Reportagem

Cuanza-Sul: Os ganhos de uma província que está na rota dos grandes investimentos

Casimiro José| Sumbe

A província do Cuanza-Sul está na lista dos grandes investimentos. Além de albergar uma das maiores fábricas de cimento, o Yeto, no município do Sumbe, a cidade do Porto-Amboim acolhe uma indústria metalomecânica, a PAENAL, responsável pelo fabrico da maior grua no continente africano, com capacidade de suportar 2.500 toneladas de peso.

18/09/2023  Última atualização 08H10
© Fotografia por: DR

A província é também gigante em produção do palmar, tendo sido já identificadas as áreas para o seu relançamento.

Os principais recursos minerais são o gesso, mica, cobre, calcário,  quartzo, asfalto, diamantes, ouro e outros.

A província atingiu níveis de desenvolvimento, em todos os sectores, desde a conquista da paz efectiva, em Abril de 2002, fruto dos investimentos feitos pelo Executivo, cujos indicadores apontam para o crescimento constante nos domínios Social, Económico e Cultural.

As potencialidades e a localização geográfica da província fazem dela uma região privilegiada em investimentos de médio e longo prazo, facto que proporciona a oferta de bens e serviços, bem como a geração de empregos.

Entre os ganhos, destacam-se a implementação do ensino superior com cursos diversificados, a melhoria dos sectores da Saúde e da Educação, quer seja em infraestruturas, como em recursos humanos.

Além da componente material, a formação de quadros tem estado nas prioridades do Governo da província, através de bolsas internas e externas, além do constante aperfeiçoamento dos quadros e agentes do funcionalismo público.


Ganhos no sector da Saúde

O director interino do Gabinete provincial da Saúde, Ventura Domingos Vicente, reconheceu que o sector que dirige apresenta  um quadro satisfatório, sobretudo no domínio das Infraestruturas e Quadro do pessoal.

A melhoria da situação sanitária na província, disse, atingiu indicadores qualitativos e quantitativos, fruto dos investimentos feitos, com a  implementação do programa dos cuidados primários de saúde e, nos últimos tempos, com a execução de várias obras, no quadro do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM).

Um dos ganhos assinalados pelo responsável interino da Saúde tem a ver com as obras do novo Hospital Geral do Cuanza-Sul, que está a ser construído na localidade do Saber Andar, cuja inauguração está prevista para o final deste ano. Trata-se de uma infraestrutura com padrões internacionais.

 
Alargamento da Rede Sanitária

Fazendo uma abordagem comparativa, Ventura Domingos Vicente referiu que a província apresentava, na época colonial e logo após a independência, um quadro deficiente, quer em termos de infraestruturas, como de pessoal técnico e de médicos. Em 2002, frisou, a rede sanitária da província compreendia cinco hospitais de referência, 16 centros de saúde, 179 postos de saúde, prestando serviços ao sector 25 médicos, 439 enfermeiros, 91 técnicos de diagnóstico e terapêutico e 78 quadros de apoio hospitalar.

Volvidos 21 anos de paz, sublinhou, foram dados passos gigantescos em todos os domínios. Actualmente, notou, a rede sanitária está constituída por três hospitais gerais, dois hospitais provinciais de especialidade, nomeadamente, o Hospital Pediátrico e a Maternidade Provincial, dez hospitais municipais, 36 Centros de Saúde e 239 postos de saúde, espalhados em toda a extensão da província.

Quanto ao pessoal afecto ao sector, disse, a província conta com 137 médicos, 1.688 enfermeiros, 286 técnicos de diagnóstico e terapêutico, 386 efectivos de apoio hospitalar e 313 administrativos.

Contudo, adiantou que o sector ainda denota um défice em termos de médicos de especialidade para cobrirem as unidades sanitárias nos municípios do interior, principalmente nas áreas de Obstetrícia, Cirurgia e Ortopedia.


Ganhos registados no sector da Educação

O director provincial da Educação, José Alfredo Eduardo, garantiu que o sector caminha a passos largos, enquadrando-se no plano de desenvolvimento do sector, que visa alcançar bons indicadores em termos de infraestruturas e  pessoal docente, nos vários subsistemas de ensino.

