Economia

Ministério do Comércio admite escassez de farinha de trigo

O Ministério do Comércio admitiu ontem, em Luanda, a prevalência de uma escassez de farinha de trigo no mercado nacional, sem que, de acordo com o director nacional do Comércio Externo, Lukonde Luansi, exista qualquer decisão de importação para cobrir o défice.

15/10/2019  Última atualização 07H22
Mota Ambrósio | Edições Novembro © Fotografia por: Director do Comércio Externo, Lukonde Luansi, ao reconhecer a falta da farinha de trigo

“A importação de farinha de trigo não depende do Ministério do Comércio. Temos ministérios proponentes, como os Ministérios da Indústria e da Agricultura. Reconhecemos que existe uma carência de farinha de trigo no mercado e cabe aos sectores proponentes verificar e analisar a situação no mercado para tomar a decisão que se impõe”, disse Lukonde Luansi à imprensa, à margem de um seminário de capacitação sobre “Análise de mercado”.
Em quase todo o país, os fabricantes de pão debatem-se com a escassez de farinha de trigo, que é comercializada no mercado informal a 50 mil kwanzas por saco de 50 quilos, contra o preço anterior de oitos mil kwanzas.
O presidente da Associação dos Industriais de Panificação e Pastelaria de Angola (AIPPA), Gilberto Simão, considerou que a produção nacional está longe de satisfazer as necessidades reais do país, defendendo a necessidade de importação de quantidades controladas de farinha.
“Foi dito numa reunião que tivemos que as produtoras nacionais de farinha de trigo não estão a satisfazer 50 por cento das necessidades. Nós temos uma necessidade de 60 mil toneladas por mês e só estão a produzir 30 mil. É preciso colmatar o défice com a importação”, disse o presidente da AIPPA. Gilberto Simão disse haver várias padarias detidas por nacionais já fechadas por o saco de farinha de trigo estar caro. “A situação está cada vez pior e mais crítica. Todos os industriais angolanos estão a fechar as portas. Quem beneficia com isso são os panificadores estrangeiros. A cada porta que fecha, surgem de 10 a 15 panificadores estrangeiros a quererem ficar com a padaria”, afirmou o líder associativo para ilustrar a situação.
O industrial Luciano Tu-lumba defendeu, citado ontem pela RNA, que o Executivo volte a permitir a importação do produto, atribuindo a subida do preço ou a redução do volume do pão em algumas padarias à escassez de farinha de trigo. “Acho que não é o mo-mento do Governo restringir a importação do produto, tal como, para o INADEC, não é o momento de ir apenas atrás das padarias, mas de mostrar onde existe a farinha para comprar a preços razoáveis”, considerou.
O Ministro do Comércio, Joffre Van-Dúnem, disse em Julho, num encontro conjunto com o Ministério da Indústria para uma auscultação aos industriais de panificação e pastelaria, que já havia orientado aos responsáveis de grandes superfícies comerciais a liquidarem as suas dívidas com os produtores nacionais no prazo de 30 dias, para não interromperem os fornecimentos.
Os representantes das grandes superfícies defenderam-se com a especificidade do negócio: a estratégia de “vender à vista, mas pagar à prazo”, não excedendo os três meses.

Seminário capacita técnicos em análise de mercado

Técnicos do domínio de Estudos e Planeamento do sector público e privado estão, desde ontem até à próxima sexta-feira, em Luanda, a participar num seminário de capacitação para aprimorar conhecimentos sobre técnicas de análise de mercado, no âmbito do Projecto de Apoio e Assistência Técnica e Fortalecimento Institucional ao Ministério do Comércio (ACOM).
O seminário, uma iniciativa do Ministério do Comércio e do Centro Internacional do Comércio (ITC, sigla em inglês), é realizado para transmitir conhecimentos sobre as funcionalidades das ferramentas de análise de mercado utilizadas da ITC, com especial destaque para Mapa de Comércio, Mapa de Acesso ao Mercado e Mapa de Avaliação do Potencial de Exportação.
Lukonde Luansi anunciou que o Ministério do Comércio criou uma unidade de reconciliação de dados que tem a responsabilidade de criar mecanismos para mitigar o branqueamento de capitais através dos canais de importação e exportação. “Penso que, com estas três ferramentas, os quadros do Ministério do Comércio estarão mais capacitados para fazer análise de dados estatísticos do mercado e, com base neste conhecimentos, fazer uma melhor pesquisa sobre a análise de mercado”
Referindo-se ao adido comercial, uma nova figura ao nível dos estatutos orgânicos do Ministério das Relações Exteriores, Lukonde Luansi considerou importante o papel desempenhado por estes profissionais, “por serem estes a primeira fonte de informação disponível ao nível do exterior para captar investimentos estrangeiros, mostrando as potencialidades do nosso país e, ao mesmo tempo, facilitar a promoção das exportações de produtos nacionais para o país em que representa Angola”.