Opinião

Ponderação nas redes sociais

Carlos Cardoso

Jornalista

As inúmeras situações desabonatórias que perfilam nas redes sociais em que os actores são, maioritariamente jovens angolanos, remetem a sociedade à necessidade de realizar um amplo trabalho de consciencialização, que numa única palavra pode significar, o regresso ao processo de resgate dos valores morais e cívicos.

16/01/2021  Última atualização 11H25
Propomos o uso da referida ferramenta tecnológica, na perspectiva de servir de suporte e garantia da ordem e segurança públicas, enquanto bem comum, independentemente dos argumentos de defesa dos utilizadores, que numa visão marginal da interpretação das liberdades constitucionais em matéria de expressão, julgam que tudo vale. 
Será, talvez, pelo acima exposto, que ao arrepio de valores como ponderação, que mal nenhum faz, alguns compatriotas auto-proclamam-se "proprietários exclusivos da verdade/razão”, sem que se perceba que, em muitos casos, o que eles transmitem seja apenas preferências, algumas delas com incitações políticas.Com todo o perigo que a propaganda, enquanto técnica de comunicação representa para uma sociedade desestruturada de quase todos os pontos de vista como é a nossa, tem sentido a eleição deste tema para preencher o espaço de reflexão, que em última instância mais serve com local de partilha de opiniões com sentido de cidadania.

Salvaguardando a existência de alguma dificuldade na abordagem deste tema sobre o qual, parece, já terá sido dito e mais alguma coisa, conforta-nos o enunciado teórico do jornalismo que, enquanto ciência, defende que "um mesmo tema pode ser abordado de infinitas e variadas estruturas de pensamento, sobressaindo a perspectiva que melhor consiga convencer os destinatários”.Nesta base, arriscamos falar, mais uma vez, sobre o uso das redes sociais, pensando que, afinal, pela dinâmica da sociedade e do "submundo tecnológico”, existirão sempre razões que fundamentam a abordagem do supra mencionado tema, que vem fazendo cultura entre nós, sobretudo na vertente má.

Afigura-se fundamentalmente  estabelecer um denominador comum na abordagem sobre as redes sociais na sua dimensão técnica, por um lado, e na dimensão humana da comunicação, por outro, sem a qual prevalecerá o sentido de "diabolização” do uso das redes sociais, que no fundo não passam de ferramentas úteis disponíveis aos homens, de quem depende o bom ou mau uso. O problema reside, essencialmente, na coabitação dos homens com as redes sociais, que enquanto factor de aproximação das pessoas e elevação de tantos outros valores positivos deveria alicerçar as acções positivas dos utentes, contrariamente ao que se constata, sem que isso sirva para dizer que tudo esteja errado.

O positivismo requerido obriga a observância da tolerância,  pois, além de não sermos semelhantes, devemos nos doar ao exercício de aprender a coabitar na diferença, entendendo este, como um pressuposto socialmente fundamental nos dias correntes. Enquanto fenómeno "omnipresente” das sociedades hodiernas marcadas, dentre várias coisas, pela acelerada produção, circulação e consumo de informação, bom seria se que as redes sociais fossem usadas como ferramenta potenciadoras da construção de pontes de concórdia, paz, harmonia e desenvolvimento da cidadania. 

Infelizmente, e isto firma o "mau uso”, em muitos casos, as informações postas a circular nas redes sociais derivam de um conjunto de actos e práticas que visam a promoção de boatos elevados à categoria de verdades, como há dias ocorreu na questão da menina que desferiu vários golpes de faca à um cidadão, que em nenhum momento é brigadeiro das Forças Armadas Angolanas.Em várias circunstâncias ficamos atónitos com a elevada carga de ódio contida nos comentários debitados nas redes sociais, ao ponto de denotar-se uma tendência de desvalorização da vida humana, ante a ponderação necessária na hora do "julgamento virtual”.

O exemplo dado representa apenas uma amostra num grande universo de coisas negativas destiladas nas redes sociais, evidenciando a alteração dos códigos da vida humana, que passa(ra)m a não ter muito valor, face à apetência competitiva de quem partilha primeiro e mais.

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