Em entrevista ao Jornal de Angola, a Subcomissária Teresa Márcia, 2ª Comandante Provincial de Luanda do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros (SPCB), que atende a área Operativa, falou sobre a operacionalidade e a actuação deste órgão do Ministério do Interior responsável pela salvaguarda da vida dos cidadãos e seus bens patrimoniais.E como não podia deixar de ser, falou do seu sonho antigo e concretizado de ser bombeira e dos desafios que as mulheres enfrentam nessa nobre profissão
A ministra das Finanças chefiou uma delegação angolana que participou, desde segunda-feira passada até domingo, em Washington, nas reuniões de Primeira do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista à Rádio Nacional e ao Jornal de Angola, Vera Daves de Sousa fez um balanço positivo das reuniões – oitenta, no total –, sendo que, numa delas, desafiou a Cooperação Financeira Internacional (IFC) a ser mais agressiva e ousada na sua actuação no mercado angolano. O vice-presidente da IFC respondeu prontamente ao desafio, dizendo que até está a contar ter um representante somente focado em Angola e não mais a partilhar atenção com outros países vizinhos na condução local do escritório do IFC. Siga a entrevista.
Celebra-se hoje o Dia Mundial do Coração. Em todo o mundo, as doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morte, que ceifaram a vida de 17 milhões de pessoas em 2022.
Qual
é o tema da efeméride para este ano ?
Para
este ano, o Dia Mundial do Coração tem como tema "Use o coração para se conectar
com a saúde”
A ideia é só consciencializar as pessoas sobre a importância de cuidar da saúde do órgão?
A
data foi criada em 2000, num consenso entre a Federação Mundial do Coração, que
é a maior organização de todas de cardiologia no mundo. A data foi instituída
para conferir mais conhecimento sobre a necessidade de se cuidar do coração e
evitar as doenças cardiovasculares. Mas só a partir de 2011, é que a efeméride
passou a ser comemorada de forma mais dinâmica, com palestras, seminários e
outros actos, de forma a transmitir às populações mais consciência sobre a
problemática das doenças cardiovasculares.
Como define o coração?
O
coração é um órgão muscular oco, em forma de cone, que pesa entre 250 gramas,
em crianças, e 300 gramas, nos adultos. O mesmo tem a função de bombear o
sangue por todo o corpo e funciona como uma bomba dupla. O lado esquerdo
bombeia sangue oxigenado (arterial) para diversas partes do corpo, enquanto o
direito o sangue venoso para os pulmões. Todo o processo é feito de forma
contínua.
Quais as doenças que podem afectar o bom funcionamento do coração?
Há
doenças cardíacas que afectam o bom funcionamento do coração e podem ser
clínicas e cirúrgicas. As clínicas são a hipotensão arterial, a fibrilação
intra-auricular, a hipertrofia ventricular e as arritmias cardíacas. Já entre
as cirúrgicas, as mais comuns são as febres reumáticas, devido à válvula mitral,
doenças da aorta, os tumores do coração, a revascularização do miocárdio, as
endocardites, as arritmias cardíacas, a aterosclerótica coronáriana e as
doenças congénitas do coração, que as mais frequentes são a comunicação
interventricular e intra-auricular, a tetralogia de Fallot e o defeito do septo
atrioventricular, mais frequente nos pacientes com Síndrome de Down.
Muitos cidadãos ainda confundem algumas doenças do coração. Como distinguir um AVC de enfarte ou de derrame?
O
AVC (Acidente Vascular Cerebral) é a mesma coisa que o derrame, apenas tem
diferença na forma como se apresenta. Quando o paciente tem AVC significa que
houve um bloqueio dos vasos que levam o sangue para o cérebro, num determinado
tempo, impedindo o cérebro de ser oxigenado. Existe o AVC isquémico, vulgo
"trombose”, o hemorrágico, comummente chamado de derrame, que acontece quando a
pressão arterial é tão elevada que faz com que os vasos do cérebro rebentam
espalhando sangue pelo cérebro. Este sangue não permite que o cérebro funcione
normalmente. Geralmente este é mais fatal do que o AVC isquémico, porque muitas
vezes, o paciente tem de ser submetido a uma cirurgia para se abrir o cérebro e
limpar os coágulos de sangue, a fim de se tentar recuperar algum tecido, e esta
operação é feita por um neurocirurgião.
E quanto ao enfarte. O que acontece ao certo?
