Reportagem

Setecentos mil pés de mangais vão ser plantados na orla costeira do Soyo

Victor Mayala | Soyo

Jornalista

Projecto resulta de um protocolo de parceria entre o Instituto Nimi a Lukeny e a empresa Seatag-pescas, que detém um vasto viveiro de mudas de mangues, criado com o propósito de repovoar zonas devastadas pela acção humana

04/12/2023  Última atualização 08H54
Viveiro de mudas de mangais foi criado pela empresa Seatag-Pescas para repovoar zonas devastadas pela acção humana © Fotografia por: fotos de ictor Mayala | Edições Novembro | Soyo
Cerca de 700 mil pés de mangais vão ser plantados ao longo da zona costeira e ribeirinha do município do Soyo, na província do Zaire, numa iniciativa do Instituto Superior Universitário "Nimi a Lukeny”, inserida no âmbito da sua responsabilidade social.

Para a materialização do projecto, o presidente da referida instituição de ensino superior, professor doutor Lando Ludi Pedro, assinou, no passado dia 17 de Novembro, um protocolo de parceria com a empresa Seatag-pescas, que, além de actuar no processamento de pescado, detém, igualmente, um vasto viveiro de mudas de mangais, criado com o propósito de repovoar zonas devastadas pela acção humana.

O Jornal de Angola apurou que o protocolo, com a duração de cinco anos, renováveis, define que cabe ao Instituto "Nimi a Lukeny” prestar apoio científico à Seatag-pescas, em matéria de produção, plantação e tratamento de mangues, através do curso de Engenharia Agronómica ali ministrado.

A cerimónia de assinatura do referido protocolo de parceria, que prevê, igualmente, a dinamização da cultura de cajueiros, foi testemunhada, entre outras individualidades, pelo administrador municipal do Soyo, José Mendes Belo, em representação do governador provincial, Adriano Mendes de Carvalho, e pelo promotor do Instituto "Nimi a Lukeny”, Pedro Manuel.

Ao discursar no acto, o presidente do Instituto Superior Universitário "Nimi a Lukeny”, Lando Ludi Pedro, sublinhou a importância da iniciativa, por considerar que a parceria conjuga, em si, as dimensões de inovação e intercooperação entre entidades que, embora estando fisicamente próximas, não tinham, até agora, uma cultura de cooperação.

"Não temos dúvidas que o passo que acabamos de dar, hoje, tem um grande significado ao nível da efectivação dos objectivos do desenvolvimento sustentável que o Estado angolano subscreveu, entre os quais a plantação, até Dezembro, de um milhão de ecossistemas de mangais em todas as orlas marítimas do território nacional”, referiu.

Lando Ludi Pedro avançou que, para a prossecução deste objectivo, a Universidade e outras instituições na região são convocadas a trabalhar em rede, pois, como frisou, diante dos desafios da desflorestação, só vence quem souber desenvolver parcerias numa perspectiva de colaboração e esforço colectivo, racional e académico-científico.

"Neste sentido, o curso de Engenharia Agronómica do nosso Instituto terá a responsabilidade de propor soluções, no âmbito da produção, plantação, controlo dos equipamentos, segurança e higiene dos produtos para alcançar estes desafios do Estado angolano”, asseverou.

O académico indicou que os estudos sobre o impacto ambiental são resultantes da acção humana no espaço geográfico, sendo, por isso, a parceria estabelecida com a Seatag-pescas não se resume apenas no provimento de mudas de mangues e cajueiros, mas, também, serve para promover debates e propor soluções relacionadas com a diminuição da poluição atmosférica, deposição incorrecta de resíduos sólidos na superfície, prevenção da contaminação das fontes de água e da extinção de outras espécies.

"Não é comum este processo de parceria e este é um espírito e uma visão necessários para o desenvolvimento sustentável, por considerar os três pilares de uma instituição de ensino superior, nomeadamente ensino, investigação e extensão”, realçou.

O responsável desafiou, por conseguinte, os empresários e as demais organizações locais, quer do sector público, quer do privado, a firmarem outras parcerias com o Instituto "Nimi a Lukeny”, de modo a permitir o desenvolvimento mútuo das instituições e assegurar, igualmente, o desenvolvimento de competências dos futuros graduados.

 
Inserção de estudantes no mercado

O gestor revelou que uma das estratégias constantes do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) tem a ver com a criação de mecanismos e protocolos com o tecido empresarial, com vista à inserção de estudantes nas empresas ou mercado de trabalho.

