Reportagem

O grupo dos fundadores da escola Angola e Cuba (Parte 1)

Num domingo, enquanto ouvia o programa matinal Poeira no Quintal, da Rádio Nacional de Angola, recebi do grupo do whatsApp desse programa uma mensagem que fazia referência à escola Angola e Cuba, localizada no então município mais populoso de Luanda, o nosso Cazenga.

26/11/2023  Última atualização 10H29
© Fotografia por: Edições Novembro

Prontamente, depois de uma leitura minuciosa, dei os meus subsídios que se impunham naquele contexto sobre a história daquela instituição.

Isso despoletou uma conversa em off, que culminou com a criação do grupo de whatsApp dos alunos fundadores da escola pelo Miguel Bernardo (Michel).

Embora houvesse já a escola Óscar Ribas, que, por estar localizada na confluência dos municípios do Rangel, do Sambizanga e do Cazenga, não era considerada uma propriedade do município pelos cazenguistas do centro, o internato 1 de Junho, que, pela sua natureza, nunca entrou nas nossas contas, e o Centro Profissional do Cazenga,  a primeira escola do II e III níveis do município, no verdadeiro sentido, é a Angola e Cuba.

A escola começou a funcionar no ano lectivo 87/88, porém, por decisão das autoridades educacionais, aquele ano foi anulado pelo facto de as aulas terem  iniciado, alegadamente, muitos meses após o arranque oficial do ano lectivo daquele ano civil, pois a infra-estrutura não estava, ainda, pronta para o seu funcionamento.

O arranque efectivo deu-se no ano lectivo seguinte, 88/89, com alunos encaminhados das escolas do primeiro nível do município e da escola Óscar Ribas, já que naquela instituição não havia o III nível. Foi nesta escola onde muitos encarregados de educação, atentos ao processo, matricularam os seus filhos, quando se aperceberam que o ano lectivo arrancaria muito tarde em Angola e Cuba.

Com as listas afixadas na Delegação Municipal de Educação a confirmarem o encaminhamento e as listas dos nomes dos alunos matriculados por meio de "esquemas” nas vitrines da escola, a emoção de estudar numa escola nova - num prédio - com carteiras novas, com quadras desportivas e com laboratórios era indescritível.

Os encarregados de educação, mais eufóricos que os alunos, sentiam-se aliviados e felicíssimos por saberem que os seus filhos não teriam que percorrer quilómetros para estudarem nas escolas da baixa, onde, muitas vezes, chegavam dependurados em camiões ou escondidos nos porões dos autocarros da ETIM ou da ETP, correndo todos os riscos daí advindos. Abro aqui um parêntesis para falar do "sobe só”.  Os meus contemporâneos lembram-se, certamente, disso.

A escola arrancou com um leque de quadros de luxo, da direcção ao colectivo de professores. O trio directivo, o Luís Maria - director-geral, o Luís Leão - chefe da secretaria e o Luís Valente - chefe do turno da manhã, fazia funcionar a máquina impondo uma disciplina quase militar, já que, segundo eles, tendo em conta as idades dos alunos, a sua proveniência e a zona onde estava situada a escola, havia uma grande probabilidade de desvios comportamentais.

O rigor e disciplina estavam sob a responsabilidade do primo Mangumbala, ex- militar das FAPLA, que chefiava o corpo da guarda  afecto à escola.  

A organização, em determinados momentos, chegou a atingir níveis castrenses, ao ponto de os alunos, nas conversas mantidas entre si, considerarem-se em formação militar e não académica e, em vez de tratarem a instituição por escola, tratavam-na por quartel.

Esse rigor, muitas vez excessivo, produziu excelentes estudantes, que, na época, disputavam as finais dos melhores concursos escolares da capital como o Quem sabe sabe, do programa Manhã de Cacimbo, da TPA, sempre orientados por professores de reconhecido mérito como a Salomé Jamba, a São Garcia Neto, a Maria do Céu, o Francisco Cardoso Boa, o Adriano Manuel, o Francisco Luís, o António José Alexandre, o Agostinho Manuel, o Francisco Naval, o mestre escola Conceição Mateus Cosme Correia, o António Cajiza, o Zaqueu Mendes de Carvalho, o Martins Correia, o Fernando Pessoa, o Pedro Joaquim Domingos, o Gusmão Victor, o Nando Benjamim, o Filipe Nanga, o Orlando Lundoloqui, o São Paulo, o Francisco Félix, o Pedrada, o Cruz, a Flávia, o Edgar, e muitos, muitos outros entre vivos e mortos.

Hoje, passados 35 anos, o grupo dos fundadores, constituído pela primeira geração de alunos, entre eles o Adérito Mendes, que foi o primeiro presidente da AAEM da nossa escola, a Maria Luísa Silva, a Filomena e Bela Pacheco, o Mário Mateus, o André João Miguel, o Paulo Certo, a Fauta Janeira, a Inês (Menesa), o Toy Nascimento, o Toyzinho Diogo, o Vado Ferreira, o Augusto Cassoma - considerado um dos melhores delegados de turma do nosso tempo, a Ana Cassoma, a Eurídice Gralha, o Okiki da Costa, o Jeremias Congo, a Madalena de Nazaré Miguel Francisco, a Tininha Fausta, a Teresa Melo, o João Quissanga, a Edna do Couto Marcolino, eu e outros ilustres co-fundadores, reuniu-se num grupo do whatsApp, onde se contam histórias que abeiram o surreal e se reavivam as memórias dos tempos estudantis, os momentos inesquecíveis de convívio entre colegas, as estigas, as mutambas, os lanches na contina do "Tio Chico”, o iogurte, o pão com chouriço comprado no mercado original do "Asa Branca”, o "boca louca – bombó com ginguba”, os guardas de armas automáticas em punhos circulando, os açoites do temido Mangumbala, que, certa vez, flagrou um aluno a saltar o muro de vedação e  mandou-o ficar aí mesmo até que o director Luís Maria chegasse. Enfim, enfim, lembranças de "tempos que não voltam mais”, como, uma vez, cantou Paulo Flores. 


A. Fragoso Trindade

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