Reportagem

Chongoroi: paragem obrigatória dos camionistas que circulam na Estrada Nacional 105

Arão Martins / Benguela

Jornalista

Fundado a 1 de Setembro de 1971, o município do Chongoroi é terra abundante de majestosos embondeiros, sendo um dos mais interessantes postais de boas vindas que ladeiam a ligação rodoviária para a localidade.

15/09/2023  Última atualização 11H32
© Fotografia por: Edições Novembro | Lunda-Norte

A urbe goza do privilégio de estabelecer a ligação, pela Estrada Nacional 105, com a importante ponte sobre o rio Cutembo, que limita Benguela com as vizinhas províncias da Huíla e Cunene, garantindo comodidade e segurança para o transporte de pessoas e bens.

É indeterminável o número de viaturas oriundas da Região Sul do país, incluindo dos países da SADC, designadamente África do Sul e Namíbia, que circulam diariamente naquele traçado e que têm a sede municipal do Chongoroi (150 quilómetros da cidade de Benguela), como paragem obrigatória.

Atraídos, maioritariamente, pelo churrasco feito por um grupo de mulheres simpáticas, automobilistas encontram, no pátio do mercado de Camana, o local de descanso.

O automobilista Fred Caurivi, natural de Windhoek, Namíbia, circula na Estrada Nacional 105 há vários anos. É transportador de mercadorias diversas. Conhece bem as cidades de Ondjiva (Cunene), Lubango (Huíla), Benguela, Sumbe (Cuanza-Sul) e Luanda, mas tem o Chongoroi no coração.

Reconhece que parte do português que fala aprendeu no mercado informal de Chongoroi, onde pára obrigatoriamente para adquirir churrasco e um refresco, depois de vários quilómetros de viagem. Lamenta a falta de uma unidade hoteleira naquela municipalidade, que considera um dos maiores constrangimentos para quem transita pelo município.

Altamente irrigado por diferentes cursos de água que influenciam na sua característica verde e o levam a aspirar a consumação do potencial agrícola de culturas como o milho, massambala, batata, mandioca, algodão girassol e outros, o Chongorói tem um clima variado. Além disso, tem influências desérticas da zona Oeste e vegetação farta mais a Leste, clima tropical seco, com precipitação média anual satisfatória, apropriado para a prática agrícola em escala.

O Chongoroi vale-se, para além dos imponentes embondeiros, de pontos de interesse turístico como as Quedas do rio Coporolo e o Parque Regional do Chongoroi, abrigo de uma variedade incrível de fauna selvagem de grande e pequeno porte.

A agricultura e a pecuária são consideradas como principais actividades, cultivando-se o milho, massambala, massango, ginguba, batata, banana, laranja, limão, tangerina, entre outros. Cria-se gado bovino, caprino, ovino, suíno, avicultura e apicultura.

Agricultores empenhados

Graciano Kukui, 59 anos, é produtor de cana-de-açúcar na aldeia de Etutu, comuna da Capupa, município de Chongoroi. Diz que produz cana num espaço de 2,5 hectares e o produto é bastante procurado, quer na sua localidade como na sede do município.

Aponta, contudo, o mau estado da via de acesso como principal constrangimento.

 "A estrada está mal e não facilita no escoamento da produção. Temos muita produção, o que custa é o escoamento”, disse, apontando que, para além da cana, produz, também, laranja, manga e tangerina.

Graciano Kukui explicou que por causa das más condições da via, tem tido prejuízos de 4 a 5 toneladas de produtos que se estragam no campo.

Cada pau de cana-de-açúcar é vendido a 100 kwanzas na sua aldeia, diferente da vila de Chongoroi onde o preço varia de 250 a 300 kwanzas. 

"Na aldeia, os clientes aparecem com dificuldade por causa da estrada. Por insuficiência de meios de transporte recorremos às famosas motorizadas Kaleluia. Não corresponde”, lamentou.

