Cultura

Inó Gonçalves e Timex imortalizados pelos colegas

A cultura angolana ficou mais pobre com a morte de dois ícones da música popular e urbana. Colegas e amigos lamentaram, ontem, a morte, na passada sexta-feira, em Luanda, do intérprete e percussionista Inocêncio Manuel Gonçalves “Inó Gonçalves”, por doença, e do guitarrista Eugénio Bikindo “Timex”, por assassinato.

25/04/2021  Última atualização 19H19
Kiezos fizeram uma singela homenagem aos malogrados nesta edição do “Show do Mês Live” © Fotografia por: DR
Inó Gonçalves, que nasceu no dia 1 de Junho de 1949, em Luanda, fez parte de vários grupos da música popular e tradicional angolana, com destaque para a Escola de Semba, Pedras Negras, Anazanga, Os Gingas, Grupo Cultural da Textang 1, Grupo Teatral Ngongo e Kituxi e seus Acompanhantes, formação com a qual actuou em mais de 20 países.

Timex nasceu em Cabinda, no dia 18 de Dezembro de 1958, e iniciou a carreira artística em 1975, como guitarrista. Integrou os agrupamentos Bela Negra, Super Coba  e Bilombe. Em 1976, co-fundou, com Matadidi Mário Bwana Kitoko, o agrupamento Inter-Palanca, e dois anos depois criou o próprio conjunto, "Os Malucos”. Com Jacinto Tchipa e Kinito formou o "Sensacional Maringas”, com o apoio do guitarrista Carlitos Vieira Dias.


O legado
Raúl Tulinga, um dos "sobreviventes” do grupo Kituxi e seus acompanhantes, recordou, ontem, o amigo Inó Gonçalves "como um homem de carácter fácil, conselheiro e amigo, sempre disponível para ajudar”.

Inó Gonçalves, explicou, o convidou a entrar para o Kituxi. "Na década de 90, o grupo actuou em vários espectáculos em Portugal. Foi um dos melhores momentos. Partilhamos experiências únicas. Hoje é lamentável o facto de o grupo, que já representaram a Música Popular Urbana angolana no estrangeiro, ainda não ter o devido reconhecimento”, lamentou.

Para Man Garras, amigo e vizinho do malogrado Inó Gonçalves, no bairro Marçal, Rangel, a notícia foi uma surpresa. "Estava a fazer o programa radiofónico ‘Viagem ao Passado’, com o radialista Afonso Quintas, quando ouvi”, disse, acrescentando que tinha um encontro para hoje, segunda-feira, com os amigos e filhos do Marçal, Mimoso, Ludurimo e o próprio malogrado. "O assunto do dia era a possibilidade de escreverem um livro sobre a história do Marçal”.

O percussionista e líder do grupo Nguami Maka, Jorge Mulumba, disse que o legado deixado por Inó Gonçalves vai continuar vivo. "Nos últimos anos, muitos jovens aprenderam bastante com o tio Inó. Fernando Francisco, ngoma solo do Nguami Maka, é um exemplo”.


O solista
O vocalista e percussionista Abana Maior enalteceu as qualidades do guitarrista Eugénio Bikindo "Timex", com o qual partilhou, embora por um curto período, momentos em palco. "Sempre nos demos bem e nunca teve problemas com ninguém”, conta, acrescentando que era um excelente solista, com quem trabalhou no grupo Sensacional Maringas.

Jacinto Tchipa, que está internado na clínica Sagrada Esperança, recebeu a notícia com espanto. "Estou sem palavras. É uma perda irreparável. A música angolana perde um dos melhores executantes”.

O guitarrista Teddy Nsingi, da Banda Movimento, adiantou que conheceu Timex, em 1976, no agrupamento Inter-Palanca, no qual era viola ritmo. Com o passar dos anos, disse, realizaram alguns espectáculos no Show da Zimbo e na Trienal de Luanda. "Estávamos a preparar mais uma homenagem ao Inter-Palanca e a Matadidi. Os ensaios estavam marcados já para hoje, segunda-feira”, revelou.

A organização do "Show do Mês Live”, realizado sábado no espaço CHE, em Luanda, com transmissão em directo pela TPA (canal 2 e Internacional), fez uma singela homenagem a Inó Gonçalves e Timex.


Perdas irreparáveis  

O ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, Jomo Fortunato, manifestou-se profundamente consternado com o falecimento de Inó Gonçalves e de Timex. "O país vê partir das emblemáticas figuras da Música Popular Urbana Angolana, que muito contribuíram para o enriquecimento da matriz cultural nacional”, escreveu na nota de condolências, tendo endereçado às famílias os sentimentos de pesar.

O presidente da União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC), Zeca Moreno, lamentou, também, a morte dos dois artistas. "Ao longo dos últimos dois anos a classe artística nacional tem visto partir grandes referências. Precisamos unir sinergias e continuar a trabalhar para dar melhor dignidade aos fazedores das artes, que muito têm contribuído, principalmente por via da música” , disse.

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