Reportagem

Luanda trabalha na mitigação dos efeitos das chuvas

Leonel Kassana

Jornalista

Os (quase) habituais cenários de bairros inundados, estradas e ruas alagadas, habitações completamente cercadas de água, quando não submersas, num rasto de destruição por altura das grandes cargas de água sobre Luanda, como as que se avizinham, vão ter resposta “agressiva”, com acções de choque, postas em marcha pelo Governo provincial e seus parceiros.

12/09/2023  Última atualização 07H50
Engenheiro Tavira Henrique © Fotografia por: Rafael Tati | Edições Novembro
No essencial, o que se pretende é uma espécie de "virar de página” de acções paliativas de limpezas das valas de drenagem e sarjetas em todos os municípios e que não suportam a passagem das águas pluviais e vários detritos sólidos, electrodomésticos, mobílias e outros bens provenientes de habitações precárias, construídas nas próprias linhas de passagem de água.

Em véspera de mais uma época chuvosa, que se prevê inclemente, segundo o INAMET, o Jornal de Angola traz o essencial do que está a ser feito pelas várias administrações, para tornar menos penosa a vida dos munícipes.

Do Governo provincial, há o registo de um encontro de concertação da Comissão Multissectorial, integrada por entidades do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros, Unidade Técnica de Gestão do Saneamento de Luanda(UTGSL), Elisal e ENCIB, para a preparação do plano de contingência e mitigação dos efeitos das chuvas. O gestores distritais prepararam os seus planos de contingência.

Na UTGSL, primeira paragem nesta incursão do Jornal de Angola sobre a resposta das autoridades às consequências negativas das chuvas, foi-nos explicado que, independentemente da preparação do plano de contingência, já estão em andamento uma série de acções, viradas essencialmente para a manutenção das valas, sobretudo as que estão direccionadas à orla marítima, como pudemos constatar.

Como nos foi explicado, essas valas representam o mais significativo contributo de resíduos sólidos para o corpo hídrico, desde a zona de Cacuaco, a Norte da cidade,  até às Palmeirinhas, a Sul de Luanda, nos Ramiros.

Entidades e técnicos encarregues de gerir o saneamento em Luanda dedicam especial atenção aos canais virados para a área da Samba, sobretudo à jusante, já que o bairro Rocha Pinto contribui bastante para a deposição, por alguns munícipes, de resíduos sólidos directamente nos canais de drenagem.

O engenheiro Tavira Henrique, chefe de Departamento da UTGSL, nosso principal cicerone, afirma : "A deposição de resíduos nas valas de passagens de água, por si só, representa um sério problema, no tempo das enxurradas, porque tudo é reencaminhado para a zona da Samba, ficando expostos nas praias”.  E isso é algo que pudemos ver ao percorrermos o canal da Samba, desde a EN 100 até à Praia da Kamuxiba.

Mas a situação pode ter os dias contados, pois na esteira do plano de contingência estão a ser desenvolvidas nesta altura, pela UTGSL, acções de recolha de resíduos nos grandes focos, diante dos canais no interior do Rocha Pinto, precisamente para mitigar o efeito negativo das enxurradas que se vêem assistindo anualmente.

Nas encostas e valas da Boavista não passa despercebido o movimento de equipamentos e meios de limpeza dos canais de passagens de água feito regularmente pela Administração Municipal de Luanda, em parceria com algumas empresas ligadas ao Porto de Luanda, como a Sonil's.

"A limpeza desses canais é feita todos os meses, de modo a estarem sempre preparados para as chuvas e garantir o fluxo normal das águas para a orla marítima e não manchar toda aquela zona com resíduos sólidos”, afirma Tavira Henrique, destacando acções em curso nos bairros e distritos à montante.

Em concreto, o engenheiro Tavira Henrique refere-se à estruturação das bacias de retenção das águas pluviais, drenagem dos respectivos afluentes e construção de alguns canais, para acomodar o volume de água das chuvas que se vão abater, seguramente, sobre Luanda.

