Opinião

Cuidar da vida

Adebayo Vunge

Jornalista

Há poucos dias, foi tornado público um novo decreto sobre a Situação de Calamidade Pública. Esse mesmo que vai também ser melhor enquadrado em termos constitucionais, no quadro da actual revisão pontual da Constituição, promovida pelo Presidente João Lourenço.

12/04/2021  Última atualização 06H15
Mais do que as normas nele plasmadas, chama claramente a atenção de todos o facto de, nas palavras da Ministra Silvia Lutucuta estarmos a conhecer o aparecimento de alguns casos relacionados às variantes sul-africana e inglesa, o que causa obviamente maior preocupação face a forma pouco rigorosa como a nossa população tem vindo a conviver em claro desrespeito àquelas regras estabelecidas.

Desde logo assistimos a uma inobservância da utilização das máscaras faciais. Ora porque as pessoas simplesmente não as utilizam, ora porque quando as utilizam ou estão em más condições ou ainda mal colocada no queixo. Ademais, o que deve constituir verdadeira preocupação, proliferam os eventos em que não há o cumprimento das regras de distanciamento. São geralmente "raves” que juntam algumas centenas e milhares de jovens ou ainda as nossas festas que saíram dos quintais e regressaram para os salões de festa, com toda a força.

Já ninguém parece preocupado e então as pessoas estão numa atitude de "mandar lixar”. É um "sa lixa” generalizado e inconsequente pois não podemos perder de vista as fragilidades da nossa realidade, numa altura em que nos abeiramos do período de cacimbo e os números começam também a subir.

Mas, em termos da Covid-19, não obstante os surtos de casos novos na região da América Latina onde o Brasil, Argentina e o Peru constituem preocupação, a verdade é que o ano de 2021 está a ser marcado pela massificação da vacinação. Há uma correria em todo o lado pelo maior número possível de vacinas no sentido de podermos começar a pensar num horizonte de médio e longo-prazos. Muitos países em que a vacinação avança, como é o caso da França por exemplo, a população tende a baixar a guarda e as consequências são posteriormente imprevisíveis.

Vale por isso prestarmos uma atenção ao nosso programa de vacinação contra a Covid-19, bebendo do que é feito ao nível geral. Vale por isso empenharmo-nos em acelerar os nossos números de vacinados e um nível de escrutínio e reporte ao nível do que fazemos com os novos casos. Mas o que é mais relevante é que, sem prejuízo do valor da solidariedade internacional, que não estejamos dependentes de terceiros para imunizarmos a nossa população.

É obvio que, como sucede com a maioria dos países africanos, não estamos em condições de discutir uma ou outra patente em termos preferenciais, não temos instituições nem capacidade para certificar, aprovar ou reprovar uma ou outra vacina, restando-nos seguir os protocolos e recomendações de instituições como a OMS, FDA e da Agência Europeia dos Medicamentos que, mesmo sob todos os equívocos que vimos assistir a volta da Covid-19 têm vindo a fazer um trabalho mais ou menos sério neste sentido.

Num cenário destes, vale por isso que prestemos uma atenção especial ao cumprimento das regras. E a Polícia Nacional não pode estar entre os extremos, como quem diz, não pode ser passiva, alheia ou indiferente, mas não pode também adoptar uma atitude demasiado dura pondo em causa a vida das pessoas na postura que adoptar.

Num cenário destes, é importante que a vacinação prossiga para que possamos pensar em desconfinar com segurança.
Num cenário destes onde apertam as restrições e as dificuldades vale chamarmos ao de cima a solidariedade. Como nos questiona o teólogo José Tolentino Mendonça: "Qual é a primeira tarefa de uma comunidade? Cuidar da vida”. Neste quesito, a vacinação é o caminho incontornável. O menor dos riscos na cólera dos tempos de Covid-19.

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