Em Angola, como em muitos países do mundo, o 1º de Maio é feriado nacional e costuma ser celebrado com marchas e comícios, em que se fazem discursos reivindicativos de direitos dos trabalhadores. Não é uma data qualquer.
Hoje, a nossa Nação e, particularmente, a comunidade jurídica assinala um ano da entrada em funções dos juízes de garantias, magistrado com dignidade constitucional que, entre nós, passou desde 2 de Maio de 2023 a ter a responsabilidade de salvaguardar os direitos individuais de qualquer pessoa alvo de investigação por um suposto acto criminal derivado da sua conduta.
Para os mais optimistas, a guerra na faixa de Gaza que opõe Israel ao grupo palestiniano Hamas parece ter os dias contados, com os Estados Unidos, Qatar e Egipto a tentarem encontrar um acordo de cessar-fogo prolongado entre as duas partes, que permita a troca de reféns.
Israel e o Hamas têm estado a analisar a proposta de acordo saída do encontro realizado domingo (28.01), em Paris, que reuniu os chefes de inteligência de Israel, Estados Unidos, Egipto e o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, negociador em nome do grupo palestiniano.
Nos próximos dias espera-se que algo mais substancial seja comunicado à imprensa e ao público, nomeadamente os detalhes do acordo, em particular o período que deverá durar o cessar-fogo (algumas fontes avançam o prazo de 60 dias), as fases em que deverão ocorrer as trocas de prisioneiros, a entrada de ajuda humanitária em Gaza, etc.
Não há, agora - e é bom realçar -, uma convergência de pontos de vista entre o Governo israelita e os Estados Unidos sobre a duração do cessar-fogo. Enquanto Benjamin Netanyahu fala de um cessar-fogo temporário, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, já se pronuncia no sentido de um cessar-fogo prolongado que possa levar ao fim do conflito.
Da proposta de acordo em discussão, e à espera de aprovação por Israel e pelo Hamas, sabe-se que o cessar-fogo teria uma primeira fase de 45 dias de cessação das hostilidades em Gaza, altura em que até 40 reféns seriam libertados em troca de 4 mil palestinianos. Na segunda fase, os soldados israelitas e os prisioneiros do sexo masculino seriam libertados em troca de outros tantos milhares de prisioneiros palestinianos. Numa terceira fase, os corpos dos soldados israelitas seriam trocados por mais prisioneiros.
Contas feitas, esse processo pode consumir dois meses para a sua concretização. Dois meses é, também, tempo suficiente para congelar as operações militares israelitas e levar o Governo de Benjamin Netanyahu a um banho de realidade.
A continuação da guerra, que Netanyahu e as forças de extrema-direita israelitas defendem, já não é apoiada pelos Estados Unidos nem pela União Europeia. No Médio Oriente, vários países árabes têm estado a pressionar para o fim do conflito. Mesmo a Arábia Saudita, que representa uma posição política de peso na região e que tinha encetado laços com Tel Aviv, condiciona agora o estabelecimento de relações com Israel à existência de um Estado palestino com soberania.
Essa é uma realidade que o Governo de Netanyahu não aceita, porque entende que deve manter o direito de controlar e intervir militarmente em território palestiniano, a exemplo do que tem feito e fez segunda-feira, quando um grupo de operacionais seus, disfarçados de pessoal médico, entrou num hospital em Jenin, na Cisjordânia, e executou três palestinianos por considerar serem militantes do Hamas.
Para os Estados Unidos e a União Europeia, a continuação da guerra é agora um risco, pelos custos políticos e, sobretudo, económicos que pode representar, com influência negativa na navegação marítima no Mar Vermelho e no Canal de Suez. Numa altura em que a inflação nessas economias está a ficar sob controlo, em que se assiste ao que os economistas estão a chamar de "aterrissagem suave e sem recessão”, o pior que pode acontecer é a manutenção de uma situação susceptível de fazer descarrilar tudo.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrel, foi claro em dizer, quarta-feira, que a União Europeia está preocupada e tomou medidas para normalizar a navegação no Mar Vermelho e no Canal de Suez, porque a paralisação está a afectar as empresas, os preços e a induzir o aumento da inflação.
O cerco aperta-se sobre Benjamin Netanyahu e as forças que o apoiam. Apercebendo-se disso, em Israel, a extrema-direita também está a sair à rua, a realizar manifestações, a defender colonatos para a Faixa de Gaza. Porém, no Ocidente, há vozes contra e promessa de sanções.
Sinal de que o cessar-fogo prolongado pode abrir caminho a mudanças políticas em Israel é o facto de, a semana passada, mais de 40 ex-combatentes e oficiais de inteligência israelitas, líderes empresariais e diplomatas terem exigido, através de uma carta enviada ao Parlamento e ao Presidente do país, a "remoção imediata” do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu do cargo.
Nessa missiva, os subscritores consideram que Netanyahu é, hoje, um "perigo claro e presente” para o Estado de Israel enquanto permanecer na liderança. Portanto, a reconfiguração política está em marcha.
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