Reportagem

Camponeses da Funda Kilunda prometem boa safra no novo Ano Agrícola

Ana Paulo

Jornalista

Na comuna da Funda Kilunda, no município de Cacuaco, em Luanda, a agricultura familiar tem registado um crescimento positivo fruto da dinamização e esforços gizados pelos camponeses filiados na Confederação das Associações de Camponeses e Cooperativas Agro-Pecuárias de Angola (UNACA), incluindo as famílias camponesas não inscritas em nenhuma associação e cooperativa.

29/09/2023  Última atualização 07H30
A cooperativa “Seteka” está entre as mais destacadas na cintura verde do município de Cacuaco © Fotografia por: Luis Damião | Edições Novembro
Embora os camponeses estejam a atravessar ainda alguns constrangimentos, com realce aos insumos agrícolas e financiamento para o melhor desenvolver a actividade produtiva, existem cooperativas e produtores que tudo fazem a fim de aumentar as colheitas ano após ano.

É o caso da cooperativa "Seteka”, filiada na UNACA de Luanda, que anualmente regista uma produção entre 70 e 80 toneladas de vários produtos.

Das colheitas, destaca-se a cebola branca e roxa, batata, tomate, feijão, milho, berinjela, quiabos, gindungo, couve, alface, pepino, cenoura, repolho, entre outras culturas.

 Estes produtos são escoados para os mercados do Sabadão, KM 30 e do Catinton.

A cooperativa, localizada na comuna da Funda Kilunda, está rodeada de outras fazendas e lavras de pequena e grande dimensão atribuídas  aos camponeses, no âmbito do combate à fome e à pobreza.

Actualmente, a  cooperativa Seteka é composta por 74 membros, entre 22 mulheres e 52 homens, que detêm 800 hectares de terra, dos quais 750 de área já cultivada e as restantes 50 por cultivar.

Extensão de terras

Para constatar o dia-a-dia dos camponeses, o Jornal de Economia & Finanças visitou  a cooperativa Seteka, onde verificou grandes extensões de terras cultivadas, algumas em fase de colheita e outras ainda em germinação para o próximo Ano Agrícola 2023-2024.

No local, o secretário-geral da cooperativa Seteka, Marcial de Oliveira, disse  que há épocas em que a safra ultrapassa as 100 toneladas.

O produtor avançou que os camponeses colhem duas a três vezes por ano, por existir culturas que duram apenas 45 a 65 dias de crescimento.

Quanto à distribuição de terras, Marcial de Oliveira explicou que  nos 800 hectares, cada família camponesa filiada na UNACA beneficia de 5 a 12 hectares  de terra, e outras de dois a um hectare e meio.

Falta de financiamento

Um dos grandes constrangimentos que dificulta o aumento da produção tem a ver com a falta de financiamento, já que, até agora, a cooperativa ainda não tem tractor  próprio para ajudar a desbravar a terra.

Para esta actividade, o nosso interlocutor disse que o processo é feito manualmente, e às vezes recorrem no aluguer de um tractor.

O preço varia de 25 a 35 mil kwanzas, sem a charrua, e com este instrumento, o custo atinge até aos 35 mil kwanzas.

A cooperativa  Seteka está a beneficiar dos instrumentos financeiros disponibilizados pelo Governo para acelerar a actividade agrícola, mas, ainda assim, apela a mais apoios.

Previsão para Ano agrícola 2023-2024

Os membros da cooperativa  Seteka têm estado a trabalhar para que no próximo Ano Agrícola, os indicadores de produção possam atingir bons resultados.

Para a próxima época, a organização prevê apostar em culturas com ciclo curto de germinação, como é o caso da cebola, milho, pimento, gindungo e pepino.

O processo de rega das terras da cooperativa é feito por motobombas que extraem do rio que banha a região, cuja água é bombeada para as lavras.

Para o sucesso do Novo Ano Agrícola, a cooperativa Seteka precisa de apoio, sobretudo de fertilizantes, sementeiras, incluindo crédito que já não beneficia desde 2012.

Entre 2009 e 2012, a cooperativa Seteka beneficiou de crédito disponibilizado pelo BAI Micro Finanças.

"A primeira vez recebemos um crédito de 7 mil dólares, e o segundo foi de 50 mil”, frisou Marcial de Oliveira, tendo realçado que até agora "nunca mais beneficiou de nenhum incentivo financeiro”.

Serviço de fiscalização

O chefe da fiscalização da cooperativa Seteka, André António, disse que a organização tem desenvolvido acções para o controlo dos insumos postos à disposição dos associados.

A fiscalização tem sido mais rígida com os camponeses que recebem adubos ou sementes, mas que por alguma razão não utilizam e acabam por armazenar nas suas residências.

Nestes casos, a cooperativa tem sensibilizado os membros a usarem os insumos para contribuir no aumento da safra.

 Produção

André António é também proprietário de 10 hectares de terra, parcela que lhe foi atribuída pela cooperativa  onde cultivou  tomate, cebola, gindungo, couve, cenoura entre outros produtos.

