Opinião

Covid-19 e traficantes

Osvaldo Gonçalves

Jornalista

Numa pequena cidade na zona Norte do estado de S. Paulo, Brasil, a Polícia recebeu denúncias sobre a ocorrência de um intenso tiroteio numa comunidade onde decorria uma festa de rua, chamada “baile funk”. Imagens divulgadas nas redes sociais e retomadas por várias estações de televisão mostram um homem munido de uma metralhadora a disparar rajadas para o ar. O atirador estava escoltado por dois comparsas. Os três foram identificados como membros de um grupo de criminosos que, em comunicado, já havia ordenado a suspensão desse tipo de aglomerações na região por causa do aumento exponencial do número de infecções e mortes causadas pelo novo coronavírus. No Brasil, país irmão de Angola e com o qual partilhamos laços históricos e culturais, o noticiário sobre a Covid-19 é há muito marcado por polémicas, que vão desde a notória incapacidade do Governo Federal de chamar a si o combate à pandemia às denúncias constantes de casos de desvio de verbas e corrupção, com o envolvimento de gestores públicos e funcionários dos estados e municípios. A cada dia, a criminalidade toma conta da vida dos brasileiros e estrangeiros ali residentes, assim como dos visitantes, com grandes reflexos no sector do Turismo, importante fonte para a captação de divisas. De dimensões continentais, o Brasil é um país forte tanto na Agricultura como na Indústria, mas conta com a cultura do seu povo, expressa de muitas formas, associada às belezas naturais, para atrair um grande número de turistas estrangeiros todos os anos. Assistir a tantas polémicas, muitas carregadas de ironia, leva-nos a questionar o caminho a seguir daqui para a frente pelo gigante latino-americano, mormente o papel a desempenhar pelas autoridades, diante do protagonismo cada vez maior ganho pelo crime organizado, tanto ao nível das comunidades quanto nas instituições. Quando, em plena madrugada, traficantes de droga interrompem aos tiros um “baile funk”, obrigando centenas de pessoas, na maioria jovens, a dispersar, de carro, mota ou a pé, após comunicado que tais eventos estavam proibidos devido ao recrudescimento da pandemia, diante da incapacidade das autoridades de pôr fim às aglomerações todo o tipo, demonstra a total ausência do Estado nos territórios dominados pelos criminosos. Causam-nos espécie as dificuldades há muito reveladas para lidar com situações, no mínimo caricatas, como a da chamada “Cracolândia”, no centro da cidade de S. Paulo, a maior do Brasil e uma das maiores da América do Sul. Dia a noite, dezenas de pessoas aglomeram-se ali para consumirem drogas e, instigados pelos traficantes, os usuários enfrentam a Polícia e a Guarda Municipal, sempre que há a necessidade de se proceder à limpeza das ruas. Moradores no entorno e transeuntes são agredidos e têm os seus bens roubados, furtados ou depredados pelos dependentes químicos, escorados por ONGs que, ao mesmo tempo, os apresentam como doentes e se opõem ao seu internamento compulsivo. Enquanto isso, os traficantes aproveitam-se da situação para proceder à comercialização de drogas à vista de todos, em claro desafio às autoridades. Imagens captadas mostram como eles vendem ali todo o tipo de estupefacientes, às vezes mesmo em bancadas a imitarem doces e biscoitos. Em face desse vazio de Justiça, outro tipo de contrapoderes ganha força e impõe as suas vontades, sejam as “milícias” nas antigas favelas, hoje denominadas “comunidades”, sejam os grupos armados, organizados pelos grandes proprietários de terra nas zonas rurais.

20/04/2021  Última atualização 06H35
O atirador estava escoltado por dois comparsas. Os três foram identificados como membros de um grupo de criminosos que, em comunicado, já havia ordenado a suspensão desse tipo de aglomerações na região por causa do aumento exponencial do número de infecções e mortes causadas pelo novo coronavírus.
No Brasil, país irmão de Angola e com o qual partilhamos laços históricos e culturais, o noticiário sobre a Covid-19 é há muito marcado por polémicas, que vão desde a notória incapacidade do Governo Federal de chamar a si o combate à pandemia às denúncias constantes de casos de desvio de verbas e corrupção, com o envolvimento de gestores públicos e funcionários dos estados e municípios.

A cada dia, a criminalidade toma conta da vida dos brasileiros e estrangeiros ali residentes, assim como dos visitantes, com grandes reflexos no sector do Turismo, importante fonte para a captação de divisas. De dimensões continentais, o Brasil é um país forte tanto na Agricultura como na Indústria, mas conta com a cultura do seu povo, expressa de muitas formas, associada às belezas naturais, para atrair um grande número de turistas estrangeiros todos os anos.

Assistir a tantas polémicas, muitas carregadas de ironia, leva-nos a questionar o caminho a seguir daqui para a frente pelo gigante latino-americano, mormente o papel a desempenhar pelas autoridades, diante do protagonismo cada vez maior ganho pelo crime organizado, tanto ao nível das comunidades quanto nas instituições.

Quando, em plena madrugada, traficantes de droga interrompem aos tiros um "baile funk”, obrigando centenas de pessoas, na maioria jovens, a dispersar, de carro, mota ou a pé, após comunicado que tais eventos estavam proibidos devido ao recrudescimento da pandemia, diante da incapacidade das autoridades de pôr fim às aglomerações todo o tipo, demonstra a total ausência do Estado nos territórios dominados pelos criminosos.

Causam-nos espécie as dificuldades há muito reveladas para lidar com situações, no mínimo caricatas, como a da chamada "Cracolândia”, no centro da cidade de S. Paulo, a maior do Brasil e uma das maiores da América do Sul. Dia a noite, dezenas de pessoas aglomeram-se ali para consumirem drogas e, instigados pelos traficantes, os usuários enfrentam a Polícia e a Guarda Municipal, sempre que há a necessidade de se proceder à limpeza das ruas.Moradores no entorno e transeuntes são agredidos e têm os seus bens roubados, furtados ou depredados pelos dependentes químicos, escorados por ONGs que, ao mesmo tempo, os apresentam como doentes e se opõem ao seu internamento compulsivo.

Enquanto isso, os traficantes aproveitam-se da situação para proceder à comercialização de drogas à vista de todos, em claro desafio às autoridades. Imagens captadas mostram como eles vendem ali todo o tipo de estupefacientes, às vezes mesmo em bancadas a imitarem doces e biscoitos.Em face desse vazio de Justiça, outro tipo de contrapoderes ganha força e impõe as suas vontades, sejam as "milícias” nas antigas favelas, hoje denominadas "comunidades”, sejam os grupos armados, organizados pelos grandes proprietários de terra nas zonas rurais.

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