Política

Regresso de Angola ao Conselho de Paz da UA vai dar maior pujança ao órgão

César Esteves

Jornalista

O regresso de Angola ao Conselho de Paz e Segurança da União Africana, para o biénio 2024-2025, vai ajudar aquele órgão decisório permanente para a prevenção, gestão e resolução de conflitos em África a elaborar programas mais actuantes em relação à pacificação do continente, dada a experiência acumulada pelo país sobre aquelas matérias.

23/02/2024  Última atualização 10H45
1- Politólogo Pacheco Talocha 2-Professor Osvaldo Mboco 3- Especialista Nkikinamo Tussamba © Fotografia por: DR
O vaticínio é do especialista em Relações Internacionais Pacheco Talocha, que reagiu, em declarações ao Jornal de Angola, sobre o assunto. O também politólogo acredita que a voz de Angola será bem aproveitada dentro do órgão estratégico da União Africana em matéria de Paz e Segurança, pelos pares, com vista à busca de soluções para os focos de instabilidade ainda persistentes em algumas partes do continente africano, com destaque para o Leste da República Democrática do Congo, cujo aumento da tensão, nos últimos dias, mereceu a condenação dos Estados Unidos da América, que acusam o Rwanda de estar envolvido na guerra.

"Angola vai ter uma voz activa dentro daquele órgão, até agora pouco explorado, tendo em conta as várias situações que ocorrem no continente”, realçou o académico.

Para Pacheco Talocha, apesar das divergências que podem existir em Angola, entre as diferentes forças políticas, o país é, ainda, por natureza, de matriz pacífica, cujo trunfo para a resolução de conflitos assenta, sempre, na base do diálogo e solução pacífica. "Angola é e sempre será a trincheira firme da revolução em África, tal como já disse o fundador da Nação, Dr. António Agostinho Neto”, aclarou.

Osvaldo Mboco é da mesma opinião

No mesmo diapasão alinha o professor de Relações Internacionais Osvaldo Mboco, que acredita que a presença de Angola no Conselho de Paz e Segurança da União Africana vai influenciar, em grande medida, nas decisões a serem tomadas por aquele órgão, devido à experiência do país em resolução pacífica de conflitos.

Enquanto país de matriz pacifista, prosseguiu o académico, Angola privilegia, sempre e dentro do quadro de gestão e resolução de conflitos, os meios pacíficos, tais como a mediação, bons ofícios e a negociação, valores que, como sublinhou, também são defendidos pelo Conselho de Paz e Segurança da União Africana.

"Angola é um país com uma expressão a nível do continente sobre estas matérias. Basta olharmos para a articulação do país a nível da Região dos Grandes Lagos, os ganhos que já conseguiu trazer”, frisou. Aliado a este exemplo, Osvaldo Mboco destacou, igualmente, as acções realizadas pelo Presidente João Lourenço, enquanto Campeão para a Paz e Reconciliação em África, que permitiu encurtar as diferenças entre os Presidentes Paul Kagame e Yoweri Museveni, dando lugar à abertura das fronteiras entre os dois Estados.

"Pensamos que Angola, a nível deste órgão, como já aconteceu no passado, poderá imprimir uma nova dinâmica e buscar, de facto, resultados que sejam do interesse continental”, salientou Osvaldo Mboco, antes de chamar a atenção para a necessidade de não se pensar que Angola, sozinha, vai conseguir dar solução aos focos de instabilidade existentes no continente, mas sim com o envolvimento de todos, com destaque para os diferentes contendores dos conflitos.

"Ou seja, o Conselho de Paz e Segurança é um órgão que pode permitir uma mediação maior, onde a diplomacia angolana terá que estar preparada para fazer, de facto, frente aos vários assuntos que assolam o continente africano”, ressaltou Osvaldo Mboco, para quem é necessário que a diplomacia do país seja muito mais activa e proactiva, capaz de responder aos problemas de dimensão continental.

Crise no Leste da RDC vai merecer maior atenção 

O também especialista em Relações Internacionais Nkikinamo Tussamba referiu que Angola vai ter a responsabilidade de apresentar ao Conselho de Paz e Segurança da União Africana situações que apoquentam o país, a SADC e a própria União Africana, assim como provocar debates que levem à solução de alguns problemas com os quais o continente ainda se bate.

Nkikinamo Tussamba explicou que, enquanto membro, Angola terá a oportunidade de, num mês, presidir ao Conselho de Paz e Segurança, ocasião que deverá ser aproveitada para fazer passar as grandes ideias do país sobre as questões de paz e segurança no continente. "Angola terá de aproveitar esta ocasião para continuar a propor soluções para a crise de paz e segurança no Leste da República Democrática do Congo”, ressaltou Nkikinamo Tussamba.

Eleita pela quarta vez

Angola foi eleita, este mês, pela quarta vez,  membro do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, com 46 votos, durante a 44ª sessão do Conselho Executivo da União Africana, realizado em Adis Abeba, Etiópia. A ocupação do lugar resulta do princípio da rotatividade que se observa nos vários órgãos da União Africana.

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