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Mergulhada em dificuldades, Mukulo a Ngola “não tem Covid-19”

As medidas de prevenção contra a Covid-19 na localidade turística de Mukulo a Ngola, município de Marimba, província de Malanje, há muito que deixaram de ser cumpridas pela população, alegando que na região não existe o novo coronavírus.

21/02/2021  Última atualização 11H41
Em Mukulo a Ngola as medidas de prevenção são ignoradas © Fotografia por: Francisco Curihingana | Edições Novembro
"Nós aqui já não usamos máscara, porque aqui não tem coronavírus”, justificou Enoque Armando, 19 anos, lembrando que, no início da pandemia, todos usavam a máscara, mas com o passar do tempo deixaram de o fazer, alegadamente por criar "problemas respiratórios”.

Já Armindo Manuel, outro jovem, disse que já faz muito tempo que deixou de ouvir falar sobre a Covid-19 em Mukulo a Ngola, onde para chegar é necessário ultrapassar vários obstáculos. Os 145 quilómetros de estrada entre Malanje e a localidade são marcados por enormes buracos e falta de pontes.

Nesta altura, está em curso trabalhos de terraplanagem desde o desvio para Caombo a Mukulo a Ngola, onde estão os túmulos dos reis da resistência do Ndongo. Apesar de um ligeiro trabalho efectuado, nada indica melhoria na circulação rodoviária. São muitos buracos e, para piorar, as pontes são improvisadas. Um empreiteiro que trabalha na localidade colocou troncos de árvores junto dos rios para facilitar a passagem de viaturas.

Para contrapor tais obstáculos, é necessário muita paciência, coragem e preparar uma viatura  em condições ou um todo-o-terreno. Perante tal situação, a população vive dias difíceis, com a falta de quase tudo. Por tudo isso, Armindo Manuel declara: "nunca mais ouvi falar de Covid-19, porque dificilmente recebemos visitas”. Falta de escolas e postos de saúde

Desde 2003, em Mukulo a Ngola, Enoque Armando deixou de estudar na 4ª classe por falta de escolas de outros níveis de ensino. "Já não há professores para leccionar da 5ª classe em diante. Aqui nas proximidades também não há. Ir à sede municipal (Marimba) é um problema, porque são dois dias de viagem”, realçou, acrescentando: "com todos esses problemas, ninguém quer saber de Covid-19”.
Também há 18 anos, Estêvão de Oliveira, 21 anos, deixou Luanda, onde estudou até a 9ª classe, para assentar arraiais em Mukulo a Ngola. Ele, que lamentou a falta de escolas e postos de saúde para atender a população, estimada em mais de 300 habitantes, também há muito deixou de ouvir falar da pandemia. "Aqui não existe medidas de prevenção. Ninguém usa máscara ou desinfecta constantemente as mãos com água e sabão. O álcool em gel é apenas de ouvir falar, nunca vimos”, disse.

Despreocupados com a pandemia e sem actividades académicas, a juventude de Mukulo a Ngola dedica-se à agricultura e ao consumo exagerado de bebidas caseiras. "Quando não temos mais nada para fazer, ficamos mais tempo a rodear pelo bairro", disse Estêvão de Oliveira.

Lourenço Joaquim, que vive naquela localidade desde 2008, pede às entidades de direito no sentido de melhorar a situação daquelas comunidades. Disse que quando há problemas de saúde, os doentes são transportados de motorizada ou bicicleta para a sede municipal de Marimba. À semelhança de Mukulo a Ngola, a população de outras aldeias circunvizinhas também ignora as medidas de biossegurança. A pandemia não mudou a rotina das comunidades, que mantêm os seus hábitos e costumes.

Francisco Curihingana | Mukulo a Ngola

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