No município de Talatona, por exemplo, está a ser construído um canal macro, para acomodar o afluente que vai embater sobre o Lar Patriota. Em rigor, o Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, um dos principais parceiros do GPL, orientou a construção desse canal, considerado um  "braço” em frente do rio Cambamba, a maior bacia hidrográfica de Luanda.

O engenheiro Tavira Henrique exibiu, depois, o mapa geral do sistema hidrológico de Luanda, com os cursos principais de linhas de água, bacias, sistema de saneamento e outros. Ao Jornal de Angola chamou à atenção a construção de um outro canal, desde o Jardim do Éden até a um "braço” do rio Cambamba.

Ele considera essas acções como as de "maior relevância”, já que vão acomodar um maior volume  de água, que se embate sobre o território de Luanda e que na época passada tiveram um impacto negativo. "Isso despertou, obviamente, a atenção das entidades do GPL, mas além disso, há uma série de acções ao longo da Avenida Fidel Castro Ruz, nomeadamente a Via Expressa, como as obras de preparação do acesso ao Novo Aeroporto Internacional de Luanda”, explicou Tavira Henrique.

O responsável da UTGSL sublinha que "tudo o que está ligado à drenagem está  acautelado  para não criar um impacto negativo, nomeadamente com a construção de lancis, pedovias, acomodação de colectores e outras acções, de  modo que o reencaminhamento do corpo hídrico seja feito com a máxima fluidez possível”.

Adianta que em alguns canais, mais afectados nas últimas chuvas, o GPL, com os seus   parceiros, está a desencadear várias acções concretas, como o reperfilamento das linhas de água, estruturação de algumas bacias de retenção e estações de bombagem.

Tavira Henrique destaca o município de Viana, onde, nesta altura, estão a ser feitas enormes bacias de retenção, justamente para acautelar o volume de água que se abate sobretudo na zona do Zango (um dos conglomerados populacionais que regista um crescimento exponencial).

"No Zango, com efeito, estão a ser construídas duas bacias de retenção, para receber todo aquele afluente que tem criado enormes estragos no tempo das enxurradas”, afirma Tavira Henrique, considerando ser este um "grande projecto”.

Ele diz que noutros municípios estão a surgir, também, algumas acções particularmente relevantes. "Aí onde já existem valas estruturantes, está a ser feita a limpeza periódica com a retirada dos resíduos sólidos, para o seu reencaminhamento ao aterro sanitário”, disse.

Quando perguntámos ao engenheiro Tavira Henrique sobre o que fará a diferença com as épocas anteriores, quase sem pestanejar respondeu: "A diferença estará precisamente naquilo que vai ser a redução do impacto negativo das chuvas sobre a capital do país, pois no ano passado havia habitações construídas precisamente ao longo dos canais de drenagem, algo que levou o GPL junto do Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação a desenhar e desenvolver um programa, desde 2021, de desassoreamento das grandes linhas de água”.

O técnico do UTGSL referia-se, em concreto, ao corredor do rio Cambamba (um dos mais críticos), onde foram contabilizados mais de 2.000 residências afectadas pelas chuvas, ficando algumas inundadas e outras completamente destruídas. As autoridades querem evitar episódios do género, com um trabalho de engenharia virado essencialmente para a reperfilamento adequado das valas, para acomodar todo o volume de água que vai passar pelo território de Luanda.

"Grandes melhorias”

Tavira Henrique  não poderia ser mais optimista, ao diagnosticar, por assim dizer, "grandes melhorias” naquilo que vai ser o impacto negativo nesta época chuvosa, que está logo ao "virar da esquina”, pois "o desassoreamento já está a acontecer, não obstante alguns constrangimentos em alguns troços, sobretudo onde existem pântanos, que dificultam o acesso dos equipamentos técnicos”.

