Em diferentes ocasiões, vimos como o mercado angolano reage em sentido contrário às hipóteses académicas, avançadas como argumentos para justificar a tomada de certas medidas no âmbito da reestruturação da economia ou do agravamento da carga fiscal.
O conceito de Responsabilidade Social teve grande visibilidade desde os anos 2000, e tornou-se mais frequente depois dos avanços dos conceitos de desenvolvimento sustentável. Portanto, empresas socialmente responsáveis nascem do conceito de sustentabilidade económica e responsabilidade social, e obrigam-se ao cumprimento de normas locais onde estão inseridas, obrigações que impactam nas suas operações, sejam de carácter legal e fiscal, sem descurar as preocupações ambientais, implementação de boas práticas de Compliance e Governação Corporativa.
Vou falar-vos de um Hotel malaico. A suite 506. Com um espelho enorme, adornado com dourados chineses. O Hotel chama-se EKUIKUI I. Ao matabicho, era comida e mais comida, ovos mexidos, salada de fruta-pão, manteiga e a infalível sopa de feijão com chispe, matriz angolana, pois em nenhum hotel por esse mundo fora encontrei sopa de feijão ao matabicho, dizem que é para dar força…só que, para um hotel de quatro estrelas, não vai operário nem camponês.
Veio a lista de vinhos. Pedi uma garrafa. Uma hora depois apareceu um jovem com a garrafa e o saca-rolhas. Ele não sabia trabalhar com o saca-rolhas. Fiquei espantado. "Entrei hoje.” Olhe só, o que é que eu tenho com isso. Deixe ver. É assim. Tira a prata.. Depois vai metendo o saca-rolhas, está a ver. Agora sai com a rolha. Veja, se quiser fazer espuma é só subir e baixar o copo. Comidas, a lista. Camarões ao alhinho. Temos mas não temos camarão. Camarão com legumes salteados. Temos mas não temos camarão.
E eu comecei a riscar a lista. "Vou pedir ao chefe para amanhã mandar comprar camarões.” Mas então vocês não têm um sector de compras e fornecedores mais ou menos certos? "Devemos ter mas eu nunca o vi.”
Chegou uma altura em que saíamos do hotel, entrávamos rapidinho no carro e íamos demandar lugares de comer e bem com gente sabida em indústria hoteleira e aquela cortesia e educação próprias da cultura do Huambo.
Uma noite, incomodado com o menú, pedi um prego no pão. Passou hora e meia e o garçon apareceu com uma terrina redonda coberta com guardanapos de papel. Achei estranho o tamanho mais para cavilha do que para prego. Destapei, meia fatia de pão a cobrir outra meia com meio ovo frito totalizando seis. Não resisti. Liguei exaltado para o director, " não desço, venha o senhor, imediatamente, aqui.”
"Manuel Rui.”
"Sei. Eu estive lá, convidado, o hotel encheu também graças a si. Tenho quase todos os livros seus. Desculpe, sou Martins. Olhe, nunca tivemos uma enchente assim.” "Gaita, um empregado disse-me que era português.”
"Nada. Nasci no Luau e já o meu pai era de lá. No tempo das confusões fui alvejado, ainda se nota na perna esquerda ao andar. Depois, consegui ir para a Suíça e trabalhei em vários hotéis até decidir voltar à minha terra.”
"Mas veja um prego no pão!”
Ligou o telefone. Penitenciou-se que estava ali fazia cinco meses e ainda nem sequer tivera tempo de traçar um plano e por onde começar.
Entrou um homem bem parecido, casaco azul, botões dourados, calça cinzenta, argola dourada na orelha esquerda, risco do lado direito da cabeça e trancinhas viradas para o lado esquerdo.
"Que raio de coisa é esta? Um prego no pão e você traz esta fritada de ovos?”
Entrou o sargento Paulino.
"Sim…a carne não apareceu e…”
"Você dizia que não podia servir.”
"É…”
"Paulino, amanhã muito cedo vá saber a entidade que trata destes assuntos para este cavalheiro ser punido. Martins, os trabalhadores não fazem cursos?”
"Alguns.” " Esta terrina é muito linda. Inclinada. Venda-me uma.”
"Nem pensar. Ofereço-lhe com muito prazer. Falou que a partir de amanhã vai ficar mais três dias por sua conta. Faço-lhe um desconto e evita andar a mudar só por três dias.”
"E eu peço perdão.”
"Que acha Paulino?”
"Como é a primeira vez…pode perdoar mas olha só rapaz, cuidado aqui com o sargento que protege o escritor, você não me conhece.”
"Obrigado e vou buscar uma multa.”
Saiu. O Martins contava as coisas desarrumadas como se tropeçasse um pé no outro, aquilo tudo arrumado poderia dar um romance espectacular sobre a sobrevivência de quem teimou em voltar à sua terra de origem.
O homem dos ovos fritos saiu e voltou com uma garrafa forrada.
"Aqui está a minha multa. Uma garrafa de Champanhe Moêt & Chandon que vou guardar no frigô-bar.”
Ainda perguntei ao Martins porque é que o frigô de um quatro estrelas não tinha as miniaturas de bebidas e ele disse que eu tinha razão, mas que Roma e Pavia…nem o deixei acabar… "vá-se lixar você já teve tempo para ir pró…”
"Desculpe, mais uma vez.”
Eu ainda fiz um acidente por mor de um colchão avariado com inclinação para a direita, foi só virar-me e espatifei o ombro direito na mesinha de cabeceira, bati com a anca esquerda no chão e estou agora mesmo a voltar da clinica. Uma manhã inteira a fazer radiografias e outros exames.
Quando saíamos do hotel, a simpática e linda kilombo cambuta da recepção perguntou-me se tinha passado bem. Eu disse-lhe que principalmente com o camarão ao alhinho. "Olhe escritor, deixe-me tirar uma fotografia consigo, vou dar a volta, quando voltar avise-me para eu tratar do camarão quê?”
"Ao alhinho.”
"Sim, ao alhinho.”
Esquecia-me. Quando abrimos os sacos, tiramos a capa e a garrafa era daquela zurrapa sul-africana com uma fita vermelha. Grandessíssimo filho…
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