Opinião

Alguém viu por aí o Prémio Nacional de Jornalismo?

José Luís Mendonça

Nem tudo no nosso país está assim tão mal como o pintam os grafitos de certas paredes. No ano que findou, com o coronavírus a nos separar das agitações congregadoras, foram anunciados e outorgados o Prémio Nacional de Cultura e Artes e outros galardões com um certo historial e tradição na praça da cultura e do jornalismo.

27/02/2021  Última atualização 09H00
Mas faltou uma notícia em 2020. A notícia dos resultados do Prémio Nacional de Jornalismo, criado pelo Ministério da Comunicação Social em 2008. As candidaturas e respectivas peças foram entregues aos pontos focais, em devido tempo e, chegados a Dezembro de 2020, ninguém do nosso ministério teve a amabilidade de informar quais os resultados do concurso de jornalismo.

O silêncio absoluto costuma ser uma estratégia de resposta para muitas outras situações em que o utente de um serviço público espera uma resposta. Ele há casos, até, em que a Lei favorece o cidadão, quando quer realizar obra de melhoria habitacional. Na ausência de resposta escrita sobre o pedido de licenciamento, decorrido o prazo de seis meses, pode o peticionário iniciar a sua obra.

Mas o Ministério da Comunicação Social não pode nem deve embarcar nessa estratégia. Para isso, teria de mudar de nome. Só o substantivo Comunicação, para além do significado próprio, implica uma responsabilidade ética e moral e um dever republicano que o afasta de certos comportamentos auto-mutistas recorrentes na nossa Administração. Comunicar, todos ou quase todos sabemos que é o acto ou acção de tornar comum qualquer coisa, facto ou acontecimento, ou muito simplesmente, conversar. Ora, se também se pode conversar consigo mesmo, naquilo que se convencionou chamar de monólogo, não estamos a ver como é que um órgão tão vasto, com tanta gente a funcionar no seu bojo diariamente e com custos para o OGE, se ponha a falar consigo mesmo! Quando um órgão do Estado se põe a falar para dentro, algo terá de sair cá para fora: ou para o Conselho de Ministros; ou para o público, a sociedade. Uma informação que interessa aos governados abrangidos pelo pelouro desse órgão tem, necessariamente e em tempo certo, de sair de dentro do bojo dele, para o público-alvo. Não que essa informação não interesse também ao público em geral. Interessa, sim Senhor!

Interessa ao público-alvo, os jornalistas dos diversos órgãos de informação, e concomitantemente ao público em geral, saber qual o destino dado a um concurso criado há 12 anos pelo Governo e as razões da sua não divulgação em 2020. Ainda que por mero respeito por quem concorreu, jornalistas, pessoas que lidam diariamente com a informação e a comunicação social, diferentes, portanto, em questões de métier, do comum dos mortais.

Chegados a este ponto da reflexão em torno da suspensão do prémio estatal de jornalismo, cai sobre a página esta pergunta: "que destino foi ou será dado às obras concorrentes?” Caixote do lixo? Esteve um jornalista a trabalhar arduamente, com tanta devoção, durante um determinado tempo, numa peça jornalística, concorre ao prémio, e depois essa peça é ignorada pelo próprio órgão que faz a gestão da Comunicação Social angolana?

Do meu modesto ponto de vista, o Prémio Nacional de Jornalismo não pode ser suspenso, entrar em hibernação como os ursos do Pólo Norte, sem que a gordura acumulada durante o parco Verão seja bem aproveitada. Que o ministro Manuel Homem, ou mesmo o secretário de Estado Nuno Carnaval, mande reacender a chama desse galardão que muito prestigia não só a classe, mas o próprio Governo, por ser, também, uma forma de justiça distributiva dos recursos do Estado, para além de representar um toque directo de afecto deste para com o homem da tarimba info-comunicativa.

E o que fazer com as peças já entregues a concurso? O concorrente não é nem deve ser, de alguma forma, penalizado pela suspensão temporária do concurso de jornalismo. Por isso, seria justo que o patrocinador e promotor do Prémio Nacional de Jornalismo considerasse e transferisse as peças entregues no ano transacto, para a edição deste ano, podendo, até, juntar-lhe peças entregues no ano que agora transcorre. Parece-nos ser uma solução justa e equitativa.
Para terminar, que o anúncio da edição deste inclua uma explicação sobre as razões que determinaram a silenciosa suspensão do prémio no ano passado. Tudo numa boa, como dizemos nas redacções. Ou melhor, sem maka!

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