Ele destaca, por isso, a necessidade de algumas máquinas consideradas especiais para fazer um desassoreamento eficaz, indicando que, com as chuvas, há sempre aquelas "zonas de pressão”, algo que resulta em pântanos de difícil acesso, além da existência (ainda) de residências ao longo dos canais, que também dificultam a passagem natural das águas.

O chefe de Departamento do UTGSL adianta, no entanto, que foi realizado um minucioso trabalho para o desalo- jamento das pessoas que ergueram  habitações ao longo dos canais e acomodá-las em áreas mais apropriadas, para facilitar o reperfilamento das águas.

Refere que "do programa concebido, já foram cumpridas mais de 60 por cento das acções, no domínio do desassoreamento, mas ainda há alguns munícipes que não ajudam muito. Depositam resíduos sólidos nas passagens das linhas de água”.

Tavira Henrique reitera a continuidade do trabalho de limpeza e reperfilamento, sempre a pensar na mitigação do impacto das águas pluviométricas.

Intervenção nos pontos críticos

O engenheiro Tavira Henrique exibiu o mapa com os pontos  considerados "críticos” e as principais bacias hidrográficas da província de Luanda. "Temos as bacias dos Mulenvos, Centro e do Quifica. Cada ponto vermelho (indicado no mapa) representa um ponto estruturante, significando tal que precisa de ser, exactamente isso, estruturado, para mitigar o problema que aí existe”, sublinha.

Detalhista o quanto basta, adianta que os pontos amarelos são os transitórios e em muitos deles já estão acauteladas as acções de intervenção. para limitar o impacto das chuvas. "Ilustrámos sempre aqueles pontos críticos ao longo da província de Luanda e ano após ano a nossa tendência é a sua eliminação. Estão todos identificados, as acções são desenvolvidas à medida da disponibilidade de recursos para essas empreitadas”, diz.

No passado, víamos muitas partes do Jardim do Éden inundadas, mas com a macro construção de uma linha ou vala  de água, o cenário pode mudar com o desafogo da água que ficava aí estagnada.

As acções de mitigação não se esgotam nas valas de drenagem, como pudemos ver nessa reportagem à metrópole com cerca de 10 milhões de habitantes. "Além da manutenção preventiva, como o desassoreamento para a recepção das cargas pluviométricas que se avizinham, temos outras acções transversais, que são permanentes e com custos operacionais elevadíssimos”, revela o engenheiro Tavira Henrique, 41 anos, formado pela Universidade Metodista de Angola.

Quando fala em custos operacionais, o chefe de Departamento do UTGSL destaca os combustíveis, exemplificando com um camião de sucção ou combinado, que consome semanalmente algo como 600 a 800 litros de gasóleo, já que trabalha ininterruptamente para manter a bomba acelerada.

Tavira Henrique assegura que a UTGSL atende Luanda no seu todo (centralidades, municípios e casco urbano), além de outras solicitações de entidades estatais, como escolas, esquadras policiais e outras entidades estatais e privadas.

"Sempre que nos vêm bater a porta, nós temos que estar lá”, adianta, reconhecendo não ser tarefa fácil atender à demanda.

Atenção especial a Luanda

No município de Luanda, está  a chamada Bacia Centro, localizada na Praia da Kamuxiba, no Distrito Urbano da Samba. Trata-se, como ilustram as imagens de Rafael Taty, de um local onde param as águas que chegam directamente das zonas do Aeroporto, Maianga, Rocha Pinto e outras.

Este é, também, um dos pontos assinalados a vermelho no mapa que o Jornal de Angola publica aqui, a justificar a necessidade da sua estruturação, tal é a quantidade de detritos sólidos que recebe, muitos dos quais são visíveis na vala, em mais um impacto negativo das chuvas sobre a capital de Angola.

Na vala para a Bacia da Kamuxiba - e isso deve ser assinalado - vimos viaturas da Elisal a remover e concentrar lixo, ao que nos foi dito, para levar ao aterro sanitário.

