Coronavírus

Continente africano quer produzir vacinas próprias

África deve passar a produzir vacinas contra a Covid-19, porque está atrasada nos esforços para vacinar 60% dos 1,3 mil milhões de habitantes, defendeu o director do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana.

13/03/2021  Última atualização 12H25
© Fotografia por: DR
Os países africanos estão a receber vacinas através da iniciativa internacional Covax e de produtores de vacinas como a Índia, China e a Rússia, mas são necessários volumes muito maiores de doses para a campanha maciça de inoculação de mais de metade da população do continente, sublinhou John Nkengasong, director da agência especializada da União Africana (Africa CDC).

Pelo menos cinco países africanos parecem ter capacidade para produzir vacinas - África do Sul, Senegal, Tunísia, Marrocos e Egipto -, de acordo com Nkengasong, que falava, quinta-feira, na conferência de imprensa semanal do Africa CDC, em formato digital, a partir da sede da organização em Addis Abeba, Etiópia.

De acordo com o responsável, está prevista para 12 de Abril próximo uma reunião entre a União Africana (UA) e alguns parceiros externos, com o objectivo da criação de um "roteiro” para impulsionar a capacidade africana de produzir vacinas anti-Covid-19.
"É muito importante que consigamos isso”, afirmou.

O director do Africa CDC tem reiterado desde há meses o objectivo fixado pela União Africana (UA) de vacinar 60% da população do continente até ao final deste ano, mas a meta foi agora distendida para um ano mais tarde: até ao final de 2022.
Birgitte Markussen, chefe da representação diplomática da União Europeia junto da União Africana, esteve igualmente presente no "briefing” do Africa CDC, onde garantiu que "serão feitos esforços para apoiar a produção local” de vacinas.

à diplomata dinamarquesa sublinhou que a solidariedade é importante "para a garantia de que ninguém fica para trás” nos esforços globais para travar a pandemia.
Pelo menos 22 dos 55 membros da União Africana receberam vacinas anti-Covid-19, através da iniciativa da Covax, segundo Nkengasong, que viu alguma "luz ao fundo do túnel” com a chegada, nos últimos dias, de remessas de vacinas, que variam entre alguns milhares de doses e milhões, a países como a Nigéria ou o Uganda.

A organização estima que cerca de 600 milhões de doses de vacinas sejam entregues à África, a partir da iniciativa Covax, mas esta tem enfrentado atrasos e dado mostras de limitações nos fornecimentos.
O objectivo da UA é que os seus 55 membros consigam vacinar 20% da população africana com as doses provenientes da Covax até ao final deste ano. Ainda que ambicioso, esta meta deixará, ainda assim, o continente, longe dos pelo menos 60% que os cientistas dizem ser necessários para se atingir a "imunidade de grupo”, quando o número suficiente de pessoas está protegido e impede a propagação de microrganismos infeciosos, promovendo a erradicação da doença.

A plataforma Covax pretende entregar 90 milhões de doses de vacinas no continente africano até final deste mês. Até ao final de Maio, o planeamento prevê a entrega de 237 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca e de 1,2 milhões de doses da vacina Pfizer.

Fundada pela Organização Mundial da Saúde, em parceria com a Vaccine Alliance (Gavi) e a Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (Cepi), a Covax pretende garantir a vacinação a 20% da população de 200 países e tem acordos com fabricantes para o fornecimento de dois mil milhões de doses, em 2021, e a possibilidade de comprar ainda mais mil milhões.
O primeiro caso de Covid-19 em África surgiu no Egipto, em 14 de Fevereiro de 2020, e a Nigéria foi o primeiro país da África subsaariana a registar casos de infecção, em 28 de Fevereiro.

 3,4 POR CENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL
Casos ultrapassam os quatro milhões

África ultrapassou os quatro milhões de casos de Covid-19 desde o início da pandemia, segundo dados compilados pelos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças do continente africano (África CDC).
Desde que foi confirmado o primeiro caso no continente, em 14 de Fevereiro de 2020, no Egipto, os 55 países-membros da União Africana (UA) registaram 4.005.204 infecções, o que correspondem a 3,4% do total mundial, segundo os dados do África CDC, disponibilizados ontem.
O continente africano registou 107.001 mortes provocadas pelo novo coronavírus (4% do total mundial) desde o início da pandemia, com 3.589.067 doentes a terem tido alta, de acordo com o organismo.

Cinco países são responsáveis por 66% das infecções: África do Sul (38%), que continua a ser o epicentro da pandemia no continente africano, Marrocos (12%), Tunísia (6%), Egito (5%) e Etiópia (4%).
Até 1 de Março, tinham sido realizados pouco mais de 37 milhões de testes no continente africano, um número muito baixo para uma população continental de cerca de 1,3 mil milhões. A região tenta, actualmente, impulsionar as campanhas de inoculação contra o vírus.
Segundo a OMS, estes 22 países africanos receberam cerca de 14,8 milhões de doses através da Covax, das quais 518.000 já foram administradas.

As últimas nações africanas a juntarem-se à lista de beneficiários foram o Benin, onde 144.000 doses da vacina AstraZeneca chegaram na quarta-feira - de um total de 792.000 a serem enviadas para o país nos próximos meses - e a Serra Leoa, que recebeu 96.000 doses da AstraZeneca na terça-feira, como parte de um lote inicial de 528.000.