Fazendo uma análise comparativa, o director provincial referiu que em 2002 a rede escolar compreendia 338 escolas e absorvia 128.243 alunos, nos vários subsistemas de ensino, com  4.920 professores em efectivo serviço.

No período entre 2002 a 2023, segundo José Alfredo Eduardo, fruto dos investimentos feitos, a realidade mostra avanços e melhorias significativas, quer seja no domínio das infraestruturas, como no aumento do quadro docente, que propiciaram o ingresso de mais alunos nos vários subsistemas de ensino.

Hoje, esclareceu, a rede escolar compreende 498 escolas, com 6.228 salas de aula, acolhendo 343.582 alunos orientados por 10.804 professores, nos vários subsistemas do ensino.


Governo destaca construção de infraestruturas

Por ocasião dos 106 anos de existência da província, assinalados a 15 de Setembro, o governador Job Capapinha reconheceu os avanços registados na província, em termos desenvolvimento, nos 21 anos de paz efectiva.

Destacou as inúmeras realizações, sobretudo nos sectores Social e Económico, com destaque para a construção de infraestruturas sanitárias e escolares, oferta de mais empregos na função pública, a construção do Hospital Geral do Cuanza-Sul, em fase conclusiva, implementação de políticas públicas, que proporcionaram a atracção de investidores, entre outras. "A província do Cuanza-Sul, desde o alcance da paz efectiva, em 2002, também vai somando círculos de desenvolvimento, fruto do trabalho de homens e mulheres, que com disciplina e espírito de comprometimento vão fazendo o seu melhor”, disse.

Job Capapinha reconhece que ainda há um longo caminho a percorrer para a província alcançar um patamar de desenvolvimento necessário e merecido. "Devo afirmar que, entretanto, um duro e longo caminho ainda nos espera, na luta por um Cuanza-Sul melhor nos seus 12 municípios e comunas, particularmente nos domínios da Agricultura, Pecuária, Pescas e Turismo, que constituem as principais riquezas naturais desta província e da sua população”, sublinhou.

Para assinalar condignamente a data do aniversário da província, Job Capapinha anunciou a realização do debate reflexivo sobre o passado, o presente e o futuro da província nos domínios da agricultura, Pecuária, Pescas e Turismo.

Na vertente Desportiva e Cultural, o governador destacou a realização da primeira edição do Festival de Música nacional do Cuanza-Sul, denominado "FestiCuanzaSul”, bem como da primeira edição do Novo Circuito da cidade do Sumbe/2023, nas provas  de Karting FZ e LingKen.

Job Capapinha apelou os habitantes da província ao engajamento uniforme dos filhos, naturais e amigos do Cuanza-Sul, na perspectiva de uma caminhada conjunta, unidade, patriotismo, preservação da paz, em prol da realização da província.


Agricultura e Pescas

A província do Cuanza-Sul é potencialmente agrícola, com solos e água abundantes, bem como de um clima favorável para várias culturas e a criação de gado.

 Na primeira época da campanha agrícola do corrente ano, a província conta com uma área total de 237.724 hectares preparados, com o envolvimento de 341.761 famílias em toda a extensão da província.

De acordo com o director do Gabinete Provincial da Agricultura e Pescas, Laurindo Chambula Ladeira, em 2013 a província foi eleita para a produção, em grande escala, de cereais, leguminosas e só não alcançou as metas preconizadas, devido à crise económica internacional, que afectou a estrutura económica do país.


Grandes projectos agro-pecuários

A província conta com grandes projectos agro-pecuários, destacando-se a Sociedade Aldeia Nova, Fazenda Santo António, Fazenda Mato Grosso Camama, Fazenda Cambondo, Sediac, Emirais, Fazenda Vissolela, Nova AgroLíder, Nuviagro, Catinda, Fazenda Vrelo, e outras. Na sua maioria produzem cereais, gado e hortícolas contribuindo para a segurança alimentar dos habitantes da província e do país.

Laurindo Chambula Ladeira apela a todos os investidores a apostarem no Cuanza-Sul, que considerou "a província mais promissora, em todos os domínios”.

Os principais produtos agrícolas são o milho, feijão, mandioca, café, algodão, amendoim, batata  rena e doce, abacate, ananás, citrinos, goiaba, maracujá, manga, dendém,  soja, tabaco, sisal e hortícolas.

