Cultura

“Cuide bem da nossa pouca sorte”

Analtino Santos

Jornalista

Justino Handanga, Bessa Teixeira e Edna Mateia são exemplos de que para se estar no auge da música angolana não é necessário viver na capital do país. Handanga, em 2013, foi distinguido com o Prémio Nacional de Cultura e Artes.

24/03/2024  Última atualização 08H55
Justino Handanga, músico que deu muitas alegrias ao país © Fotografia por: Arsénio Bravo| Edições Novembro
O artista trouxe para os meios urbanos os provérbios do seu rico berço rural. Na música "Paulina”, uma das mais ouvidas nos meios urbanos, deixou cunhado um verso carregado de amor imorredouro, quando pede à amada para "cuidar da nossa pouca sorte”.  E se o alvo de qualquer artista é o sucesso, ele bem teve razão ao escrever a música "Alvo atingido”. "Olonamba” é outro dos seus sucessos monumentais. 

A doença não o afastou totalmente dos palcos. Em Janeiro deste ano,  cantou na inauguração do Centro Cultural Manuel Rui Monteiro, no Huambo, e um mês antes foi um dos convidados do Especial Fim-de-Ano de Matias Damásio, momento em que este se prontificou a produzir-lhe um trabalho discográfico.  Em 17 de Setembro do ano passado, com Socorro, Vozes do Nâmbua, Baló Januário e Bessa Teixeira, actuou na primeira edição do "Muzonguê Aplausos da Saudade”, realizado no Espaço Aplausos, na centralidade do Sequele.

Um momento que fica para a posteridade, já que pode ser revisitado a qualquer altura na internet, é a edição do Live no Kubico dedicado à música do Centro-Sul, em que Justino Handanga foi uma das atracções, a par de Bessa Teixeira, acompanhados pela Banda Geração Nova do Huambo. Mais  uma vez,  Handanga arrasou e proporcionou grandes emoções ao cantar "Ndatekateka”, "Tenho Saudades”, "Mbembwa”, "Ene Akulu” e "Carlito”.   Cantou ainda "Paulina”, tema infalível nas rádios no Dia dos Namorados, "Feko Ndissoke”, "Okanda Kunene” e "Jindange”.

Justino Handanga, tal como Bessa Teixeira, são "produtos” do projecto "Vozes do Planalto”, lançado em 2003, que teve o apoio do então governador do Huambo, Paulo Cassoma. Depois, contaram com o inestimável patrocínio do falecido empresário Valentim Amões, nos respectivos projectos a solo.

"Ele foi um grande irmão com quem partilhei os palcos nos bons e maus momentos. O Huambo está em luto com a morte deste monstro da música angolana. Para mim, Justino Handanga faz parte da lista dos melhores cantores de África”, disse o pesaroso Bessa Teixeira, o músico. "Handanga representou muito bem a cultura local. Não é coisa fácil quem canta em Umbundu romper as fronteiras nacionais e conquistar o mundo”, sublinhou, acrescentando que o companheiro de jornada deixa um legado que precisa ser valorizado e preservado.

Justino Handanga nasceu no dia 1 de Janeiro de 1969, na aldeia de Ndoluca, comuna do Luvemba, município do Bailundo e começou a sua carreira na década de 1980.

Na infância, participava no concurso denominado "Piô-Piô”, realizado aos domingos pela Organização de Pioneiros Agostinho Neto (OPA), no município do Bailundo, onde imitava músicos nacionais e internacionais.

Aos 17 anos, ingressou nas Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) e fez parte de um grupo musical da corporação, denominado "Pela Paz”. No dia 10 de Outubro de 1992, ingressou na Polícia Nacional após cumprir o processo de transição.

Justino Handanga gravou dois discos. O primeiro com o título "Ondjonguele ya Telisiwã” (Alvo Atingido), em 2004,  e o segundo, "Homenagem ao Empresário Valentim Amões”, lançado em 2011. Em 2013, foi vencedor do Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria Música.


Falecimento, a Professora Doutora Aida Pegado

Aida Pegado enluta Academia

A Academia angolana, mais concretamente a Universidade Agostinho Neto, perdeu, por falecimento, a Professora Doutora Aida Pegado, coordenadora do Curso de Pós-graduação em Gestão e Resolução de Conflitos da Faculdade de Ciências Sociais e orientadora de teses, dissertações e trabalhos de fim de curso.

"Lamento que os quadros angolanos estejam a partir cedo, embora saibamos que cada um de nós tem a sua hora”, exprimiu a linguista Paula Henriques. 

"Uma notícia demasiada pesada e de profunda melancolia. Foi Professora de muitos quadros que produzem hoje em várias áreas da nossa sociedade. É, por esta e outras razões, uma enorme perda para o país e para o Universo”, afirmou Fonseca Chindondo, politólogo e antigo vice-ministro da Comunicação Social.

Aida Pegado escreveu a biografia do nacionalista e antigo ministro das Relações Exteriores de Angola, Pedro de Castro Van-Dúnem "Loy” intitulada "Pedro de Castro Van-Dúnem ‘Loy’. Um percurso político singular 1942-1997”. Escreveu, igualmente, o artigo, bastante referenciado em meios académicos "Angola como potência regional emergente. Análise dos factores estratégicos”.

Era doutorada em Estudos Africanos na área de Política e Relações Internacionais, numa perspectiva interdisciplinar, pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa - Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e licenciada em Relações Internacionais pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-UL). Era, ainda, docente do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto .  Colaborava também como docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais (CIS) de Luanda.

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