Os outros países africanos onde as vacinas contra o novo coronavírus já desembarcaram são Angola, Quénia, Uganda, Rwanda, Djibuti, Etiópia, Nigéria, Gâmbia, Senegal, Costa do Marfim, Mali, Libéria, Togo, São Tomé e Príncipe, Sudão, República Democrática do Congo, Moçambique, Malawi, Botsuana e Lesoto.
A plataforma Covax - impulsionada pela OMS e pela Aliança para as Vacinas (Gavi) - procura assegurar o acesso global e equitativo aos medicamentos antivirais e visa fornecer pelo menos 2 mil milhões de doses até ao final do ano.

Paralelamente a estes esforços, outro grupo de nações africanas já está a vacinar graças às soluções que conseguiram encontrar através de acordos bilaterais com produtores farmacêuticos.
É o caso, por exemplo, de Marrocos, Seychelles, Zimbabwe, África do Sul, Egipto e Serra Leoa.
Apesar deste progresso, a África e os seus 1,3 mil milhões de pessoas continuam a estar globalmente atrasada em termos de progresso da imunização: dos 55 Estados-membros da União Africana, apenas 19 iniciaram campanhas nacionais de imunização.


PRIMEIRO LOTE DE VACINAS JÁ NO ARQUIPÉLAGO
Cabo Verde quer 70% de vacinação este ano

Cabo Verde recebeu o primeiro lote de 24 mil vacinas contra a Covid-19 da AstraZeneca e começa a campanha em 19 de Março, esperando chegar a 70% de vacinação, ainda este ano, disse o Primeiro-Ministro.
"É um dia histórico para Cabo Verde. É uma grande satisfação termos as vacinas, os primeiros lotes já aqui em Cabo Verde, na cidade da Praia”, afirmou Ulisses Correia e Silva, quinta-feira, no acto oficial da chegada das vacinas ao Aeroporto da Praia.

Segundo o chefe do Governo, são, no total, 24 mil doses da AstraZeneca, de um total de 108 mil, ao abrigo da Covax, iniciativa fundada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que visa garantir uma vacinação equitativa contra o novo coronavírus.
Ulisses Correia e Silva disse que, brevemente, vão chegar mais 80 mil doses da vacina da mesma farmacêutica e já no dia 15 de Março chegam as 5.850 doses da Pfizer, também ao abrigo do mesmo mecanismo internacional.

"Estamos fortemente empenhados para até ao final do ano conseguirmos vacinar mais de 70% da população, que garante a imunidade de grupo, e todo o esforço está sendo feito nesse sentido”, previu.
A percentagem prognosticada pelo Primeiro-Ministro é o dobro da avançada em 25 de Fevereiro pelo ministro da Saúde, Arlindo do Rosário, em entrevista à Lusa, e mais do triplo da taxa de cobertura do plano de vacinação, aprovado em Fevereiro, de 20% anual.

Na altura, o ministro explicou que essa previsão de cobertura, que consta do plano - apontando vacinar 60% da população até 2023 -, foi estabelecida com base na informação actual, face à falta de disponibilidade de vacinas global, e como precaução.
Questionado sobre o facto de vários países europeus terem suspendido a administração da vacina da AstraZeneca, o Primeiro-Ministro cabo-verdiano disse que não há evidências científicas de que há uma relação entre casos de forte coagulação sanguínea e a sua aplicação.

"Estamos a seguir aquilo que são as normas gerais recomendadas pela OMS e não há nenhuma contra-indicação relativamente ao uso da vacina da AstraZeneca”, salientou.
A campanha de vacinação vai arrancar em 19 de Março, em todas as ilhas, precisou, garantindo que vai ser feita, em primeiro lugar, aos profissionais de saúde.
Até lá, Ulisses Correia e Silva garantiu que o país tem condições de armazenamento, não só na cidade da Praia, mas também no resto do país, "para serem garantidas todas as condições de uma boa aplicação da vacina”.

O Primeiro-Ministro informou que os Estados Unidos vão disponibilizar um avião que tem estado a operar na ilha de São Vicente para ajudar no transporte entre as ilhas, em parceria com a Guarda Costeira cabo-verdiana.
"Para garantirmos uma distribuição segura e também garantindo a qualidade e a manutenção das vacinas”, completou o chefe do Governo, no acto oficial, que contou ainda com a presença do ministro da Saúde, Arlindo do Rosário, do representante da OMS no país, Hernando Agudelo, e representantes de outros países e organismos internacionais. 

Com a chegada das vacinas ao país, o Primeiro-Ministro sublinhou que não se deve relaxar. "É preciso continuar a cumprir as medidas de protecção, relativamente ao uso de máscaras, higienização e distanciamento, para podermos fazer um bom combate. A vacina é uma das componentes deste combate”, defendeu.

Angola tornou-se o primeiro país de língua portuguesa em África a receber vacinas contra a Covid-19 (624.000 doses), ao abrigo da Covax, que pretende entregar 90 milhões de doses de vacinas no continente africano até final deste mês.
Até ao final de Maio, o planeamento prevê a entrega de 237 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca e de 1,2 milhões de doses da vacina Pfizer.

Fundada pela OMS, em parceria com a Vaccine Alliance (Gavi, presidida pelo antigo Primeiro-Ministro português José Manuel Durão Barroso) e a Coalition for Epidemic Preparedness Innovations (Cepi), a Covax pretende garantir a vacinação a 20% da população de 200 países e tem acordos com fabricantes para o fornecimento de dois mil milhões de doses em 2021 e a possibilidade de comprar ainda mais mil milhões.

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