Benjamim Caluvi é conhecido como agricultor de referência na localidade do Cavingiriti. Produz, em grande escala, hortofrutícolas, com destaque para o tomate, milho e feijão.

Garantiu que os níveis de produção no Cavingiriti são aceitáveis, apesar de ter lamentado a ocorrência de pragas, que afectam, sobretudo, o tomate e a massambala.

"Podemos considerar que a área é endêmica, por isso, vários produtores abandonaram a área, sobretudo, aqueles que gostam de produzir tomate, por causa da famosa tuta”, disse. 

Os conselhos dos técnicos da direcção provincial da Agricultura têm minimizado as perdas. Ainda assim, acrescentou, tem havido épocas com tendência de perda total da produção.

Sobre o escoamento, a fonte disse que a dificuldade começa nas vias de acesso. "As vias não estão boas, mas as viaturas passam mesmo assim e escoam-se os produtos do campo para a cidade e vice-versa. Sobretudo, os camponeses que contam com a ajuda dos novos camiões distribuídos pelo Governo, para dinamizar o escoamento da produção. Na medida do possível, tem se escoando a produção para os centros de consumo, sobretudo Benguela”, sublinhou.

As preocupações, explicou, têm sido apresentadas à Administração Municipal do Chongoroi e há promessas de melhorias. "Vamos esperar e estamos certos que melhores tempos virão”, referiu.

O agricultor reconheceu que o município tem feito aquilo que está ao seu alcance, mas há custos que estão aquém das suas competências. Afirmou que o município de Chongoroi tem tudo para dar certo, quer na Agricultura, Pecuária e outros sectores.

Crescimento orgulha todos

Chongoroi comemorou, a 1 de Setembro, 52 anos desde que a localidade ascendeu à categoria de município.

Para o soba da localidade da Vinama, Paulo Munjanga, Chongoroi está a crescer. "O Chongoroi está a crescer. Já temos escolas e postos médicos onde nunca houve antes”, disse, apontando a recuperação do tecido social como um dos principais ganhos.

Defendeu a reabilitação da via que dá acesso às localidades de Cui e Cavingiriti, que têm muita produção, que não tem sido escoada por causa das más condições da via.

Paulo Munjanga indicou, igualmente, a via do Malongo, que dá acesso à Vaiva, que também precisa de uma intervenção, o que vai contribuir na redução dos preços dos produtos do campo.

Manifestou-se preocupado com casos de roubo de cabritos, tendo enaltecido o empenho da população que está a colaborar com a polícia na denúncia de tais práticas.

Jeremias Dumbo, antigo administrador municipal do Caimbambo, município vizinho do Chongoroi, enalteceu os avanços registados em vários domínios.

O também antigo deputado à Assembleia Nacional lembra que, em 1976, foram nomeados os primeiros comissários(antiga designação de administrador) municipais para Benguela, com excepção de Lobito e Chongoroi, o que veio a ocorrer apenas um anos depois. 

"Como Caimbambo fica perto do Chongoroi, algumas questões de polícia e educação eram prestadas por nós, por ausência de um comissário local”, disse, salientando que, comparando com o passado, houve avanços substanciais.

 Nos primeiros anos da independência, lembrou, o Chongoroi só tinha uma dúzia de casas. "Não havia polícia e no sector da Educação o ensino não ia para além da 4ª Classe”, disse.

Em 1978, recorda, foram construídas as primeiras casas sociais, incluindo o antigo hospital.

Referiu que na rua que dá acesso ao antigo hospital havia uma pista de aviação. Considerou o crescimento actual enorme, porque a urbe já está asfaltada, beneficiou de novas escolas e hospitais, um sinal mais que evidente de crescimento. "É este rumo que os municípios precisam de ter”, notou.

 "Temos que crescer, desenvolver e a educação é o factor primordial”, indicou, acrescentando que os municípios têm que produzir os seus próprios quadros. Para que tal aconteça, sublinhou, as escolas têm que ir ao encontro das populações nas comunas e municípios.

