Em Kalulu dos anos oitenta a noventa, a única festa popular, grande, que movimentava toda a gente - camponeses das fazendas estatais, privadas e lavras individuais; operários da torrefação de café e mecânicos das oficinas; intelectuais das escolas, centros e postos médicos e dos comissariados; liberais das alfaiatarias, barbearias, droga- rias, tabacarias e casas da xungaria - todas as classes unidas e reunidas numa marcha policromática e ruidosa, com carros alegóricos, quando fosse possível, era somente o 1° de Maio.
Como temos vindo a referir, há evidentes demonstrações de crise do modelo de história literária nacional de inspiração europeia e norte-americana. Mas, ao mesmo tempo, os autores que se dedicam ao estudo do fenómeno elaboram conclusões ambíguas e equívocas. Se, por um lado, identificam os perigos do modelo, admitindo a necessidade de um pensamento alternativo sobre esse modelo de história literária nacional, mais adiante elogiam a natureza benigna da matriz original. Elevam uma presumível utilidade da história literária nacional nos processos em que se funda a modernidade ocidental e o seu Estado-nação, etnocêntrico, centralizado, monista e hegemónico. No contexto do debate sobre a historiografia literária angolana, faz sentido interpretar a teoria das ex-nações de Agostinho Neto (1922-1979), formulada nos primeiros anos da independência de Angola, por ocasião da tomada de posse dos órgãos gerentes da União dos Escritores Angolanos