O
enfarte é uma lesão que acontece num músculo cardíaco, onde ocorre um bloqueio
das veias do sangue que irriga estes músculos, fazendo com que não receba
sangue e morra, causando assim o chamado enfarte do miocárdio.
Em relação à campanha mundial, como estamos hoje, particularmente, em Angola?
Hoje
ainda estamos a nos libertar das sequelas da Covid-19, mas, antes disso, era
notável uma certa estagnação na melhoria dos cuidados a nível cardiovascular. A
cardiologia é uma área muito cara, portanto tem de haver um investimento
contínuo. Sabemos que o investimento só é maior se o Produto Interno Bruto
(PIB) do país, também for maior, e uma parte ser dedicada à área da saúde. Nos
países desenvolvidos há um grande investimento nessas áreas, por isso, eles
registam melhorias significativas nesse sector.
E como vê a realidade no país?
Infelizmente,
ainda não foram feitos tantos investimentos, como as sociedades de cardiologia
desejam. De forma particular, em Angola, só recentemente é que começámos a dar
importância a existência dessas doenças e a necessidade de começarmos a
melhorar a prevenção, diagnóstico, tratamento e no manuseamento destas
patologias. Mas, com a Covid-19, o processo atrasou um pouco mais. Por isso,
ainda não estamos no nível desejado, e acrescido a isso há o passado histórico
cultural de não termos o hábito de falarmos dessas doenças ou conhecê-las como
deve ser.
Como estamos em matéria de consciencialização sobre a prevenção das doenças cardiovasculares?
Não
estamos bem, porque os doentes não vêm directamente para os cardiologistas.
Eles passam antes por um médico generalista. E é aí onde temos de ser mais
activos, para se detectar o mais rapidamente possível as situações de risco,
que podem evoluir para doenças cardiovascular e encaminhar logo a um
cardiologista, a fim de ser devidamente seguidos, evitando danos graves ao
coração. Mas também é preciso que haja
um envolvimento maior da sociedade. É nesse segmento que ainda estamos um pouco
atrasados. Mas, temos a estado a realizar palestras, congressos e jornadas para
informar cada vez mais a população, com o apoio dos órgãos de comunicação, de
forma a divulgar as informações de forma mais clara e acertada, destacando a
necessidade que há de se mudar os factores de risco e ir ao cardiologista
sempre que notar algo de estranho no funcionamento do coração.
Quais os factores de risco para as doenças cardiovasculares?
Os
factores de risco são dependentes de outros, entre os quais alguns de natureza
socioeconómica, comportamentais, ambientais e metabólicos. Quando se avalia os
factores de risco deve-se estimar a população e o local, incluindo os hábitos.
Entre os factores mais comuns são os ataques cardíacos, AVC, uso de tabaco,
dietas inadequadas, obesidade, sedentarismo e o uso excessivo de álcool,
hipertensão, diabetes e hiperlipidemia e o nível de colesterol no sangue. Todos
estes factores devem ser trabalhados pelos médicos, para tentar reduzir o risco
das doenças cardiovasculares que prejudicam o bom funcionamento do
coração.
A Sociedade Angolana de Doenças Cardiovasculares tem realizado rastreio para se saber o número de pessoas propensas a desenvolver a doença?
Infelizmente
o país tem poucos cardiologistas. Estamos em volta dos 200 especialistas. E
para se fazer um rastreio de dimensão nacional, não seriam suficientes. Logo,
para desenvolvermos esta actividade, temos que nos associar a outros parceiros,
como os médicos clínicos gerais, os de medicina interna e nefrologistas.
Sozinhos é difícil. Mas de forma tímida, a Sociedade Angolana de Doenças
Cardiovasculares tem feito rastreios em grupos pequenos, como empresas. Isso
acontece mais em datas como esta, de celebração mundial.
Então não se sabe qual a prevalência das doenças cardiovasculares em Angola?
Existe
estudos já feitos, de anos anteriores, em colaboração com outros países da
região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Um deles foi
feito no país pelo cardiologista Mário Fernandes, durante três anos, onde se
concluiu que a taxa de prevalência da hipertensão é de quase 40 por cento, e
como se sabe, esta é uma das principais doenças cardiovasculares. A nível
mundial, estudos indicam que 80 por cento das mortes prematuras causadas por
doenças cardiovasculares acontecem em África e na Ásia, por serem os países
mais pobres. De acordo com essas pesquisas, entre as 100 por cento de mortes
causadas pelas doenças cardiovasculares, 80 por cento ocorrem em África e na
Ásia, envolvendo adultos dos 30 aos 69 anos.