Em Luanda, é famosa a vala do Cambamba/Balumuka. Detalhe: O município do Kilamba Kiaxi tem, também, o Balumuka, um troço da área metropolitana,  precisamente no território da Maianga e que, por si só, representa uma certa contribuição das águas, como explica Tavira Henrique.

Por isso, argumenta o responsável da UTGSL, "é que as valas de drenagem são transversais, ou seja, entram num município e saem noutro. A manutenção não pode ser feita pura e simplesmente num município”,  explica.

Reitera que, "se no meu município faço a limpeza à jusante, sem à montante, nada feito, pois haverá consequências, porque pode  sofrer com um arrastão. Os trabalhos de manutenção devem ser integrados e transversais”.

 
Elias Kulipanga, administrador-adjunto para a área Técnica e Infra-estruturas de Cacuaco

Preocupações em Cacuaco

A localização, numa zona baixa, traz para a vila de Cacuaco enormes desafios para lidar com a elevada quantidade de águas e resíduos sólidos, que chegam de zonas como Mulenvos, Pólvora, Malueca, Augusto Ngangula, Camassende e outras localidades, acabando por desembocar no Oceano Atlântico.

O Jornal de Angola foi desafiado a percorrer algumas das  zonas consideradas mais críticas de Cacuaco, onde a principal marca da Administração é o aumento de acções ligadas ao saneamento básico, no domínio da drenagem, que se resume essencialmente no reperfilamento e desassoreamento das principais valas que cruzam a vila.

Aqui, está-se a falar das valas do leito do rio Cortante, Mulenvos de Baixo, AGOSMIL e Candelabro, afluentes ligados aos bairros Comandante Bula, Malueca e Pólvora, consideradas macro e que desembocam na orla marítima.

O administrador adjunto para a área Técnica e Infra-estruturas, engenheiro Elias Kulipanga, recorda as acções desenvolvidas, desde 2021, com apoio do Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, envolvendo a conhecida empresa Omatapalo e que tiveram "grande impacto” no desassoreamento e  reperfilamento das  valas, para dar maior conforto às zonas mais baixas da vila, particularmente afectadas por altura das enxurradas.

"Com essa intervenção, melhorou-se significativamente o escoamento do volume das águas nesses pontos”, adiantou, enfatizando a  manutenção permanente das valas, para evitar constrangimentos na época chuvosa.

"Não queremos assistir a mais inundações nas zonas já intervencionadas”, acrescenta, recordando que em alguns desses pontos se assiste ainda à deposição, por alguns munícipes, de resíduos  directamente nas valas, no lugar dos contentores previamente colocados nas ruas. Aliás,  algo que o Jornal de Angola pode constatar no interior dos bairros Paraíso, Boa-Fé e outros.

Populares, algo esquisito, com que pudemos conversar em alguns bairros alegam falta de contentores para a deposição de resíduos, algo que o administrador-adjunto de Cacuaco rebate, referindo que a sua disponibilização é regular, envolvendo as comissões de moradores, para explicarem a existência de locais apropriados para a deposição do lixo.

"Ainda temos estado a notar em alguns pontos, de forma isolada, que os munícipes  persistem em  depositar o lixo ao longo das valas e  isso, obviamente, cria muitos transtornos por altura das enxurradas”, sublinha.

Mas, como noutros  municípios em que actua, no Cacuaco a Elisal contratou micro cooperativas  para a recolha de resíduos até ao ponto de transferência (aterro sanitário).

Preocupações ambientais

Em linha com as preocupações ambientais, uma equipa técnica está permanentemente em acção na orla marítima, para retirar os resíduos sólidos, que vão dar sobretudo às  instalações da CEFOPESCA e zona balnear, junto às barrocas defronte à Capitania.

