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A tradicional venda de morango na cidade do Huambo é uma prática antiga exercida por mulheres, que se encarregam de comprar os produtos nas zonas de cultivo e das mãos dos maiores produtores da província, localizados no Bairro da Santa Teresa, sector Bandeira, Benfica, arredores da cidade do Huambo. Luanda, a capital do país, é apontada como o maior mercado de consumo.
A actual geração de camponeses continua com a tradição de cultivar a fruta. Todos os dias, pela manhã e tarde, centenas de jovens com bacias à cabeça saem do bairro em direcção à cidade, para comercializar o morango.
Nesta época do ano faz-se a colheita da fruta. Por isso, regista-se maior concentração das vendedeiras nas paragens para Luanda e Lobito, do bar Kimbu, no Benfica, no mercado municipal da Cidade Baixa e junto ao posto de abastecimento de combustível da Pumangol de Santa Teresa, onde o produto é permanentemente vendido.
Angelina Kassinda diz que todos os dias recebe grandes quantidades de morango e despacha para a capital do país, onde é vendido pela sua irmã, que, por sua vez, faz encomendas para os seus clientes. Cada cestinho é comercializado no valor de 1000 ou 1500 kwanzas. "Para ser conservado durante a viagem, os pequenos cestos devem ser montados numa bacia e com muito jeito. Há banheiras que levam 50 e outras 100 cestos bem arrumados”, explicou
Informou que grande parte do morango é vendido no Mercado do Km-30, em Viana, para ser despachado o mais rápido possível, porque se houver morosidade pode deteriorar-se e resultar em prejuízo. "Nós compramos os morangos nas lavras dos produtores, no valor de 200 kwanzas o cestinho. Na cidade do Huambo é vendido a 350 kwanzas, mas prefiro vender em Luanda porque há muita procura e o lucro é maior”, disse.
Angelina Kassinda considera a venda do morango como um negócio rentável, uma vez que consegue sustentar a família com esta actividade. Assegura que muitas vezes compra mais de 600 cestinhos que em Luanda são vendidos em apenas dois dias.
A tradição da fruta na aldeia de Kapolo
José Caterpilar, de 76 anos, lembra que o primeiro produtor do morango na região foi o irmão do seu pai, Gabriel Candeeiro, que, antes da década de 50, começou a cultivar as primeiras plantações da fruta e ninguém consegue explicar onde ele adquiriu a semente naquela época. Aos poucos, o cultivo do morango tornou-se extensivo a toda a comunidade, cujas lavras são sustentadas por uma grande vala de água, de um metro e meio de largura e um de profundidade, que percorre perto de oito quilómetros, saíndo do rio Lundulwa, escavada em 1935, pelos primeiros habitantes da aldeia. Este canal continua a ser o maior vector de irrigação dos terrenos férteis do Kapolo e sustenta cerca de 480 lavras de famílias camponesas.
Com a guerra civil, conta José Caterpilar, as sementes foram abandonadas na aldeia e os camponeses quase perderam a tradição do cultivo do morango, mas aos poucos retomaram a produção da fruta com o alcance da paz.
Produtores
Os maiores produtores do morango nos campos do Kapolo partilham experiências e histórias, onde a preferência recai no cultivo desta fruta, por ser mais rentável em relação aos outros produtos.
Hilário Kapolo, de 60 anos, disse que cultiva o morango num terreno de três hectares desde adolescente. Diz que a planta desta fruta requer muito cuidado.
O ciclo de plantação começa no mês de Outubro, assim que se manifestam as primeiras chuvas. Começam a dar as primeiras frutas sete meses depois, isto é, a partir de Maio/Junho, prolongando a época da colheita até Setembro.
Para se chegar a umaboa colheita, a planta requer assistência com adubo e sacha constante, para que o capim não invada a lavra durante a época chuvosa.
Para se conseguir a semente do morango, segundo Hilário Kapolo, é muito fácil. Uma só planta pode reproduzir dezenas de mudas, na medida em que quando ela se vai abrindo, devem retirar-se as sementes para transplantar e estender a área de cultivo.
Uma planta de morango tem aproximadamente 30 centímetros de altura, com um período de produção ininterrupta de cinco anos, findos os quais começam a dar fruto sem qualidade e por fim definha.