Na sua parcela, André António tem registado grandes colheitas. Às vezes, colhe duas vezes por ano, principalmente o tomate, que depois de 65 dias de plantado está pronto para a colheita.

O mesmo processo acontece com a cebola de folha, que regista uma grande procura. Já a cebola seca (sem folha),  a época de colheita é de Dezembro a  Janeiro.

"As vendedoras procuram mais por cebola de folha porque tem mais saída no mercado”, frisou André António.

Hortaliças têm muita procura

Raimundo António é um dos filiados da cooperativa que se dedica à produção de cebola e tomate. Na zona da Funda Kilunda, o camponês está há mais de 20 anos, e é detentor de 1,5 hectare de terra, onde já plantou cebola de folha, em fase já de colheita.

O produto conseguiu alavancar o seu cultivo graças ao "Projecto Cultura” que ajudou os camponeses com insumos.

Raimundo António  produz a cebola de folha nos meses de Maio, Junho e Julho, e colhe de Agosto a Outubro. O tomate é colhido duas vezes por ano.

"Vendemos caro alguns produtos porque também compramos a preço elevado o combustível com que abastecemos o gerador para podermos ter água nas lavras”, frisou Raimundo António.

  Agricultores preocupados com fraco financiamento

Cerca de 15 cooperativas agro-pecuárias da província de Luanda beneficiaram de um financiamento avaliado em 15 milhões de Kwanzas cocedido pelo Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) e o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrário (FADA).

O presidente da Direcção executiva da UNACA, na província de Luanda, José dos Santos, considera o valor insuficiente para "diminuir” os constrangimentos que os associados enfrentam, aliado, ao elevado número de membros.

A UNACA na província de Luanda controla 64 cooperativas e 21 associações de camponeses, que perfazem um total de 85 organizações de camponeses.

"Existem cooperativas com 65 membros, e que,  quando é distribuído três carro-de-mão, 23 catanas, 18 enxadas, por exemplo, não chega. Gostaríamos que o Executivo angolano e as administrações municipais melhorassem o processo de distribuição dos insumos, o que vai ajudar a contribuir no crescimento da classe”, frisou.

Baixa produção

O responsável disse que no primeiro trimestre do Ano Agrícola 2021/2022, os níveis de produção registaram uma redução, no segundo, houve uma colheita considerável, tendo atingido 9 mil toneladas de produtos diversos.

Os baixos níveis de produção, no primeiro trimestre, foram provocados pelas cheias e inundações causadas pelo rio Kwanza, fruto da abertura das comportas dos aproveitamentos hidroeléctricos de Laúca e Cambambe.

José dos Santos disse que parte dos filiados ainda não conseguiu recuperar a produção, já que muitos camponeses desenvolvem a sua actividade no Corredor do Kwanza, no município do Icolo Bengo, Quissama, Viana, Cacuaco, e na zona do rio Zenza.

  Fruta atrai clientes nas ruas de Cacuaco

Nas ruas de Cacuaco até chegar à Funda Kilunda, as vendedoras de frutas mostram as potencialidades e variedades que o chão produz.

A via principal tem no seu percurso comerciantes de banana, melancia, laranja, abacate e limão.

O mercado do Sabadão é também, um grande ponto de concertação de venda de frutas. A fruta comercializada tem várias origens, desde a Funda Kilunda, Cabiri, Caxito (Bengo), Kindege (Zaire), Huambo, entre outras províncias.

Juliana Mário é vendedora no mercado do Sabadão há 20 anos. A comerciante compra na Funda Kilunda entre três a quatro cachos de banana, por 500 a 1.000 kwanzas.

A revendedora comercializa cada cacho a mil e os mais pequenos a 500 kwanzas.

Outra fruta de destaque no mercado do Sabadão é a melancia de casca verde escura, e as denominadas pelas vendeiras de melancia de risca, proveniente do Bengo e de outras regiões do país. 

Novo asfalto facilita escoamento da colheita

Além do verde do cultivo que a Funda Kilunda dispõe, uma das imagens e paisagens que a comuna mostra é a facilitação na circulação de pessoas e bens. Hoje, o processo dá um novo visual à localidade, depois da reabilitação da via principal por parte do Governo.

O escoamento da produção é mais rápido. Antigamente, os camponeses tinham de gastar avultadas somas em dinheiro para o frete, que rondava entre 50 e 100 mil kwanzas, dependendo da quantidade do produto e  da distância.

Nos rostos dos munícipes da Funda Vila e Funda Kilunda nota-se a alegria. Os camponeses, vendedores, taxistas, mototaxistas , automobilistas e peões circulam com mais fluidez. Contactados, alguns transeuntes afirmam que um dos grandes ganhos da comuna é o fim do principal  constrangimento.

Com a má qualidade das vias, não conseguiam chegar às suas lavras, ficando mesmo mais de uma semana, e quando conseguissem lá chegar, eram obrigados a permanecer duas a três semanas, porque os táxis circulam com muita dificuldade.

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