robusta, com a sombreamento de palmar".

O empresário destaca o apoio institucional do Ministério da Agricultura e Florestas, em áreas como licenciamentos,  certificações e técnicos e assume que um dos principais  constrangimentos são recursos financeiros, embora reconheça um "grande esforço do Banco de  Desenvolvimento de Angola" no apoio ao empresariado.

Responsabilidade social

Alcança-se Fazenda Candumba, desde a comuna do Quissongo por uma via completamente terraplanada, em linha com as preocupações ligadas à responsabilidade social dessa unidade agrícola. "Outros acessos também foram  melhorados, com recursos próprios", explica Carlos Cunha, que  realça as preocupações com a melhoria das vias de comunicação no Libolo.

"A via de acesso a sede do municipal é, na verdade, preocupante, mas sabemos que está a ser reabilitada", ressalta.

E é também a olhar para a responsabilidade social, que os trabalhadores são levados em veículos , recuperados das transportadoras, enquanto no interior da unidade agrícola foi criada uma loja rural, completamente informatizada e inserida no sistema do IVA.

Às comunidades circunvizinhas , a loja produtos, a preços especiais e para os  trablhadores da fazenda à crédito , o que é uma inovação.

"A partir de Janeiro próximo, a Fazenda ficará ligada ao sistema de informação Isagri, que permite uma gestão acompanhada em on line", garante Carlos Cunha.

As aldeias  próximas dessa unidade agrícola estão electrificadas, a partir de geradores da fazenda, que, simultaneamente investiu,  num furo artesiano, como alternativa para a captação de água subterránea.

Vímos dezenas de populares com recipientes a abastecerem desse furon dentro da fazenda.

O sol já se punha no horizonte, quando passámos pela Cleomas, unidade com mais de 700 hectares, que criada na década de 90 do século passado para a produção de café, tem também como "core" a produção, em larga escala, de frutas de diversos tipos, sobretudo citrinos, colocando-a numa referência no mercado nacional.

Ponto e vírgula na primeira parte, às unidades do Libolo. Fómos, depois, à Fazenda Cabuta, que com mais de 2.000 hectares é tão "só” a líder da produção de café na região do Cuanza Sul, dando trabalho a mais de 400 pessoas pessoas, algo muito valorizado, numa região onde os níveis de desemprego são particularmenmte elevados.

Na localidade de Candumbo, na comuna do Quissongo, outro destino, nessa incursão pelas unidades agrícolas do Libolo, vímos uma   extensão de produção de palmar, mandioca, café, banana, milho e frutas diversas.

Para não variar, as mesmas queixas: reparação das vias de comunicação e apoio financeiro, para o aumento da produção.

Esses produtores não precisam de grandes somas de dinheiro, para trabalhar, mas o essencial, mas essencial que permita a aquisição de adubos diversos, amônio e insttrumentos de trabalho.

Essa é a opinião que muitos agricultores organizados  em associações ou cooperativas, com que pudemos comversar no Libolo.

Mas a administrador Muncipal do Libolo, Rui Miguel, cuja  entrevista encerra a série de reportagens numa das mais prósperas regiões agrícolas do Cuanza Sul diz que o Governo está a desenvolver um programa ambicioso, para inverter o quadro.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Reportagem