"Há projectos do Governo que nos dão esperança de que tudo vai ser concretizado”, disse, alertando os jovens sobre a importância da formação.

"Para termos coisas na vida temos que nos preparar. A juventude tem que estudar, tem que se formar para amanhã ter funções que lhes permitam crescer e desenvolver na vida”, notou.

Referiu ainda que os jovens devem ser empreendedores, considerando ser "impossível esperar que o Governo dê emprego a todos”. "É preciso termos uma juventude empreendedora que começa a criar as suas empresas e a empregar outros jovens”, aconselhou.

Projectos e programas do Governo

O administrador municipal de Chongoroi, Ernesto Pinto, disse que, 52 anos depois, a sede municipal regista um crescimento e benefícios ímpares no campo económico e social, fruto de vários empreendimentos construídos no âmbito dos projectos e programas do Governo.

Dentre os benefícios, Ernesto Pinto destacou a construção da ponte sobre o rio Cutembo, que proporciona uma circulação rodoviária mais segura.

Referiu, também, a ponte sobre o rio Hanja, que vai proporcionar melhores condições na circulação de pessoas e bens e dinamizar as trocas comerciais entre o campo e a cidade, permitindo mitigar as dificuldades das populações.

Falando concretamente das obras, o administrador referiu que o Chongoroi vai ganhar, nos próximos dias, novas infra-estruturas sociais, que vão orgulhar as populações.

Está prevista a construção de mais escolas de sete salas na comuna de Camuine, Bulonguera e na sede municipal do Chongoroi, além da reabilitação do Colégio Benguela 9016.

Segundo o administrador, o município do Chongoroi conta com 55 escolas do ensino primário e 13 do ensino secundário, com um total de 34.454 alunos no ano lectivo 2023/2024.

Apesar disso, disse, 5.300 crianças estão, ainda, fora do sistema de ensino. Mas garantiu que a situação vai ser resolvida paulatinamente.

 
Nova ponte dinamiza trocas comerciais

Uma nova ponte em construção sobre o rio Hanja vai dinamizar as trocas comerciais entre a cidade e o campo. O administrador municipal do Chongoroi, Ernesto Pinto, disse que a ponte vai facilitar o acesso à Bolongueira, uma zona potencialmente agro-pecuária.

No âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), o município de Chongoroi ganhou um hospital municipal construído de raiz, totalmente equipado.

Segundo Ernesto Pinto, o sector da Saúde conta com três centros de saúde, dos quais um materno-infantil e 19 postos de saúde.

Os maiores desafios do município, segundo o administrador de Chongoroi, estão no sector da Energia eléctrica e reabilitação das vias de acesso.


Município sem sala de julgamentos

O delegado provincial da Justiça e dos Direitos Humanos de Benguela, Celdo Donvala, defendeu a instalação de uma sala de audiências no município de Chongoroi.

Celdo Donvala, que discursou, em representação do governador provincial de Benguela, Luís Nunes, no acto que marcou as celebrações dos 52 anos desde que Chongoroi ascendeu à categoria de município, disse que o objectivo é julgar os autores de ilícitos criminais localmente.

Explicou que, actualmente, os cidadãos envolvidos em crimes no município do Chongoroi são julgados no Tribunal do Cubal. "Ao se julgar os prevaricadores no município, também, vai servir de prevenção geral para que outros cidadãos não cometam os mesmos crimes”, adiantou.

"Precisamos que os cidadãos sintam as consequências desses crimes, sobretudo quando são punidos aos olhos da população local, porque sendo sentenciados numa localidade diferente onde cometeram o crime, o povo não toma conhecimento da sanção ou da consequência do acto ilícito cometido”, disse.

Para que tal se efective, disse, vai se falar com a juíza presidente da Comarca do Cubal para que, junto com a Administração Municipal de Chongoroi, possam trabalhar para a instalação de uma sala de audiências.