No último Congresso de Cardiologia e Hipertensão avançou-se que o país tinha 100 cardiologistas para 30 milhões de habitantes, qual seria o rácio aceitável para Angola?
Segundo
a OMS, para se atender um milhão de habitantes são necessários pelo menos 20 a
30 cardiologistas. Mas, infelizmente, não temos. Os cerca de 200 que temos
estão concentrados em Luanda, Benguela, Huambo, Huíla e Uíge. Apenas temos um
na província do Cuando Cubango que atende todos os pacientes provenientes dos
vários municípios. Logo, a demanda é muito alta.
E qual é a estratégia da Sociedade de Cardiologia para aumentar o número de especialistas?
Como
sociedade apenas aconselhamos, mas a formação como tal, depende do Ministério
da Saúde. Existe um Colégio de Cardiologia que trata dessas questões de
formação com ajuda do Ministério da Saúde.
Há uma explicação para maior prevalência de casos de hipertensão arterial (tensão alta) comparativamente a hipotensão (tensão baixa)?
A
hipertensão arterial vai sempre aparecer, porque ao longo do tempo os vasos
sanguíneos ficam rijos e aí a tensão soube. Já a hipotensão ou tensão baixa não
é verdadeiramente uma doença. A pressão arterial média do ser humano está entre
os 120 a 80, isso é a sistólica. Esta é a pressão necessária para nos mantermos
em pé, enquanto seres humanos.
Diz seres humanos porquê?
Nos
animais a tensão é bem diferente. Por exemplo, o coração da tartaruga bate
apenas cinco a 10 batimentos por minutos. Nos humanos são 100 batimentos por
minutos, porque ficamos em pé. Ou seja, quanto mais próximo da terra
estivermos, como é o caso tartaruga, mais baixa é a tensão e a frequência
cardíaca. Por isso, é quando deitamos que a frequência cardíaca baixa. Mas,
como somos naturalmente seres eréctil, é impossível termos sempre hipotensão.
Quer dizer que é fácil resolver a hipotensão arterial?
A
hipotensão pode estar associada a um ritmo cardíaco mais baixo, ou ser uma
questão genética, por falência da própria bomba cardíaca, que é o coração. Por
conta disso, o órgão não manda sangue suficiente para o cérebro, logo, também
não há pressão suficiente. Em regra,
trata-se apenas da falta de ingestão de sal. São situações que o médico
resolve rápido, sugerindo a ingestão de mais sal. Por esta razão, não
consideramos a tensão baixa como sendo propriamente uma doença como tal.
A hipertensão tende a aumentar porque as pessoas resistem a mudar de estilo de vida? Isso significa que a sensibilização está a falhar?
Não
necessariamente. Reconheço que enquanto Sociedade Angolana de Doenças
Cardiovasculares devemos fazer muito mais e envolver cada vez mais a população.
Os médias devem ter mais programas ligados à saúde na vertente preventiva e com
especialistas, devidamente preparados para que as pessoas possam perceber como
adquirir, tratamento, diagnósticos e prevenção das várias doenças que afectam o
coração e não só. Não se pode só falar
de determinada doença quando se trata de uma efeméride. Tais patologias devem
ser abordadas de forma contínua.
O que falta para os medicamentos das doenças cardiovasculares, como a hipertensão, serem subvencionados?
Este
problema da subvenção é algo que já temos vindo a discutir há dois anos. A
Ministra da Saúde já disse que havia um plano sobre isso, mas sabemos que a
subvenção não vem do nada. É uma verba que vem dos impostos pagos e no país
poucos pagam os impostos e muitos precisam de medicação. Por isso, é preciso
definir quais os mecanismos a serem usados para que se consiga subvencionar de
maneira eficaz e sem causar prejuízos a ninguém, porque estes medicamentos são
muito caros principalmente aqui no país, onde se importa de quase tudo. Além
disso, a população não pode abusar dessa subvenção. As pessoas têm de perceber
quais são os benefícios disso e respeitá-lo. Às vezes, o problema do doente não
é falta de medicação. Alguns, principalmente os homens, não gostam de fazer a
medicação, porque tende a afectar a actividade sexual, causa disfunção sexual e
acaba por trazer vários problemas nos casamentos. Muitos homens desistem de
tomar tal medicação, coagidos pela esposa, só para manter a relação,
prejudicando assim a sua saúde.
O país tem realizado, com sucesso, várias cirurgias cardíacas. Quando teremos auto-suficiência em matérias de respostas aos casos que envolvem cardiologia?
