Em entrevista ao Jornal de Angola, a Subcomissária Teresa Márcia, 2ª Comandante Provincial de Luanda do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros (SPCB), que atende a área Operativa, falou sobre a operacionalidade e a actuação deste órgão do Ministério do Interior responsável pela salvaguarda da vida dos cidadãos e seus bens patrimoniais.E como não podia deixar de ser, falou do seu sonho antigo e concretizado de ser bombeira e dos desafios que as mulheres enfrentam nessa nobre profissão
A ministra das Finanças chefiou uma delegação angolana que participou, desde segunda-feira passada até domingo, em Washington, nas reuniões de Primeira do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista à Rádio Nacional e ao Jornal de Angola, Vera Daves de Sousa fez um balanço positivo das reuniões – oitenta, no total –, sendo que, numa delas, desafiou a Cooperação Financeira Internacional (IFC) a ser mais agressiva e ousada na sua actuação no mercado angolano. O vice-presidente da IFC respondeu prontamente ao desafio, dizendo que até está a contar ter um representante somente focado em Angola e não mais a partilhar atenção com outros países vizinhos na condução local do escritório do IFC. Siga a entrevista.
A República da Guiné-Bissau assinalou, domingo, dia 24 de Setembro, o quinquagésimo aniversário da sua Independência Nacional. Nesta entrevista concedida, em exclusivo, ao Jornal de Angola, o embaixador Apolinário Mendes de Carvalho fala dos novos rumos do seu país e da relação de irmandade que tem com Angola.
Senhor embaixador, apesar do longo processo de luta, a Guiné-Bissau foi o primeiro país dos PALOP a obter a independência nacional. Como foi possível alcançar isso?
De facto, fomos os primeiros a proclamar a independência, em 1973, depois de uma das lutas armadas mais bem-sucedidas em África, que permitiu libertar mais de dois terços do território nacional. Amílcar Cabral lançou a estratégia que estava a preparar desde 1965, para o reconhecimento da Guiné-Bissau como um Estado não colonizado, mas ocupado ilegalmente por uma potência colonial estrangeira. Ele desenvolveu esta estratégia diplomática a nível das Nações Unidas e da Organização da Unidade Africana e, também contou com o apoio do Movimento dos Não-alinhados.
Mas foi um longo processo…
Sim, e conseguiram, depois de uma missão das Nações Unidas para a certificação das zonas libertadas, que, consequentemente, ajudou a desenvolver as zonas internas que levou a Assembleia constituinte à proclamação da nossa independência nas Colinas de Boé, a 24 de setembro de 1973 e, imediatamente, mais de quarenta estados de África, Europa do Leste, asiáticos e cerca de 40 africanos, alguns da Europa do Leste e latino americanos reconheceram-nos como Estado soberano.
Onde é que o senhor estava no dia 23 de Setembro de 1973?
Como deve imaginar, eu era uma criança e apenas passei a acompanhar todo este processo à medida que fui crescendo. O meu pai foi uma pessoa ligada ao PAIGC e foi preso durante três anos. Nós ainda não tínhamos percebido isto, mas à medida que fomos crescendo, na escola ouvíamos os mais velhos a utilizarem termos como terroristas ou turras. Também havia um canal de rádio que não podíamos ouvir.
Os angolanos, quando ouvem falar do seu nome (Apolinário Mendes de Carvalho) ficam todos curiosos em saber se tem ligações familiares em Angola…
É verdade. Sabemos que Mendes de Carvalho é uma família muito conhecida e ilustre em Angola, que se destacou durante a Luta de Libertação Nacional com Hoji Ya Henda e Agostinho Mendes de Carvalho. Digo que é apenas uma coincidência porque, minha família não tem ligação nenhuma com Angola, mas sim com Cabo-Verde. Muitos angolanos quando ouvem este nome interrogam-se. Lembro-me, a quando da primeira entrevista na TV Zimbo, algumas pessoas tinham dito que eu não era guineense e sim angolano. Um dos funcionários que trabalha comigo teve imensas dificuldades em convencer o pessoal. Mas também já tive a oportunidade de conhecer alguns membros da família Mendes de Carvalho. A outra grande coincidência tem a ver com o Liceu Hoji-Ya-Henda, localizado na cidade de Bafatá, onde frequentei o ensino secundário.
