Economia

Valor do malparado no BPC pode exceder os cálculos

A recapitalização resolveu o problema estrutural da escassez de liquidez que assola o banco público BPC.

10/11/2019  Última atualização 19H23
Contreiras Pipa | Edições Novembro

A percentagem do crédito malparado, no Banco de Poupança e Crédito (BPC), estimada até agora em 73 por cento de um total de 1,1 bilhões de kwanzas, pode agravar-se com a conclusão de um trabalho de avaliação da qualidade dos activos, em curso no sistema bancário nacional, admitiu, em entrevista ao Jornal de Angola, o director de Particulares e Negócios daquela instituição financeira.

A conclusão do trabalho de avaliação da qualidade de activos, de acordo com Pedro Nicolau, poderá determinar um reforço das imparidades de crédito. O valor dos juros daí resultantes, é bastante significativo, o que tem afectado negativamente a margem financeira e a liquidez do Banco.
Nos termos do Aviso n.º 11/2014 de 10 de Dezembro do BNA, lembrou, os bancos estão impedidos de reconhecer em proveitos, os juros de operações vencidas há mais de 90 dias, devendo esse efeito ser contabilizado em conta extra patrimonial.
Para recuperar os valores em dívida e, consequentemente, melhorar a qualidade da carteira de crédito, disse, o BPC desenvolve, desde quinta-feira, uma campanha designada Renascer, que oferece, entre outros benefícios o perdão de juros de mora até 100 por cento a clientes particulares.
Para as pessoas colectivas, prosseguiu, o banco adopta, “grosso modo”, os mesmos critérios da campanha Renascer, procurando melhorar os termos e condições do crédito, adequando-os às actuais condições e capacidade de reembolso dos mutuários, permitindo-lhes, assim, cumprir o serviço da dívida e evitar o crescimento do crédito em mora.
O esforço de melhoria dos termos e condições das operações de crédito que o BPC desenvolve, segundo Pedro Nicolau, visa melhorar a qualidade do crédito, tendo em conta a situação economiza e financeira que o país atravessa.
"A conjuntura obriga-nos a adoptar uma postura mais pragmática na gestão do crédito, adequando as condições a realidade do mercado", alto funcionário do BPC Interrogado sobre se as listas de supostos devedores que, há tempos, circularam nas redes sociais e que apontavam, entre outras individualidades, os empresários António Henriques "Riquinho" e Bento Kangamba, como estando entre os maiores devedores, Pedro Nicolau lembrou que as instituições bancárias, por força da Lei, estão sujeitas ao sigilo bancário.
"O que podemos dizer é que o BPC foi o Banco que mais crédito disponibilizou à Economia, nas suas mais variadas vertentes, apoiando o surgimento de uma classe empresarial nacional, contribuindo, assim, para a geração de empregos e para o crescimento do país", para depois reconhecer que "esta 'ousadia' tem os seus custos".
Para garantir liquidez àquele banco público, o accionista Estado injectou, nos últimos cinco anos, 328 mil milhões de kwanzas, em títulos, com uma maturidade de 24 anos e taxa de juro de 5,00 por cento ao ano.
A realização do capital com títulos de longo prazo, disse, apesar de a dada altura a ter permitido a recomposição dos principais rácios prudenciais para os níveis regulamentares, não resolveu o problema estrutural da escassez de liquidez que assola o Banco.
O processo de transferência de créditos para a Recredit, instituição de gestão de activos, segundo Pedro Nicolau, segue o curso normal. Depois de algumas reuniões preparatórias para definição e acerto de requisitos e critérios, referiu, o banco está neste momento a preparar um conjunto de processos, para transitarem para aquela entidade.

Accionista Estado dá por terminada intervenção na instituição

Em Junho, o Governo manifestou, na pessoa do então ministro das Finanças, Archer Mangueira, a indisponibilidade de injectar mais recursos no BPC.
A capacidade de o Estado resgatar o BPC atingiu o limite e não haverá esforços adicionais para mobilizar e injectar recursos naquela instituição, disse.
No esforço de consolidação do sistema financeiro do país, segundo Archer Mangueira, o Estado injectou no BPC “recursos de uma magnitude antes impensável”, o que representa um “esforço colossal” com incidência nas contas públicas, na vida dos contribuintes e da generalidade dos angolanos.
“Se o Estado não tivesse injectado recursos avultados no BPC, poderia tê-los usado na melhoria da condição de vida de muitos concidadãos, nomeadamente na habitação, saúde, e alimentação”, sublinhou Archer Mangueira.
O Estado é accionista do BPC, através do Ministério das Finanças (75 por cento), do Instituto Nacional de Segurança Social (15) e da Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas (10).