Opinião

A hierarquia do bem

Carlos Calongo

Jornalista

A família, a vida e o amor perfilam dentre outros valores, nas posições de maior destaque no eixo da hierarquia do bem, observada de forma comum por todos os humanos que atribuem aos referidos valores, elevada simbologia na relação entre os homens, bem como o melhor tributo à prossecução do bem comum.

27/02/2021  Última atualização 09H03
Em relação à família, não é mero acaso a aceitação à escala planetária, da sua definição mais básica de ser o núcleo fundamental da organização da sociedade e objecto de protecção do Estado, quer fundado no casamento ou em união de facto, de onde emergem os valores considerados indispensáveis nas relações humanas e sociais.

É a família, a mais exemplar e democrática oficina de instrução dos valores de pendor educativo perene e que trespassam gerações, concorrendo para o que de melhor uma sociedade deve possuir como herança colectiva, tarefa que, mais uma vez, deve interessar e ocupar todos os seres humanos.

Aliás, as questões familiares, tão seculares quanto a própria vida, com marco na concepção divina, são temas de abordagens multifuncionais, que desembocam, sempre, em apelos reiterados pela necessidade de ser dispensada toda a atenção à família que, quando sã, reflecte-se positivamente na sociedade.

Em termos académico-científicas, as abordagens dos assuntos da família são feitas em sede de uma disciplina normalmente conhecida por "Direito da Família”, ramo do Direito Civil, que trata das relações familiares e das obrigações e direitos decorrentes dessas relações, onde o casamento, a união estável, as relações de parentesco, a filiação, alimentos, bem de família, tutela, curatela, guarda, entre outros, corporizam o fulcro do assunto.

Sobre a matéria, há que ressaltar, também, o estabelecimento de alguns princípios como o da solidariedade social da família, reconhecida como objectivo da República no sentido da construção de uma sociedade livre, justa e solidária, imperando o dever de garantia absoluta atribuída aos direitos de formação em sentido integral.

No caso de Angola, salvaguardado no Artigo 35º (Família, casamento e filiação), da Constituição da República, o valor da hierarquia atribuído à família alargam o conceito de família, permitindo a "adopção” dos amigos, colegas e vizinho, correligionários, sendo que muitos destes chegam a usufruir de maiores "privilégios”, que parentes consanguíneos, na relação diária.

Por via da última parte do parágrafo imediatamente precedente, entende-se que a sociedade angolana tem condições para um modelo de convivência salutar, factor bastante que permite questionar as razões para o registo de elevados crimes nas famílias e entre familiares, cujos relatos são de bradar aos céus, sobretudo quando o clímax representa o triste momento em que se põe fim a vida de outrem.

É um exercício bastante complexo aceitar e compreender quaisquer que sejam as motivações apresentadas como fundamento para o cometimento de crimes na família, crimes sobre a vida humana, entendida na mais ínfima definição de ser o maior património da humanidade.

Do termo latino vita-, a vida  é um conceito muito amplo e admite diversas definições, que vão desde o processo em curso do qual os seres vivos são uma parte, ao espaço de tempo entre a concepção e a morte de um organismo, passando pela condição de uma entidade que nasceu e ainda não morreu ou seja, àquilo que faz com que um ser esteja vivo.

Aqui chegados, e em face do sentido fulcral atribuído ao texto, a hierarquia do bem apela ao uso permanente e sem esperanças de recompensas materiais em termos do amor, pois toda a expressão de amor é uma emoção ou sentimento que leva uma pessoa a desejar o bem à outra pessoa ou a uma coisa, para além dos significados que o vocábulo empresta e permite, sobretudo na óptica religiosa e filosófica.

Em substância, advogamos uma introspecção colectiva dos angolanos, elevando o sentido e sentimento do bem comum, para a compreensão e exercício dos valores da hierarquia do bem, salvaguardado dentre eles, a família, a vida e o amor.

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