Economia

Dívidas conduzem à falência joalheira de Sindika Dokolo

A joalheira De Grisogono, detida parcialmente por Sindika Dokolo, esposo da empresária Isabel dos Santos, anunciou falência, ontem, depois de não ter consegui-do encontrar um comprador e perante a acumulação de dívidas.

30/01/2020  Última atualização 09H04
DR © Fotografia por: Em 2016, Sindika Dokolo comprou e revendeu o maior diamante já encontrado em Angola

De acordo com a imprensa suíça, a decisão, que surge na sequência da divulgação, por um Consórcio Internacional de Jornalistas, da utilização de dinheiro público angolano nesta joalharia, terá sido dada a conhecer ontem aos 65 trabalhadores, na Suíça.
Na semana passada, em entrevista à agência Lusa, o Procurador-Geral, Hélder Pitta Grós, admitiu que entre os processos em investigação está o financiamento com dinheiros públicos da empresa pública de diamantes, Sodiam (200 milhões de dólares) para a compra da joalheira De Grisogono.
No despacho-sentença que determinou o arresto de bens de Isabel dos Santos, divulgado no final do ano passado, é dito que em audiência de produção de prova, ouvidas as testemunhas, resultou provado, entre outros factos, que, em Agosto de 2010, o Executivo angolano, chefiado então por José Eduardo dos Santos, decidiu comercializar diamantes angolanos no exterior do país.
Ficou também provado que "o antigo Presidente da República decidiu investir numa empresa suíça - De Grisogono/Joalharia de Luxo - que se encontrava em falência técnica em virtude de uma dívida para com os bancos UBS-Banco Cantonale de Genebra e BCV".
Segundo a providência cautelar de arresto, ficou igualmente provado que o antigo Presidente da República decidiu comprar a dívida da sociedade De Grisogono/Joalharia de Luxo junto dos bancos e "oferecer o negócio a Isabel dos Santos e Sindika Dokolo, sua filha e genro".
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou no dia 19 de Janeiro mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de "Luanda Leaks", que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público, utilizando paraísos fiscais.
Na passada quarta-feira, a Procuradoria-Geral da República anunciou que Isabel dos Santos tinha sido constituída arguida num processo em que é acusada de má gestão e desvio de fundos da Sonangol e que visa também cidadãos portugueses alegadamente facilitadores dos negócios da filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos.
De acordo com a investigação do consórcio, Isabel dos Santos terá montado um esquema de ocultação que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares para uma empresa sediada no Dubai e que tinha como única accionista declarada Paula Oliveira.
A investigação revela ainda que, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no Eu-roBic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é a principal accionista, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária da petrolífera angolana.
O EuroBic já anunciou que a empresária vai abandonar a estrutura accionista, o mesmo acontecendo na Efacec e já depois de os três membros não executivos do conselho de administração da NOS ligados a Isabel dos Santos terem anunciado a sua saída da operadora de telecomunicações.
Há uma semana, a consultora PricewaterhouseCoopers (PwC) anunciou o corte de relações com as empresas controladas por Isabel dos Santos, enquanto a Sonae disse estar a acompanhar a situação com preocupação, devido à alusão à NOS, controlada pela ZOPT, da qual é accionista, tal como Isabel dos Santos.
Isabel dos Santos já refutou o que descreveu como "alegações infundadas e falsas afirmações" e anunciou que vai avançar com acções em tribunal contra o consórcio de jornalistas que divulgou a investigação "Luanda Leaks".