O administrador executivo da Seatag-Pescas, Alcatir Costa, disse esperar que o protocolo produza, de facto, resultados que possam contribuir para um ambiente mais saudável, através da plantação de mangais e desenvolvimento de outras acções viradas para a preservação dos ecossistemas.

"A Seatag-Pescas é uma empresa privada que abraçou o desafio de vir investir nesta localidade do Soyo, com a construção de um complexo pesqueiro. E, no âmbito deste investimento, a nossa empresa tem responsabilidades, entre as quais está a social e, fundamentalmente, a ambiental, razão pela qual criamos, aqui, o maior viveiro de mangais do país”, disse.

À margem do acto, Alcatir Costa ofertou à direcção do Instituto "Nimi a Lukeny” equipamentos informáticos e material de um laboratório químico para a identificação e combate às pragas que afectam diversas espécies vegetais.

A directora do departamento de Ciências Agrárias e Veterinárias, Maria Dias, explicou que o referido laboratório possui múltiplas valências e servirá, igualmente, para avaliar as propriedades dos solos e das águas nos campos de cultivo.

A especialista agrária avançou, ainda, que estão previstos, no domínio ambiental, investigações sobre a avaliação da quantidade de carbono na atmosfera, que resulta da actividade de exploração petrolífera na região.   

 
Administração municipal saúda iniciativa

O administrador municipal do Soyo, José Mendes Belo, manifestou-se satisfeito com a parceira firmada entre as duas instituições, lembrando que muito tem sido feito, em termos de sensibilização das populações, no sentido de se preservar o ambiente e impedir a devastação dos mangais, que, apesar das acções desenvolvidas, a situação é recorrente até aos dias de hoje.

"Estamos felizes com esta iniciativa e esperamos que o projecto tenha, de facto, pernas para andar e que se plante, num curto espaço de tempo, um elevado número de mangais para proteger a orla marítima”, apelou José Mendes Belo, que mais adiante lembrou que a conservação dos mangais para o equilíbrio do ecossistema, protecção das espécies marinhas e a preservação do meio ambiente constituem desafios importantes das autoridades do país.

José Mendes Belo manifestou, igualmente, a disponibilidade da administração local em continuar a trabalhar com todas as instituições e pessoas singulares que abraçaram os desafios acima mencionados.

O administrador considerou uma mais-valia o curso de Engenharia Agronómica ministrado no Instituto Nimi a Lukeny, particularmente para o município do Soyo, cujas populações se dedicam, maioritariamente, à actividade agrícola.

"Os agrónomos são profissionais de extrema importância para um país com as características do nosso. Eles são capazes de adaptar os conhecimentos e as habilidades desenvolvidas ao longo do curso nos diferentes contextos e negócios, como por exemplo, nas fazendas, indústrias e laboratórios de pesquisas científicas”, frisou.

O administrador  louvou, também, a inclusão, no projecto, da ideia de plantação de cajueiros, espécie vegetal que produz o cajú, uma fruta considerada por muitos bastante deliciosa, de onde se extrai, também, a castanha e um suco que, quando fermentado, transforma-se em bebida alcoólica, localmente conhecida por Mbibidi, muito consumida no passado recente e que, segundo José Mendes Belo, tende a desaparecer devido ao derrube desenfreado dos cajueiros na região.


Destruição indiscriminada dos mangais

Numa ronda, o Jornal de Angola constatou que a destruição dos mangais persiste em várias zonas, ao longo da orla costeira e dos braços do rio Zaire, apesar dos apelos que são feitos por distintas entidades sobre a necessidade da preservação destes ecossistemas naturais.

Para além do abate indiscriminado, muitos dos locais com mangais tornaram-se, também, o destino final de entulhos e esgotos, estando sujeitos à poluição de resíduos sólidos, líquidos nocivos, entre outros químicos, pondo em perigo várias espécies existentes nestes lugares.

A configuração geográfica da cidade do Soyo assemelha-se a uma Ilha, pelo facto de estar circundada pelo mar e pelos vários braços do majestoso rio Zaire, pelo que a ausência dos mangais tem aumentado os riscos da ocorrência de inundações, já que a vegetação serve de barreira às águas.

Dados do Ministério do Ambiente consultados pelo Jornal de Angola revelam que o município do Soyo possui a maior zona de mangais em Angola, fruto da existência de cerca de 123 ilhotas com densas florestas, daí que vários ambientalistas têm defendido a necessidade de a sociedade local evidenciar maior responsabilidade no que toca à sua protecção.

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