Como vivem os cidadãos guineenses em Angola?
Costumo dizer que a aproximação é tanta, não só pelo nome, mas, também, pelas diversas situações que o embaixador de um país como a Guiné-Bissau vê-se obrigado a explicar muitas vezes que não é angolano. Tudo porque muitas pessoas, não sei se é pela minha aparência física ou outra qualquer acham que sou angolano. É um aspecto bom e que nos dá o prazer de representar o meu país e interagir com a simplicidade que se impõe com os angolanos.
Tem sido fácil sair da pele de diplomata?
Existem momentos em que nós somos diplomatas e outros que podemos ser simples cidadãos dos PALOP. Desde que cheguei a Angola que tenho sido mais diplomata, mas em alguns momentos acabo por fazer a faceta de académico e, agora, aqui encontrei muitos antigos colegas, facto que tem permitido que aos poucos a vertente académica esteja presente com algumas apresentações em conferências e, também, me facilita escrever alguns temas em livros sobre a minha formação em Ciências Políticas ou Relações Internacionais, onde tenho um doutoramento, bem como noutros domínios de desenvolvimento e cooperação internacional que, também me interessam muito. Então tenho sempre estas camisas vestidas como académico, diplomata ou embaixador, mas penso que modéstia a simplicidade, se soubermos usar em certos momentos caberá em cada uma destas facetas num contexto mais apropriado e necessário. Estamos aqui como cidadãos de África e dos PALOP e, aqui sentimos esta fraternidade, esta responsabilidade de acompanhar um país irmão.
O senhor embaixador, a comunidade e sua equipa de trabalhos celebram em grande os 50 anos de independência da Guiné-Bissau?
Sim, porque nós tivemos que avançar com um programa ambicioso. Olhando para a dimensão das nossas relações político-diplomáticas, culturais e outras, sobretudo para resgatar a imagem do país, que está muito ofuscada. Eu sei que muitos angolanos esperam que a Guiné-Bissau alcance a paz efectiva. Sinto que os angolanos gostam muito do meu país e, por isso querem vê-lo a atingir um nível de desenvolvimento que possa corresponder com as expectativas. Nada melhor que aproveitar as comemorações dos 50 anos e apresentar um programa com vários atractivos, onde vamos poder mostrar a nossa gastronomia, homenagear alguns membros da nossa comunidade em Angola, com destaque para as "Padita di dus mama" ou seja "Mães de dois seios”, aquelas que acolhem os seus filhos e de outras, que tiveram um papel fundamental na inserção de muitos guineenses em Angola. A par disso, trouxemos Eneida Marta e Justino Delgado, dois dos maiores expoentes da nossa Cultura Nacional. Também teremos dança, desfile de roupas tradicionais e muitos outros atractivos.
Parece que já está muito familiarizado com a cultura e gentes de Angola?
Sim, como disse, tenho muitos antigos colegas e já estive aqui várias vezes. Em Portugal convivi com outros tantos. Temos uma história em comum. De salientar que, durante a luta que culminou com a conquista da Independência de Angola, estiveram aqui soldados guineenses. Aliás, Amílcar Cabral também esteve aqui.
Sente que a cultura guineense está presente aqui em Angola?
Sinto isso em ambientes festivos, sobretudo quando tocam as músicas de cantores guineenses como Atanásio, Janota, Justino Delgado, Manecas Costa, Karyna Gomes, Tabanka Djazz e outros mais antigos. Há um desconhecimento grande da música de artistas da nova geração. Penso que devemos fazer um maior esforço na diplomacia cultural, para que haja maior conhecimento do que acontece nos dois países. É importante que nomes como José Carlos Schwartz, Gobiana Djaz, Super Mama Djongo e Flora Gomes, do lado musical, sejam conhecidos pelos mais novos, porque marcam o período da arte com resistência. Há, portanto, algumas iniciativas dos promotores de eventos. Por exemplo, o músico C4 Pedro esteve na Guiné-Bissau, em concerto, e foi muito bem-recebido.