"Essa equipa está aí para a captação dos  resíduos, acoplando-os num ponto, onde camiões apropriados os recolhem para o aterro sanitário”, diz Elias Kulipanga, descrevendo, depois, a intervenção na vala da AGOSMIL,  empresa vencedora de um concurso de  obras para a construção de uma marginal, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM).

As obras de desassoreamento e assentamento, em alguns pontos, que estão a ser feitas pela AGOSMIL, já conhecem alguma visibilidade, no seguimento da estratégia da Administração de Cacuaco em tornar o espaço num modelo de referência turística.

As micro-empresas, como se diz mais acima, trabalham com a ELISAL, enquanto para as obras de maior envergadura ficam sob a alçada do Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, e do Governo Provincial de Luanda.

E quando se fala de micro- empresas, em bom rigor, está-se a olhar para as cooperativas de limpeza. Em Cacuaco tem-se, como exemplo, a desobstrução do canal que recebe águas no retorno da zona da pedonal do Kifangondo, ao longo da EN/100 e no troço entre a Shoprite e Vidrul, onde essas pequenas unidades subcontratadas pela Elisal intervêm.

"Onde há dificuldades para a intervenção manual,  a ELISAL aparece com uma retroescavadora, lagarta ou giratória, para evitar o assoreamento dessas áreas”, clarificou Elias Kulipanga, destacando as visitas comunitárias aos bairros onde a Administração incentivou a criação de cooperativas com cinco jovens, a quem distribuiu motorizadas de três rodas para a recolha  dos resíduos até ao aterro sanitário.

Em Cacuaco, são bastante referenciados os pontos de transferência na zona da Vidrul, junto ao antigo Comando de Protecção Civil e Bombeiros, bem como da Cerâmica, para quem vai à Pedreira.

Destacando melhorias no saneamento e gestão de resíduos nos últimos cinco a seis meses, o administrador-adjunto para a Área Técnica enfatiza as campanhas de sensibilização junto das comunidades, para preservação do ambiente nos bairros.

"Com o apoio, sobretudo da Agência Nacional de Resíduos e Ministério do Ambiente, reforçamos as acções de educação ambiental”, diz Elias Kulipanga, notando haver zonas que carecem de maior intervenção. Mais optimista, afirma que com a intervenção feita nos últimos dois anos, com a Omatapalo, o impacto negativo das chuvas nas zonas mais propensas às inundações caiu para cerca de 30 a 40 por cento.

Alerta, no entanto, que a persistência de  construções em linhas de água pode reavivar os constrangimentos do passado, com as consequências que se conhecem, nomeadamente obstrução das vias de passagem de águas, desabamento e inundações de habitações.

"A maior parte das obras em áreas mais críticas não foi  autorizada, mas têm os dias contados, porque num trabalho de requalificação e reconversão  muitas dessas obras terão de desaparecer”, afirma o engenheiro Elias Kulipanga, que confirma o cadastramento das pessoas que vivem em áreas de risco.

"Em algumas zonas já  foi feito o cadastramento”, confirma, referindo-se ao bairro da Boa Esperança-3 e à zona do aluviamento, onde as residências estão com uma cota negativa de 100 a 110 metros a nível do mar.

Nessa área, como resultado do desgaste dos solos, várias  residências foram caindo para o lado do mar, levando à intervenção do Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, com a contratação de uma empresa para conter essa ravina macro, que já avançava, perigosamente, para a EN 100, crucial para a ligação com o Norte de Angola.

No local, vimos uma obra de engenharia de grande dimensão, que pode resultar no que, em Cacuaco, já é apelidado como a "pequena Leba”.

Além dessa obra, neste município destacam-se outras, sobretudo as do leito do Rio Seco dos Mulenvos de Baixo, na comuna da Funda, onde as características dos solos trazem sempre desafios adicionais à movimentação dos equipamentos técnicos, por altura das enxurradas.