 
Habitação

O sonho de casa própria entre os jovens começa a ser uma realidade, com a entrada em funcionamento da Centralidade da Quibaúla, onde muitos conseguiram concorrer e habilitarem-se a uma casa, nas diversas modalidades de acesso.

A Centralidade da Quibaúla dispõe de todas as condições necessárias e possui 2.010 habitações, todas da tipologia T3, contempladas com 1404 apartamentos, 393 moradias de 2 pisos, 213 moradias térreas e 156 espaços comerciais.

Constitui um dos maiores ganhos da província, em termos de habitação.

 
Sector do Ambiente

O sector do Ambiente também agiganta-se a cada dia, para responder aos múltiplos desafios da actualidade, traçando estratégias para fazer face às alterações climáticas. Nesta senda, o sector continua empenhado na reflorestação de mangais em toda a orla marítima. De Setembro de 2021 a Maio do corrente ano a província promoveu a plantação de 222 plantas, com a finalidade de proteger e conservar as espécies de plantas naturais e tropicais, que toleram a águas salgadas localizadas em zonas costeiras da região.

De acordo com Lunginge Correia da Silva, "os mangais a nível da costa estão em risco, porque são plantas que as comunidades piscatórias junto a orla marítima derrubam para produzir carvão vegetal, empobrecendo o santuário e os berçários para a multiplicação das espécies marinhas e aquáticas”.

A par do programa de repovoamento dos mangais, o sector na província também tem em marcha um outro programa de florestamento, que abrange os 12 municípios da província, com o repovoamento de plantas.


Turismo e lazer

Francisco Ernesto Ventura, que responde pelo sector da Hotelaria e Turismo, disse ao Jornal de Angola que em termos de infraestruturas, a província conta com 18 unidades hoteleiras e 350 empreendimentos turísticos que acolhem turistas nacionais e estrangeiros, que escolhem diversas localidades da província para lazer.

O responsável reconheceu que o sector da Hotelaria e Turismo procura dinamizar-se, apesar dos condicionalismos inerentes às questões financeiras. "Estamos a observar um avanço significativo, com a dinamização dos aldeamentos turísticos, pensões e hospedarias que disponibilizam um total de 13.699 alojamentos, restauração similares”, frisou. Adiantou que, para um acompanhamento do sector, decorre um trabalho de mapeamento, a nível da província, para se aferir o número real de equipamentos que garantem uma estadia condigna.

 
Zonas de atracção turística

Quanto às zonas de atracção turística, Francisco Ernesto Ventura revelou que a província ostenta zonas de grande valor, mas devido à falta de investimentos, muitos desses locais estão em estado de abandono.

Entretanto, algumas intervenções são notórias e alguns investimentos começam a resultar, como é o caso da zona turística de Lupupa Lodge, na fazenda Kungo Agrícola, situada a 15 quilómetros da cidade do Wako-Kungo, no município da Cela.

Antiga estação da direcção da Agricultura e Florestas, desde 1950,  a actual fazenda Kungo Agrícola está implantada numa área de 120 hectares e dispõe de seis bungalows, quatro suites SPA com um mini-ginásio e hidromassagem, restaurantes, sala de conferências, uma piscina e outras áreas.

A Fazenda Cabuta, situada a 25 quilómetros da sede municipal do Libolo, é outra área turística de eleição de turistas nacionais e estrangeiros. Para além de ser um gigante na produção, torrefacção, processamento e comercialização do café ao nível da província e do país, a Fazenda Cabuta oferece, também, condições de comodidade. Tem 53 suites, dentre as quais uma suite máster e outra presidencial.

 
Cachoeiras do Binga

A par das potencialidades nos sectores da Agricultura, Minas e Indústria, a  província tem outras atracções turísticas, com destaque para as  Cachoeiras do Binga, a foz do rio Keve, as praias do Porto Amboim, as  águas termais de Tocota, a Catanda, o Porto do Condo - uma região que  servia de travessia, na época colonial, entre os povos do Sul e os do Norte  de Angola, sobretudo aqueles que eram contratados para trabalhar em  áreas de Cafezais e Diamantíferas.


Relançamento da produção
agro-pecuária

O governador reafirmou o compromisso de se continuar a trabalhar para conceder aos habitantes da província maior dignidade, o que passa pela conclusão das obras do PIIM, para a garantia de mais escolas, hospitais e outros serviços sociais.

