Reportagem

CSN do Namibe conquista o céu

Rosa Napoleão

Jornalista

Competência. Sapiência. Nobreza. Assim se descreve a consagração do CSN do Namibe na classe júnior e sénior do Campeonato Nacional de Ginástica, disputado até sábado no pavilhão número 1 da Cidadela Desportiva em Luanda.

22/08/2023  Última atualização 08H40
Namibe, Lunda-Sul e Huambo dominaram o pódio © Fotografia por: Edições Novembro
Os vencedores varreram o chão e o céu com acrobacias únicas das terras das mumuílas. A beleza na arte de gingar pintou corações com alegria e admiração. De adeptos. Dirigentes. Curiosos. E do corpo de jurados.
A unanimidade na atribuição dos 243 pontos é convincente. A equipa campeã exibiu-se com o rótulo de dona do título das classes de iniciados e de juvenis de 2022. A tenacidade permaneceu a mesma, agora, nas classes adultas. A destreza na execução de exercícios tocou profundamente a equipa de avaliação.

Do lote de 300 atletas, 41 são da cidade de Moçâmedes. Os melhores da competição. As 11 medalhas de ouro, cinco de prata e duas de bronze espelham a pujança de um grupo de adolescentes e de jovens comprometidos com o desporto nas terras desérticas.

Das guerreiras destaca-se a presença de Zilma Nancali, medalhista de ouro no aparelho de arco, bola e massa rítmica; e Elizabeth Mangundo vencedora do ouro da ginástica rítmica geral.

Em busca de um lugar ao sol, o planalto central trouxe a Luanda a capacidade de controlo e de bem fazer. O representante local, o 4 de Junho do Huambo, é um adulto sem erros de criança. Convicto para alcançar o título, entrou destemido na quadra.

Um ligeiro atraso no movimento de um dos exercícios tirou-o do lugar mais alto do pódio. O grupo fez esquecer as malabarices dos ginastas de Luanda, que se furtaram participar das competições qualificativas, e ofereceu ao público o melhor produzido nas terras do Wambo wa Kalunga. Os 168 pontos granjeados serviram para se exibir no segundo lugar do pódio, resultantes de cinco medalhas de ouro, quatro de prata e cinco de bronze.

A luta pelo último lugar do púlpito ficou a conta das agremiações sem condições de trabalho. Com sacrifício e abnegação, exibiram-se com "o melhor” à disposição. Deste grupo, destacou-se o Clube da Lunda-Sul. A equipa do leste somou 141 pontos, em decorrência de quatro ouro, três prata e cinco bronze. Weza Paulino foi responsável pelo ouro na aeróbica individual sénior e Alberto Graça é dono do ouro na aeróbica júnior. Com olhos pregados ao pódio, desfilaram das bancadas outras equipas.

 XLAC de Luanda, a única da capital do país presente no evento, somou 102 pontos. Leonor Moko conquistou o ouro no aparelho de bola e Jacqueline Moke levou o ouro na aeróbica individual júnior. Sporting da Lunda-Sul (75), A.T. Gymn (42), Petro do Huambo (39), Escolinha Apolónia de Cabinda (27) e Jean Piaget de Benguela (24) completam a lista. 

INICIADOS E JUVENIS

Com 126 pontos, a Escolinha Apolónia de Cabinda foi a "rainha” das classes de iniciados e de juvenis. A equipa levou para as terras da madeira o troféu de campeã nacional. A alegria é fruto de quatro ouro, quatro prata e dois bronze.

A CSN do Namibe contentou-se com 120 pontos. A nova geração de ginastas não teve a mesma petulância da anterior para assegurar o título conquistado em 2022. A fragilidade exibida custou-lhe o lugar mais alto do pódio. Com quatro ouro, duas pratas e quatro bronze, contentou-se com o segundo lugar.