Celdo Donvala referiu que a densidade populacional de Chongoroi, estimada em mais de 114 mil habitantes, justifica a colocação de uma sala de audiências no município.


Localização geográfica

O município do Chongoroi situa-se a 150 quilómetros a Sul da cidade de Benguela. Faz fronteira, a Norte, com os municípios de Caimbambo e Cubal, a Sul com Quilengues e a Este com Caluquembe, ambos da Huíla e a Oeste com os municípios da Baía Farta (Benguela) e Camucuio (Namibe). Tem uma densidade populacional estimada em 114.127 habitantes.

Administrativamente possui duas comunas, a saber:  Bolonguera e Camuine, com 11 povoações densamente povoadas, que são Malongo, Cui, Cutembo, Cavinjirite, Hanja, Bunjei, Londanganga, Camuine Baixo, Tchitoco, Vianja e Cavissecua.

Reza a História que os primeiros habitantes daquela região foram os Vakuissi/ Vátua e Koishans. Os mesmos povos estenderam-se para a região de Caimbambo, até Cubal. A actividade principal era a caça e a recoleção de frutos silvestres.

Caçadores provenientes do Norte e Sul instalaram-se paulatinamente no Forte de Caconda Velha, nas margens do rio Coporolo, em 1680. As primeiras embalas eram: Tchilui, Chó, Cui, Lumbili, Vaiva, Bunjei e Tchikelenguendje. As tarefas eram de tratar casos de litígios na comunidade e organizar famílias, cuidar da defesa e segurança da Embala e dos clãs, bem como preservar os rituais, usos e costumes de modo obrigatório para todos, tais como Ekwendje, Naluhongue, Lundongo, efeko e outros.

 

Grupos etnolinguísticos

Os grupos etnolinguísticos de Chongoroi são: Os nhaneka, subdivididos em Tchilengue-humbi e Tchilengue-musso, que ocupam a parte sul e ocidental do município de Chingoroi.

Os vahanha, ocupando a parte leste e norte do município, os vanano, nganguela, kwanhama provenientes do centro, sul e leste do país, devido ao trabalho forçado e contratados, com o surgimento das fazendas agrícolas.

Os povos vivem agrupados num sistema organizado de aldeões, constituído por um patriarca, subdivididos em pequenos quimbos, onde vivem membros da família.

Os povos locais preservam o Otchoto, lugar sagrado e ao mesmo tempo onde se aprende os hábitos e costumes, além do Ondjuvo-yoko-messo ou ossingue – casa sagrada para efeito de cerimônias culturais e óbitos.

O Mbelo ou Tchitenda, onde se trata festa da puberdade (Ekwendje para os do sexo masculino e Efeko, para o sexo feminino que realizam no fim das colheitas de cada ano agrícola, nos meses de Agosto e Setembro) ainda prevalecem.

A poligamia faz parte dos usos e costumes do patriarca, possuindo oficialmente mais de uma mulher. As manifestações culturais são: Mbatukata, Mbulunganga, Tchilumbonde, Ukongo, Naluhongue e Otchinganji. As danças modernas e outras manifestações não menos importantes que predominam são: Otchissumba, Lukungulo e Mbulumbumba.

O historiador e antigo director municipal do Chongoroi, António Ngolo, reconheceu que Chongoroi é um município com pessoas unidas e comungam com todas as etnias.

Sobre os grupos culturais, disse que  existem os Tchulumbondue, Tchinganji e dança Mumuila. É Huíla-Benguela. O povo muila é encontrado, maioritariamente, na região da Bulonguera, que limita com o Namibe.

O historiador enalteceu as iniciativas de massificação cultural. "Penso que estamos num bom caminho”, disse, adiantando que as danças tradicionais mais predominantes são a Tchilumdondue-hanha e Tchilumbo Due Muatchissengue Musso.

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