Outro desafio apontado pelo governador da província tem a ver com a aposta no relançamento da produção agro-pecuária, a melhoria da rede sanitária e humanização dos serviços de saúde, da educação, alargamento e melhoria dos sistemas de abastecimento de água potável nas comunidades e de energia eléctrica, fomento do processo de formação técnico-profissional dos jovens, visando a redução do desemprego.


População aguarda por dias melhores e mais investimentos

Carlos Felizardo Manuel, um cidadão que vive na cidade do Sumbe, considera que a província necessita de mais investimentos, a julgar pelas oportunidades e recursos que ostenta. Por isso, pede que haja mais atenção do Governo para alavancar a economia para o bem-estar das populações.

Xavier João Frederico, outro munícipe do Sumbe, diz que a principal tarefa do Governo passa pela atracção de mais investidores para garantirem o desenvolvimento do tecido social da província, com os jovens a merecerem uma especial atenção.

Xavier Frederico considera que a conclusão das obras de requalificação da cidade do Sumbe vão resgatar a sua imagem e  ser o cartão de visitas da província.

Tatiana de Oliveira, outra munícipe, reconheceu os avanços registados na província e destacou as obras de requalificação da cidade do Sumbe como sendo a maior oferta para os jovens que nasceram após o conflito armado. "Os jovens que nasceram na época do pós-guerra não sabem as causas da degradação da cidade, originada pela explosão demográfica e só viram a cidade a ceder para a sua deterioração. Por isso, a sua requalificação constitui um grande presente para a actual geração”, frisou.

João Pedro Chilumbo, oficial da Polícia Nacional, destacou o papel da província na luta de libertação nacional. "A nossa província tem escrito o seu nome nos anais da História da Luta de Libertação Nacional, pois, foi aqui que se travaram heróicas batalhas que foram determinantes para o alcance da independência nacional”, frisou, tendo apelado o Governo a conferir dignidade a essas populações, com mais investimentos, saneamento do meio, fomento habitacional e outros projectos que venham a dar mais empregos para a juventude.

O soba grande do Sumbe, Augusto Fiteira, reconheceu os avanços registados pela província, nos mais variados domínios. Pediu ao Governo que faça mais investimentos nos sectores da Agricultura e Pescas, para proporcionar o bem-estar das populações.


Origens e tradições

A maior parte dos habitantes da província do Cuanza-Sul é oriundo do reino do Ndongo, concretamente da província de MalanJe e também do Norte de Angola. Por isso, a sua identidade linguística é caracterizada por vários grupos. As principais línguas faladas na província são o Kimbundo e suas variantes e o Umbundo com as respectivas variantes.

A Culinária é dominada pelo funje de milho e de bombó, batata-doce e rena, acompanhado de folhas, peixe  e carnes.

As festas tradicionais são realizadas na época do Cacimbo, período que vai desde finais de Maio a Setembro de cada ano. Com uma boa safra de produtos, as comunidades procuram realizar as suas vidas com a comercialização do excedente dos produtos colhidos. Este é outro motivo para a exibição de danças tradicionais como o cangondó, o  olundongo, o onhaco, a catita e outras, o que ocorre também quando morre um membro  proeminente da comunidade, ou no fim de cada círculo de circuncisão.

Em 1973, o Cuanza-Sul foi o maior produtor de café da então província ultramarina. Essa posição, alcançada naquela época, pode ser retomada tendo em conta as suas potencialidades, em termos de extensão de terras aráveis, clima e hidrografia.


Histórico de comissários e governadores

Desde a Independência de Angola, em 1975, governaram a província do Cuanza-Sul cinco comissários e igual número de governadores provinciais, sendo Gaspar da Conceição, Paulo Dokui de Castro, Armando  Fandamo Ndembo, Francisco José Ramos da Cruz e Aurélio Segunda,  que encerrou a fase dos comissários, mas sendo reconduzido como  governador da província.

Em 1992 Francisco José Ramos da Cruz voltou a governar a província, substituído, depois, por Higino Carneiro em 2001. Este por Serafim do Prado, que deu lugar ao general Eusébio de Brito Teixeira, sendo substituído pelo actual  governador, Job Pedro Castelo Capapinha.

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