As terras altas da Chela marcou presença no púlpito com o Sporting Clube do Lubango. Um dos nomes sonantes é o de Pedro Manuel, vencedor da aeróbica sénior. Os "leões” rugiram baixinho e não amedrontaram os adversários. A cada passo, havia um entrave. As cinco medalhas de ouro obtidas foram insuficientes para superar os quatro ouros do antecessor. A quebra no número de prata e de bronze ditou-lhe o último lugar do pódio. Assim regem os regulamentos da competição.

Fora do pódio desfilaram o XLAC de Luanda (90 pontos), Clube da Lunda-Sul (60) e Jean Piaget de Benguela (51).

SEGUNDO LUGAR
Decepção de Pedro  Fula

Decepção é a palavra que caracteriza a participação de Pedro Fula no Campeonato Nacional de Ginástica, disputado em Luanda. O atleta do Clube da Lunda-Sul está descrente na classificação obtida: segundo lugar na tabela geral.

O atleta mais experiente da especialidade de tumbling da equipa do leste do país promete alterar a posição no quadro da Taça de Angola. Para o efeito, vai trabalhar "duro”.

A medalha de prata conquistada pela equipa "foi uma decepção” por falhar a conquista da meta definida.

"Falhei o meu objectivo. Consegui o segundo lugar com a medalha de prata, mas gostaria de levar o ouro. Deparei-me com alguns obstáculos no momento, apesar de treinar muito para esta competição. Não consegui alcançar a meta”, sentenciou-se.

Com olhos no futuro, só o lugar mais alto do pódio interessa. Fula promete ser "o óleo de cozinha” para deslizar nas quadras na Taça de Angola: "Vou mudar o quadro. Quero conquistar o primeiro lugar do pódio e erguer a medalha de ouro. Quero dar alegria à minha equipa”.

A promessa tem sustentação num passado "efémero”. "Cometi alguns erros básicos que não quero repetir”.

Pedro Fula é dono de vários títulos nacionais e provinciais. Além fronteira, conserva medalha de prata no Campeonato Africano, disputado no Egipto. Tem participações nos Jogos Africanos de Marrocos,  Jogos da Juventude na Argélia e Campeonato do Mundo da Rússia, onde Angola se quedou em 11º lugar.

ONZE MEDALHAS
Chuva de ouro

Com perspicácia, o grupo treinado por Henriques Chitumba convenceu os júris em todos os exercícios de solo e do céu. A sincronização no movimento em cada uma das especialidades não teve rivalidade. A perfeição e a maturação casaram-se numa simbiose única e ímpar. A força aliada à elegância foi a nota convincente nas provas das classes juniores e seniores.

As 11 medalhas de ouro conquistadas na prova nacional pelo CSN do Namibe tiveram assinaturas dos melhores ginastas. São campeões por mérito. A esses se juntam cinco pratas e dois bronzes.

Sem rival à altura, Zilma Nancali dominou na ginástica rítmica. A campeã dominou o aparelho com os olhos fechados. Não se contentou com uma medalha e buscou fazer história na competição. Com sagacidade de sempre, desceu à quadra para testar o aparelho de arco. A boa exibição e perfeito desempenho valeu-lhe um segundo ouro.

A saga de conquista de medalhas continuava aberta. Nancali também levou a medalha de prata no aparelho de bola.

O feito das namibenses voltou a estar na voga na rítmica geral. Elizabeth Manguno mostrou as razões para constar da elite de ginastas nacionais. Os dois ouro ao peito são méritos pela qualidade elevada. A campeã nacional dominou nos aparelhos de bola e de massa.

A consistência da elegância das mulheres "mumuílas” inscreveu outros nomes na lista de "ouradas”. Nos saltos de tumbling, Angelina Calitoco e Elistilde Chivinga ocuparam o primeiro lugar do pódio. Deolinda Faustino, Érica Ferreira, Cassessa Gaspar e Daielze Vihemba completam a lista.

Nos escalões de iniciados e de juvenis, o CSN do Namibe conquistou o segundo lugar da classificação geral com 120 pontos, resultantes de quatro medalhas de ouro, duas de prata e quatro de bronze.