Processo de irrigação
Hilário Kapolo diz que dentro dos cuidados a ter com o morangueiro, durante o processo de irrigação, a planta não pode ser molhada na folhagem, porque retarda florir e o método de embeber a água deve ser feito a partir das raízes. "É por isso que no tempo chuvoso não pode florir e produzir. As folhas necessitam do sol. Nesta época da colheita, as vendedeiras ocupam as lavras e compram a fruta na zona de produção, um cestinho com morango de quase meio quilograma custa 200 kwanzas”, informou. Os camponeses compram os cestos das mãos dos artesãos locais, no valor de 500 kwanzas por cada 50 unidades.
Não existe uma estatística de quantas toneladas são produzidas anualmente, mas o que se sabe é que muito morango que está a ser produzido na cidade do Huambo tem como destinos Luanda, Benguela e outros pontos do país.
Frederica Nana, outra produtora, conta que existem vendedoras que dominam o negócio e são clientes antigas das áreas de cultivo. Quando a fruta fica madura, negociam com os proprietários e fazem a compra na lavra, porque têm já clientes dentro e fora da província. "Por isso, cultivamos esta fruta como uma forma de diversificar a produção e conseguir um dinheiro rápido, porque na época da colheita, em cada talhão, se pode colher uma vez por semana o morango. Ou seja, os camponeses intercalam semanalmente os canteiros, para permitir o seu amadurecimento”, explicou.
Um outro produtor, Agostinho Tchipa, de 77 anos, exerce esta actividade desde o ano de 1961. Disse que a sua geração conseguiu transmitir o legado aos jovens, por estarem a cultivar também a fruta. "Esta actividade está a sustentar muitas famílias, porque o produtor vende no campo a um cliente, este por sua vez despacha para a vendedeira da cidade ou ao despachante para outras províncias, principalmente as do litoral. Trata-se de uma cadeia de um pequeno e lucrativo negócio”, sublinhou.
Explicou que no momento de regar é preciso os camponeses estarem organizados. Cada um tem duas a três horas e de seguida entrega a outro, para que todos tenham a oportunidade de molhar as suas plantas, pois não há água suficiente para se fazer a rega em simultâneo. Daí o grito de socorro dos camponeses para a obtenção de uma motobomba para se tirar a água do rio Lundulwa com facilidade.
Camponeses querem apoios com fertilizantes
Uma das principais dificuldades dos camponeses é a falta de adubos, uma vez que o saco de 50 quilogramas custa mais de 30 mil kwanzas, preço que está acima das suas capacidades. Na impossibilidade de se conseguir comprar um saco, muitos adquirem em pequenas quantidades, para garantir a colheita.
"Caso seja um ano de sorte, conseguimos com os lucros do morango sustentar a família e comprar material escolar das crianças”, afirmou.
Frederica Nana diz que os seus solos de cultivo estão cansados e sem adubo não há garantia de colheitas. Para tal, é preciso ter os fertilizantes a tempo inteiro, porque de nada vale regar todos os dias sem fertilizar o terreno.
A produção de morango no Huambo é feita por pequenos agricultores que trabalham em pequenos campos de um ou dois hectares, garantindo a presença desta fruta na mesa de muitos angolanos. Não existem fazendas a produzir a fruta em grande escala.
Os produtores de morango clamam por apoios do Estado no fornecimento de fertilizantes, para garantir maior produção.
A agricultora pediu igualmente às grandes superfícies comerciais da província do Huambo e de outros pontos do país para incluir nos seus planos a compra desta fruta das mãos dos camponeses, para que tenham a oportunidade de fazer crescer o espaço de cultivo e atingir maior escala de produção. "Se eles abrirem as suas mãos aos camponeses, poderão ajudar esta classe na realização dos seus projectos agrícolas e tornar a província uma das principais produtoras do morango no país, pois nas nossas lavras saem muitas frutas” manifestou.
Identificação
Frederica Nana manifestou a perícia de ser boa conhecedora da temática sobre o cultivo do morango, a ponto de chamar pelo nome todas as espécies por ela cultivadas. Assim os camponeses da localidade de Santa Teresa cultivam os morangos tchinguelesi (inglês), Adriano, Socópia e Chinguar.
Depois de tantas interrogações sobre os referidos nomes, o Jornal de Angola apurou que tudo tem a ver com a proveniência de cada tipo de morango, onde o tchinguelesi (inglês) tem a origem na Inglaterra, já Adriano e Socópia são nomes das pessoas que trouxeram tais sementes na região, enquanto o Chinguar é uma semente proveniente do município com o mesmo nome, província do Bié.
Das diversas sementes usadas pelos camponeses, estas famílias camponesas, a de origem do Chinguar acaba por ser a mais usada, porque produz melhor, com tamanho maior e garante maior rentabilidade, apesar de serem todos saborosos.
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