Faça um breve balanço das jornadas alusivas à festa da vossa independência…
Começamos com um encontro com os membros da nossa comunidade em Angola, que decorreu na Casa Viana, no dia 2 de Setembro. Nós pretendemos estar mais presentes e coesos, porque temos cidadãos que estão em Angola pelas diferentes organizações internacionais, e uns tantos outros que não estão cadastrados pela embaixada. No dia 9 de Setembro estivemos no Memorial Dr. António Agostinho, onde falamos do "Impacto da Proclamação da Independência da Guiné-Bissau" e, também, das independências de outros países africanos. Foi um momento singular, que representou uma viragem estratégica das organizações nacionalistas das colónias portuguesas, que permitiu construir um estado irreversível. Foi um duro golpe para os portugueses, que impulsionou o movimento dos Capitães de Abril. Na ocasião, também foram debatidos temas sobre os ideais de Amílcar Cabral, que chegaram tão longe ao ponto de fazer parte da luta de vários movimentos de libertação contra o Apartheid.
"Temos uma história comum”
O senhor embaixador fala de Amílcar Cabral, mas parece que os seus feitos são mais valorizados em Cabo-Verde do que na Guiné-Bissau?
Não é verdade, porque ele continua a ser visto e respeitado a todos os níveis, político, académico. Mas há um déficit, como o que acontece a nível de quase todos os países, os pensamentos dos pais fundadores das nações não são estudados pelas novas gerações. Tem faltado algum patriotismo e penso que qualquer sociedade precisa de fazer um enquadramento ideológico. Amílcar Cabral é um património guineense, mas o seu pensamento deve ser enquadrado no contexto actual.
Nestes cinquenta anos de independência sente que a Guiné-Bissau está a viver uma fase boa, de estabilidade sociopolítica?
Sim, há um esforço e, olha aqueles países que antes desacreditaram a Guiné-Bissau, agora são eles que enfrentam situações complicadas.
Preocupações que o académico Apolinário Mendes de Carvalho levanta no livro "Fragilidade dos Estados e os desafios da (re)construção e da cooperação”?
Exactamente como diz a sinopse do livro: a (re)construção dos Estados com profundas fragilidades é examinada no quadro da ordem internacional liberal e à luz das contradições e dos dilemas que caracterizam as agendas políticas e securitárias dos actores externos. As contradições e fraquezas das agendas de intervenção externa, particularmente do statebuilding, e o debate sobre o paradigma do Estado para os países com profundas fragilidades merecem atenção. O enfoque é colocado na fragilidade dos Estados em África, argumentando-se que podem ser explicadas, simultáneamente, por factores endógenos e exógenos, ou seja, pelas dinâmicas internas de poder, construções e experimentações políticas, trajectórias históricas e consequências das intervenções externas que provocaram ou aceleraram a (des)construção e o disfuncionamento das instituições políticas, sociais e económicas. As consequências das intervenções externas sobre o aumento da fragilidade dos Estados merecem particular atenção, num exercício de análise dos impactos das reformas económicas neoliberais e dos efeitos da liberalização política e democratização sobre a estabilidade, segurança e desenvolvimento em África.
Perfil
Apolinário Mendes de Carvalho
é doutorado em Ciência Políticas, na especialidade de Relações Internacionais, pelo ISCTE-IUL, Mestre em Desenvolvimento e Cooperação Internacional pelo ISEG-Universidade Técnica de Lisboa e Mestre em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais e Direito Internacional da Universidade de Kiev/Ucrânia.
Docente universitário e ex-Reitor da Universidade Católica da Guiné-Bissau.
Diplomata sénior com mais de trinta anos de carreira. Desempenhou várias funções na diplomacia guineense, entre as quais de embaixador da Guiné-Bissau junto da União Europeia e do Sistema das Nações Unidas em Genebra, embaixador nos países Benelux e Suíça, e Representante Permanente junto da CPLP durante a Presidência pro tempore da Guiné-Bissau.
É autor do livro "Política Externa da Guiné-Bissau Face aos Novos Paradigmas nas Relações Internacionais”.
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