ÉPOCA DESPORTIVA 2023
Troféu da Taça de Angola é último objectivo do ano

O troféu da Taça de Angola é o próximo objectivo da equipa CSN do Namibe. A campeã nacional de ginástica das classes juniores e seniores pretende encerrar a época desportiva com a conquista de todos os títulos.

Emocionado, o treinador principal Henriques Chitumba garantiu não arregaçar as mangas até à consumação do último objectivo.

"Estamos na nossa melhor fase, os atletas estão motivados, fruto dos resultados positivos alcançados. Portanto, a Taça de Angola é o próximo passo a conquistar”, aferiu, em declarações ao Jornal dos Desportos.

A missão parece espinhosa para a equipa do Namibe. O regresso das principais equipas de Luanda é uma possibilidade aberta. Henriques reconhece os picos produzidos pelo Petro de Luanda: "Respeitamos os nossos adversários, mas estamos a regressar não para repousar. Continuaremos a trabalhar para consumar os objectivos”.

O treinador reiterou que a agremiação busca um lugar cativo no pódio da ginástica do país e esclarece o preço a pagar: "Estamos a crescer. As nossas conquistas são frutos de muito trabalho e sacrifício. Acumulamos títulos de campeões nacionais de iniciados e de juvenis de 2022, ganhámos a Taça Municipal de Cacuaco e, neste nacional, ficámos com o título nos escalões de juniores e seniores. Dêmos um grande salto”.

A perseverança da equipa de Moçâmedes resulta da vontade de melhorar as competências desportivas. Compenetrada na estrada das acrobacias, o CSN contribui na projecção da imagem de Angola nas competições internacionais. Chitumba tem de cor os nomes daquelas ginastas com impressões digitais nas competições africanas e mundiais.

"Temos a Elizabeth Mangundo e a Angelina Calitoco. São ginastas muito fortes na ginástica rítmica e constam das convocatórias das selecções nacionais com regularidade”, citou.

O sucesso da equipa do Namibe tem um dedo indicador: o governo provincial, liderado por Archer Mangueira, segundo Henriques.

"Temos a sorte de receber todo o apoio do nosso governo da província, especialmente, da empresa CSN, a nossa parceira de sempre. Mesmo com as dificuldades, conseguimos realizar os treinos e as provas internas com regularidade. Os apoios são fundamentais para o crescimento da equipa”, referiu.

O responsável da equipa técnica endereça um "forte abraço” aos pais e aos encarregados de educação pelo contributo moral prestado à colectividade, em especial a confiança depositada.

"Não é fácil trabalhar com crianças. Felizmente, recebemos todo o apoio dos pais e de encarregados de educação. Muitos disponibilizam o seu tempo para levar os filhos aos treinos. Acreditam no nosso trabalho e temos o dever de recompensá-los”, reconheceu.

Diante da nova empreitada à vista, o treinador apela à colectividade, mormente, pais, encarregados de educação, atletas e patrocinadores a cerrar fileiras para o último objectivo da época desportiva em Novembro: a Taça de Angola.de bronze.             

RECONHECIMENTO
Federação homenageia parceiros

A Federação Angolana de Ginástica homenageou, no sábado, às instituições, dirigentes e antigos ginastas pelo contributo prestado à modalidade ao longo dos últimos anos. A presidente Elsa Pitra atribuiu diplomas de mérito no acto de encerramento do Campeonato Nacional disputado no anexo nº 1 da Cidadela Desportiva.

Em palavra de apreço, a presidente enalteceu os membros do Comité organizador do evento e a participação dos 258 atletas de oito províncias.

"Os atletas saem daqui satisfeitos. A competição foi aguerrida. Dou os parabéns a toda equipa que trabalhou na organização do evento. O esforço de cada um fez com que fosse possível alcançar o sucesso. As minhas felicitações estendem-se às instituições que deram o seu apoio para tornar possível a competição”, felicitou.

