Cultura

O deputado e o carnaval

É sempre assim no bairro do Mamungua, quando estão a mabossar mambos da ngimbi (Luanda). Ontem falaram sobre o lixo que está a embelezar quase todas as ruas. Os oradores foram o Kinama. o Panhanha, o Kubudiza, o Sassassa e o Dianzala.

21/02/2021  Última atualização 13H53
© Fotografia por: DR
Quando começaram a falar das operadoras de recolha de lixo e da governadora de Luanda, aí Mamungua pediu para trocarem de conversa, porque a casa dele não é a instalação onde os deputados vão discutir os problemas do povo. O Kubudiza, depois do Mamungua calar, perguntou se os deputados discutem mesmo os problemas do povo e em tom de brincadeira disse que tem saudades daquela frase que dizia "A escola é do povo”.

O Dianzala responde que hoje a escola não é do povo, umas tantas são públicas e outras são deles, os que têm dinheiro. Para o Panhanha o mais importante é que os deputados continuem a ser os representantes do povo na Assembleia. Falando em deputados, o Kinama fala do filho do deputado, que dançou carnaval fazendo papel de gentio ou índio no grupo carnavalesco Kiela do Sambizanga, onde nasceu o pai dele, que faz tempo nunca mais meteu lá os pés. O Kinama conta que o velho foi assistir o carnaval com outros colegas e alguns ministros. Não gostou de ver o filho a fazer papel de gentio. Aguardou pelo filho em casa mas bem nervoso. 

O candengue é daqueles que acompanham muitos debates, tanto nas rádios como nas televisões. Assim que entra, o deputado, segundo o Kinama, ataca o candengue dizendo que lhe fez envergonhar perante os colegas deputados e ministros, porque todos lhe viram a dançar, vestido com uma saia feita de embondeiro, tronco nú, descalço, um escudo na mão esquerda e uma flecha improvisada na mão direita. Aí é que o deputado ouviu aquilo que nunca gostaria de ouvir enquanto representante do povo.

O candengue disse que ele é que estava envergonhado, por saber que muitos deputados não aparecem nas reuniões das comissões de especialidade. E justificou dizendo que num debate na TV Zimbo ouviu um deputado do MPLA a dizer isso, o que é mau para indíviduos tidos como reserva moral. Segundo disse o Kinama, o candengue, com um ar de  nervosismo, atirou para o deputado que se sente honrado por dançar carnaval, a maior festa popular angolana. Dizia o Poeta Maior, António Agostinho Neto, "ao nosso carnaval, às nossas tradições, havemos de voltar”. Por isso o candengue brincou o carnaval com os mais velhos e outros candengues. Mamungua disse que essas discussões em sua casa não são bem vindas, política é no Parlamento. E se uns assistem ou não às discussões é com eles.
Pereira Dinis |

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