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Falha acordo para eleições na Somália

O prazo final da Somália com vista a acertar uma data para a realização de eleições presidenciais, ainda este ano, terminou ontem sem que tenha sido obtido um acordo nas negociações que decorreram sob a égide das Nações Unidas entre o Governo central e os Estados federais, noticiou a Efe.

25/02/2021  Última atualização 14H55
Mohamed Abdullahi Farmajo nega responsabilidade pelo fracasso nas negociações © Fotografia por: DR
O Presidente Mohamed Abdullahi Farmajo, que tenta outro mandato, acusou duas das cinco regiões semi-autónomas de Puntland e Jubbaland de não terem feito um acordo, já que não querem realizar eleições, optando por permanecerem ao lado do grupo extremista islâmico al-Shabab.
"Para a última reunião realizada em Dhusamareeb, no sábado, eu esperava que houvesse resultados mas, infelizmente, isso não aconteceu”, disse o Presidente Farmajo citado pelas agências internacionais.

Na verdade, o que acontece no terreno é que as forças nacionais e regionais entraram em confronto em Jubbaland, enquanto os militares que apoiam o Presidente Mohamed Farmajo lutam contra os seus rivais pelo controlo de Gedo.
O líder de Jubaland, Ahmed Madobe, disse, no sábado, que o seu Governo negociou de boa-fé, mas encontrou obstáculos e resistência em todo o caminho. "A responsabilidade pelo fracasso em realizar brevemente eleições, baseadas em consenso, recai exclusivamente sobre o Presidente Farmajo”, dizem os opositores.

Todo o processo negocial para que pudessem ser marcadas as eleições fracassou devido a desacordos das forças independentistas e à acção terrorista do grupo extremista islâmico al-Shabab, que enquanto as conversações decorriam realizou uma série de ataques que mostraram toda a vulnerabilidade do Governo e do Exército Nacional. Neste momento, está posta de parte toda a possibilidade da Somália poder ir este ano a votos.

A partir de agora, as Nações Unidas tentarão construir de novo algumas "pontes” para que os diferentes protagonistas da crise Somali encontrem uma agenda de trabalhos que restaure a confiança suficiente para novas negociações, o que deverá demorar vários meses dada a profunda divergência que agora, mais uma vez, se voltou a revelar.
O alto-representante da União Europeia para a Política Externa considerou que a falta de acordo para a realização de eleições na Somália é "extremamente grave”, pedindo mais esforços para a realização célere do escrutínio. "Todas as partes devem mostrar liderança, colocar os interesses da população no centro e abster-se de declarações ou acções que possam incitar a violência”, afirmou Josep Borrell, num comunicado citado pela agência noticiosa Efe.

O chefe da diplomacia europeia apelou aos líderes políticos para continuarem os esforços para a implementação do acordo de 17 de Setembro, alcançado entre Farmajo e os cinco líderes regionais sobre o modelo para a realização das eleições presidenciais e legislativas.
Ontem, as ruas de Mogadíscio voltaram a ser cenários de manifestações a exigirem a realização de eleições, havendo notícia do registo de nove mortos. Os opositores acusam Farmajo, que procura um segundo mandato, de não implementar um pacto alcançado em Setembro sobre o modelo das eleições legislativas e presidenciais.

Desde 1991 que a Somália vive num Estado de guerra e caos, depois do derrube do Presidente Mohamed Siad Barre, deixando o país sem Governo e nas mãos de milícias islâmicas e de senhores da guerra. Antes de ser conhecido o fracasso das negociações, o enviado da ONU para a Somália, James Swan, apelou a um consenso no país para realizar eleições "o mais depressa possível” e evitar uma escalada após o tiroteio, no domingo, à margem de uma manifestação da oposição.

Numa videoconferência trimestral do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), James Swan exortou "todos os líderes políticos somalis a rejeitarem o confronto e evitar tácticas arriscadas” e a levarem a bom porto as actuais negociações para a realização de eleições ainda este ano.
Uma coligação de candidatos da oposição denuncia, desde dia 8, o "Presidente ilegítimo” e apelou à realização de manifestações a exigir a sua demissão.

"Continuo convencido de que o modelo consensual de 17 de Dezembro oferece a melhor opção disponível para um processo eleitoral rápido para a selecção de parlamentares, senadores e do Presidente”, insistiu o enviado da ONU.
Na Somália, onde os rebeldes islâmicos do Al-Shabab permanecem muito activos, o frágil Governo federal controla apenas parte do território, apesar do apoio da força da Amisom da União Africana, em grande parte financiada pela União Europeia.


Apelo internacional

O Governo da Somália e as Nações Unidas pediram, ontem, quase 900 milhões de euros para dar assistência a quatro milhões de pessoas que este ano vão precisar de ajuda humanitária no país africano. Na nota de imprensa citada pela agência EFE, é referido que a situação humanitária piorou no ano passado e acrescenta-se que este ano o desafio será ainda maior devido ao agravamento das alterações climatéricas e do impacto prolongado da pandemia.

"Antevemos um crescimento das necessidades humanitárias durante este ano; o nosso apoio para garantir a disponibilidade e o acesso a serviços básicos como alimentos, abrigo e serviços de saúde é vital”, disse o responsável na apresentação do Plano de Resposta Humanitária para a Somália."Pedimos aos doadores que também dêem prioridade aos programas que abordam os desafios estruturais e crónicos do desenvolvimento na Somália, incluindo, entre outros, a protecção das mulheres e das meninas”, vincou.

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