Para a dirigente,”o evento superou as expectativas” pela qualidade da organização. "Apesar de poucos recursos, conseguimos ter uma grande festa, recheada de entretenimento. Os atletas esforçaram-se bastante e, mesmo com este volume de dificuldades, demonstraram ser possível. Esperamos que, com essa dedicação e empenho, apareçam apoios para a melhoria da qualidade competitiva”, frisou.

Da lista das instituições homenageadas destacam-se o Ministério da Juventude e Desportos, Direcção Nacional dos Desportos, Governos Provinciais de Luanda, Lunda-Sul, Namibe, Cabinda e do Huambo; Administrador de Cacuaco, Auzílio de Oliveira Martins Jacob, a Polícia de Intervenção Rápida (PIR) e Polícia Nacional de Angola (PNA).

Foram igualmente homenageados as personalidades Maria Garcia, Nguesa Lukeni Francisco Campos, Dibango Manuel Mateus, Natacha Cristina Gomes Fortes, Rosa Jurema Baptista Fernandes,  Jandira Ancia de Sousa Castro, , Semba Miguel Tango e Bruno da Silva, Carla Graciela Gomes Fortes, Dilandua Muendo Pedro, Jurelma de Cristóvão de Carvalho,Fernando João Caetano Ngongo, Miriam Telma Gonzaga Valentim, Fernanda Sebastião da Rocha, Cláudio José Vaz Garcia. Liria Guiomar Alvarenga Francisco, José Eduardo de Castro Baquissi, Júlio Marques Arsénio, Alioune Pedro, Filipe Tango Francisco,  Kuedi Afonso,  Ana Etuamba, Francisco Manuel Eduardo, Márcio António Salapuso.

MANGAS  ARREGAÇADAS  
Elsa Pitra  projecta  última prova

Em meio à festa de consagração do CSN do Namibe, Elsa Pitra já arregaças as mangas para projectar a Taça de Angola agendada na segunda semana de Novembro em local a indicar. A presidente da Federação Angolana de Ginástica pondera a realização do evento na província do Bengo.

Em declarações à imprensa, Pitra esclareceu que o evento estava previsto para Cabinda, mas questões de logística inviabilizam a deslocação de todas as equipas filiadas na Federação Angolana de Ginástica.

"A Taça de Angola coincide com a independência nacional. Queríamos realizá-la em Cabinda, mas está fora da programação por causa de transportação. Não há via terrestre para a aquela circunscrição, então temos problemas de transporte”, frisou.

Os clubes não dispõem de dinheiro para custear os bilhetes de passagens das companhias aéreas. Os valores cobrados são considerados "altos”. Pela importância do evento, Caxito é a localidade mais próxima de Luanda.

Elsa Pitra explica: "O Zonal Norte foi realizado nas terras de Maiombe, onde tivemos apoio da Força Aérea Nacional na transportação dos atletas. A Taça de Angola congrega um grande volume de atletas. Então, estamos a pensar no Bengo e trabalharemos com as entidades locais do governo para acolher o certame”.

FUTURO

A dirigente afirmou que a ginástica está a crescer, mas em ritmo lento por falta de material desportivo. Esse constrangimento constitui o principal empecilho.

"Precisamos de um pavilhão que obedeça aos padrões internacionais, material de competições e de treino. Em Angola, temos apenas uma pista de salto de tumbling, convencional e corresponde com as exigências internacionais. Há carência de materiais. Os disponíveis causam muitas lesões aos atletas. Esta questão preocupa-nos muito”, lamentou.

Elsa Pitra está de malas feitas para seguir viagem a Espanha, onde vai acompanhar a única representante angolana no Campeonato do Mundo de Ginástica Rítmica. Luana Gomes vai exibir-se na prova a disputar-se de 23 a 27 do corrente.

"Estamos a torcer para que a nossa atleta tenha boa pontuação que a habilite a estar nos Jogos Olímpicos de Paris'2024. Conseguiu duas medalhas de ouro no 'Africano”, frisou.

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