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Falta de habitações marca eleições nos Países Baixos

A habitação é o calcanhar de Aquiles dos Países Baixos. É o Estado mais povoado da Europa e, a par da pandemia, o tema tornou-se central na campanha para as eleições legislativas que arrancaram na segunda-feira. Encontrar um lugar para viver é cada vez mais difícil e mais caro.

16/03/2021  Última atualização 07H00
Hoje é último dia da votação para as legislativas nos Países Baixos © Fotografia por: DR
"Correu mal durante a crise financeira geral. Tornou-se mais difícil comprar e construir e a quantidade de novas habitações caiu quase metade. Por outro lado, nos últimos cinco anos - e não foi política, aconteceu -, a migração subiu, especialmente migração laboral,” diz Peter Boelhouwer, presidente da Rede Europeia de Habitação.

Quase todos os partidos políticos comprometem-se em construir, pelo menos, um milhão de casas nos próximos dez anos. Mas os especialistas avisam que não chega, especialmente em Amesterdão, onde os preços estão a subir em flecha.

A Woon é uma organização não governamental que todos os anos ajuda 10 mil pessoas a encontrar alojamento acessível em Amesterdão. Gert Jan Bakker, consultor da organização lembra que "o anterior Governo de Mark Rutte liberalizou o mercado de arrendamento” e que o impacto foi imediato. "Um apartamento que tinha uma renda de 600 euros há dez anos, está agora a 1600-1800 euros. Mesmo as habitações mais pequenas estão a ser arrendadas por preços exorbitantes,” afirma.

Sem muito espaço para crescer, a solução parece ser construir em altura. Em cidades como Roterdão e Haia, estão a nascer vários arranha-céus para abrigar centenas de milhares de pessoas.
O alojamento acessível foi tema central das eleições. A confirmarem-se as sondagens, os Países Baixos preparam-se para entregar a resolução, de novo, ao conservador Mark Rutte.

Abertura das urnas
 As autoridades decidiram, este ano, iniciar dois dias antes,  do dia oficial, para permitir o voto de forma mais segura aos que pertencem aos grupos de risco da Covid-19.
Com sondagens favoráveis, o Primeiro-Ministro Mark Rutte está confiante em regressar à chefia do Governo num quarto mandato consecutivo. Trata-se de mais um teste para Rutte, já que tem contado com protestos populares, como no domingo, em Haia, por causa das restrições ligadas à pandemia, medidas que estão a ter um impacto severo sobre a economia e sobre o bem-estar das populações.
As sondagens dão o triunfo a Rutte com 26 por cento  dos votos contra 16  do maior rival, o ultraconservador e anti-islão, Geert Wilders.


Saída da UE
Qual deve ser o posicionamento dos Países Baixos na União Europeia, sobretudo desde o rude golpe da saída do Reino Unido, um importante aliado na política comunitária? Os holandeses esco-
lhem, esta semana, o novo Governo e este tema tem sido também bastante debatido porque havia, habitualmente, uma sintonia com o Governo britânico em temas como economia, comércio e política externa.

"A saída do Reino Unido significou, efectivamente, que os neerlandeses perderam um aliado na maneira como pensam e operam politicamente. Os neerlandeses sempre olharam para o Ocidente na forma de conduzir a sua acção política”, disse Maria Demertzis, analista política no Instituto Bruegel, em entrevista à Euronews.

"Por outro lado, sem o Reino Unido passou a haver menos um Governo com voz de grande peso nos assuntos europeus. Agora só há o eixo franco-alemão com peso para fazer avançar as coisas na União Europeia. Os neerlandeses estão preocupados que outros Governos possam ser postos de lado, querem assegurar-se de que outros países também serão ouvidos”, acrescentou a vice-directora do Instituto Bruegel. Sendo um Estado-membro fundador da União Europeia, a população dos Países Baixos é, tradicionalmente, bastante pró-europeia.

A economia do país é muito dependente do mercado comunitário, mas o descontentamento vem crescendo, face a divergências ligadas à utilização dos fundos europeus, às regras de disciplina orçamental e sobre como impor o respeito pelo Estado de direito no bloco.
Durante o debate sobre o fundo de recuperação económica para fazer face ao impacto da pandemia da Covid-19, chegou mesmo a falar-se do risco de um segundo "Brexit”, mas os analistas dizem que é um rumor pouco consistente e sem impacto no resto da União Europeia.

"Considero que a questão realmente importante é ver como é que políticos populistas e nacionalistas poderão, potencialmente, reivindicar mais espaço na política interna de cada país, caso os Governos não actuem bem na gestão dos orçamentos e da dívidas públicas que são historicamente elevados”, acrescentou o director do Friends of Europe.
O aumento do nacionalismo é, de facto, bastante visível nos Países Baixos, com os políticos dessa área a alegarem que as instituições da União Europeia, e mesmo a alguns Estados-membros, são prejudiciais aos interesses e progresso do país.

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