Mas, segundo Elias Kulipanga, nos pontos já intervencionados localmente, com a interligação das vias entre distritos, a remoção do lixo do   interior dos bairros para o aterro já é feito sem muitos constrangimentos.

Resíduos da Baía de Luanda

O destaque  que é dado ao município de Cacuaco, nesta reportagem, é justificado por receber parte das águas residuais provenientes de grande parte das zonas de Luanda. Esse é o preço da sua localização geográfica.

A vala e a linha dos Mulenvos de Cima, que recebe  água da bacia do Kero de Viana, passando pela Boa-Fé, vem desembocar do lado da vila de Cacuaco. O mesmo acontece com o lado direito do Cazenga, linha da Pólvora e Malueca.

"Além das linhas de passagem natural, Cazenga projecta as águas residuais para Cacuaco, Viana ídem e o município de Luanda,  porque os resíduos que vão parar à Baía são arrastados  pelos ventos”, afirma o administrador.

Elias Kulipanga recorda as inundações de 2007, que deixou um grande rasto de destruição e diz que ainda hoje materiais ferrosos que estavam soterrados com a maré começam a vir à superfície, aumentando ainda mais as preocupações ambientais, que, também, se estendem à confluência do rio Zenza com as águas do mar, onde fica retida muita vegetação, com consideráveis danos ambientais.

  Boas notícias

Mas também há boas notícias, que trazem aos munícipes algum conforto, como o anúncio feito pelo governador de Luanda, Manuel Homem, de que a intervenção nas principais bacias de retenção de águas pluviais está feita em mais de 80 por cento. Apesar de se manifestar satisfeito, pelo andamento das obras, o governador diz não estar ainda descansado, já que "a preocupação com o bem-estar da população é permanente”.

"Há bacias que já estão concluídas e que vão permitir uma melhor gestão das águas pluviométricas na presente época chuvosa”, afirmou, depois de ver  no terreno a evolução das empreitadas em vários municípios. Manuel Homem garante maior atenção às infra-estruturas de desassoreamento das águas pluviais, com a construção de mais bacias de retenção e novas valas de drenagem.

Esse é o retrato (possível) sobre a resposta às consequências negativas das chuvas, que se anunciam no horizonte e que não prometem bons augúrios, colocando os luandenses de cabelos eriçados, tendo em conta os dados que o INAMET vai disponibilizando. Por exemplo, para o Nordeste do país estão previstas cargas de água acima da média, entre os meses de Setembro e Novembro.

A última paragem foi no município de Talatona, onde está a ser construído um canal macro, para acomodar o afluente que vai embater sobre o Lar Patriota. Uma obra do Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, parceiro do GPL, para o canal considerado "braço” do rio Cambamba.

Por estar à jusante, Talatona está "condenado” a receber parte significativa das águas pluviais, de cursos naturais, a partir de outros municípios, algo que representa um desafio técnico permanente nos domínios da limpeza, desassoreamento e perfilamento dos canais, para prevenir situações anormais.

Avisada, a Administração de Talatona colocou em marcha um programa de acções a serem desenvolvidas ao longo do rio Cambamba e da vala do Kifica, num prazo alargado, com o concurso das empresas Elisal, Encib e Omatapalo, justamente para prevenir o impacto negativo das chuvas.

E isso decorre em paralelo com as actividades de micro drenagem, desenvolvidas pelo Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, na Cidade Universitária, passando pelo Condomínio Pelicano, antes de desembocar na ponte hidráulica do Calemba 2, na fronteira com o município do Kilamba Kiaxi.

No troço que vai do Jardim do Éden até depois da ponte do Benfica, passando pelas chamadas "casas azuis”, bairro Honga e na conhecida "Ponte molhada”, está a ser feito um trabalho de reperfilamento da vala de drenagem, enquanto no Patriota há uma empreitada de construção (em betão) de uma vala para o escoamento  das águas vindas do bairro Benvindo e que dão ao rio Cambamba. 

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