Por conta de algum ajuste da pauta aduaneira, concretamente relacionada com a taxação dos produtos de uso pessoal, nos últimos dias, a Administração Geral Tributária (AGT) esteve, como se diz na gíria, na boca do povo. A medida gerou uma onda de insatisfação e, sendo ou não apenas a única razão, foi declarada a suspensão daquela modalidade de tributação, nova na nossa realidade.
Persigo, incessante, mais um instante para privilegiar o sossego. Para a parte maior da raça humana, pondero tratar-se da necessidade que se vai evidenciando quando a tarde eiva as objectivas da vida. Rastos de águas passadas há muito direccionam o moinho para a preciosidade do tempo.
Já se tornou habitual, na sociedade angolana, ainda que nalguns casos passe despercebidamente, a celebração do Dia do Pai, uma data que serve para reflexão, para tributar à figura paterna a merecida homenagem e encorajar aqueles que desempenham esse papel desafiador e honroso.
A data, independentemente dos contornos históricos ligados à sua génese, a componente comercial ou ainda a "raison d'être” que justifica a celebração, é já parte intrínseca da história e costume recentes do povo angolano.
Hoje é o Dia do Pai e importa que celebremos a efeméride para, entre outros, abordar a condição paterna na sociedade angolana, para lembrar os desafios e responsabilidades de ser essa figura relevante do agregado familiar.
A sociedade angolana, pelo conjunto de situações históricas vividas, nomeadamente o conflito armado cujas sequelas, tangíveis e intangíveis, persistem, as fracturas sociais, económicas e culturais, além dos processos de absorção de valores culturais "importados”, viu a figura do pai a conhecer profundas variações.
É verdade que essa figura, na nossa sociedade, se diluiu também em outras pessoas no seio familiar, desde o avô, o tio e, ás vezes, até o irmão mais velho que, obviamente, se podem dar felizes num dia como hoje.
Precisamos de reflectir sobre as responsabilidades paternais que, em muitos casos, tinham que ser precedidas de um aprendizado a partir de casa, onde os pais se deviam consciencializar de que a criação dos filhos acaba por ser, também, um processo de preparação de um futuro pai.
Não é sem razão que grande parte dos problemas que envolvem a fuga à paternidade, o exercício irregular do papel paternal, com maus-tratos e violência dirigidos aos dependentes, acabam por se reflectir na personalidade do futuro progenitor.
O desígnio de se ser um bom pai radica, fundamentalmente, na necessidade de se preparar um ente imbuído de valores, regras e costumes herdados do progenitor que procurou exercer sempre o papel paternal fazendo jus às atribuições e responsabilidades inerentes.
Acreditamos que não é fácil exercer esse papel, porque as mutações sociais sucedem a um ritmo acelerado, que coloca os pais e filhos em rotas completamente diferentes, e em que a escala de valores com os quais cada um lidou e lida chega a ser, às vezes, antagónica.
Mas, ainda assim, não é exagerado dizer que ao mesmo tempo que chega a ser um desafio exercer o papel paternal é, igualmente, uma honra em qualquer das circunstâncias, na medida em que constitui um privilégio de proporcionar ao filho o que se recebeu do pai ou de quem tenha exercido esse papel. Viva o Dia do Pai.
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