Não
sei dizer uma data exacta sobre quando seremos auto-suficientes. Mas estamos a
caminhar para tal. Obviamente isso implica muita formação e ter mais
especialistas formados não só como cardiologistas, mas também, nas áreas de
apoio da cardiologia, desde a clínica, como na área cirúrgica. Quando tivermos
este aumento do número de profissionais seremos auto-suficientes e assim não
teremos de enviar nenhum doente para fora do país.
"No congresso passado falamos mais da
hipertensão arterial,
Há
dois anos, realizaram o V Congresso de Cardiologia e Hipertensão, onde se
tratou de temas como o desafio no tratamento das cardiopatias, rastreio,
diagnósticos e tratamento da hipertensão arterial. Que balanço se pode fazer
dois anos depois?
No
congresso passado falámos mais da hipertensão arterial, focámos nas novas
directrizes de hipertensão, porque tudo começa no diagnóstico. Agora no VI
Congresso, a ser realizado de 19 a 21 do próximo mês de Outubro, vamos
verificar o que foi feito e qual é o impacto que está a ter no meio da
população. Vamos também avaliar as novas orientações da OMS que surgiram em
2022 sobre cardiologia.
Qual vai ser o tema do VI Congresso de Cardiologia 2023?
"Novas
fronteiras de Cardiologia em Angola: Com coração no futuro”. No evento, tal
como os demais, teremos convidados internacionais provenientes dos Estados
Unidos, Itália, Brasil, Portugal e colegas da Sociedade Pan-Africana de
Cardiologia, que com as suas experiências vão poder nos ajudar a consolidar a
cardiologia em Angola.
Que conselhos daria para as pessoas que sofrem do coração?
Actualmente estamos quase todos estressados e
por vários motivos, uns porque vivem muito longe e ficam horas no trânsito.
Outros porque financeiramente estão mais ‘apertados’. É importante que pensemos mais na saúde e nas
formas de evitar estes stress, de forma a evitar a subida da pressão e
consequentemente o AVC. Também deve-se evitar o consumo de tabaco, redução do
sal e açúcar na dieta e evitar o uso excessivo de álcool. O ideal é consumir muitas
frutas e vegetais, assim como fazer actividades físicas regulares.
"A organização é recente. Foi criada em 2012”
Quais
são os objectivos e qual o papel da Sociedade de Cardiologia?
A
organização é recente. Foi criada em 2012. Actualmente está a tentar ganhar
espaço a nível da comunidade. Quando foi criada havia muito menos
cardiologistas. Hoje já somos quase 200 especialistas e isso faz com que a
importância da sociedade seja mais notada, acrescendo a isso, as colaborações
dadas a nível de África, com a Sociedade Pan-Africana de Cardiologia, ou com a
Sociedade Portuguesa de Cardiologia. Com o Brasil temos tido bastante
colaborações a este nível, com interacções, inclusive a possibilidade de fazer
cursos naquele país da América do Sul, onde há ofertas de bolsas para alguns
colegas. Desta forma, aos poucos, temos conseguido atingir o objectivo de
massificar o conhecimento sobre a medicina cardiovascular no seio da comunidade
médica, quer nacional como internacional.
A Sociedade de Doenças Cardiovasculares tem sugerido alguma medida ou recomendação para que, por exemplo, se controle o teor do sal e açúcar nos alimentos?
Ainda
não debatemos o assunto a nível oficial, mas existem medidas, mesmo a nível da
OMS, que os países podem adoptar para que se comece a fazer redução do teor do
sal na comida. E os lugares onde se consegue fazer isso com facilidade são os
refeitórios públicos, hospitais, escolas e empresas. Em casa é mais difícil.
Mas, existe dentro da OMS, um grupo que cria estratégias e monitora tudo que é
feito a nível das doenças não comunicáveis das quais faz parte as doenças
cardiovasculares.
A Sociedade de Cardiologia tem intervindo na tomada de decisão em relação às doenças de índole cardíaca?
Algumas vezes sim, mas não tanto quanto gostaríamos. Porém, tem havido essa troca de informação, para mitigar algumas situações. Em termos de saúde geral do país, ainda se luta com as doenças, mas prevalentes do ponto de vista infeccioso, como a tuberculose, HIV e malária. São patologias que o Ministério da Saúde tem de combater, associadas a estas novas doenças. Acredito que seja por aí que não existem mais interacção. Mas tem de se abranger todas as patologias que o país tem.
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