Coronavírus

Kuduristas da Caparica combatem solidão dos idosos com dança e afectos

À janela, na hora marcada, surge o ‘Capitão’ acenando aos ‘netos’ kuduristas que chegaram para dançar e dar dois dedos de conversa. Juntam-se os vizinhos, nas varandas, e durante meia hora não há solidão: há sorrisos e esquece-se a pandemia.

28/03/2021  Última atualização 12H08
Kuduristas © Fotografia por: DR
Cinco jovens entre os 24 e os 34 anos são os kuduristas da Caparica, que, três dias por semana, através da dança, promovem o envelhecimento activo dos utentes, agora em confinamento, do Centro Social da Trafaria, no âmbito do projecto "Não estamos sós”, da Santa Casa da Misericórdia de Almada, no distrito de Setúbal. Os sons de Kuduro e afrohouse são projectados através de uma pequena coluna, suficientemente potente para pôr a mexer os ‘vovós’, como são carinhosamente tratados pelos voluntários, que fazem uma espécie de terapia aos menos jovens, com idades entre os 80 e os 99 anos.

A ideia começou com oito utentes, mas já se espalhou aos vizinhos e, na rua do ‘Capitão’ – que, apesar de não frequentar o centro é um dos ‘vovós’ do projecto -, são vários aqueles que se assomam à janela ou varanda para participar na serenata. Os mais atrevidos, se bem que com todas as regras de segurança, vêm até à rua para dançar.
‘Capitão’, como é conhecido Carlos Santos, dono de uns olhos de azul mar, usa um chapéu que o denuncia a quem passa e lhe vale a alcunha. Para ele, estes ‘netos’ "deviam vir mais vezes”.

"O grupo veio cá para me desencantar e acabou a encantar os vizinhos todos. Está muito bem, que seja por muitas vezes”, diz, revelando que as pessoas "estão sozinhas” e que os jovens chegam e se divertem.
Reconhece que já não dança como antigamente. Uma operação à coluna deixou-o com um problema na perna: "Ensinei muitas meninas a dançar, fui músico, tive bandas, fazia bailaricos, era uma beleza", conta.
"Ah, hoje é o dia da dança”, graceja Dona Odete, que passa na rua, com um saco de compras vazio no braço, e por lá fica entretida a dançar com o grupo.


"É sempre uma animação”, desabafa. A tarde começa na Costa da Caparica, junto ao ex-libris arquitectónico Torre das Argolas, onde vive a 'vovó' Maria Domingues. Os jovens estão expectantes com a visita, pois já não estão com a 'avó' há algum tempo, por esta ter estado hospitalizada. São recebidos com um ramo de flores de papel colorido, um passatempo que tinha no centro de dia e que mantém em casa.


Ninguém diria que esteve internada - a genica com que dança pela janela, canta e ri não lhe denunciam os 80 anos.
"São muito especiais e divertidos, tenho o coração cheio", diz Maria Domingues, num entra e sai da janela para mostrar aos 'netos’ aquilo com que se tem entretido. Joana Silva pede-lhe que não traga laranjas ou rebuçados, mas a ‘avó’ traz nas mãos duas bolas cor-de-rosa que anda a decorar.

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