Por conta de algum ajuste da pauta aduaneira, concretamente relacionada com a taxação dos produtos de uso pessoal, nos últimos dias, a Administração Geral Tributária (AGT) esteve, como se diz na gíria, na boca do povo. A medida gerou uma onda de insatisfação e, sendo ou não apenas a única razão, foi declarada a suspensão daquela modalidade de tributação, nova na nossa realidade.
Persigo, incessante, mais um instante para privilegiar o sossego. Para a parte maior da raça humana, pondero tratar-se da necessidade que se vai evidenciando quando a tarde eiva as objectivas da vida. Rastos de águas passadas há muito direccionam o moinho para a preciosidade do tempo.
A minha primeira vez em Ondjiva foi em 1999. Era Primeiro-Ministro de Angola, o Dr. França Van-Dúnem e eu actuavamos ainda como jornalistas na LAC - Luanda Antena Comercial.
A missão consistia, dentre outros objectivos, em visitar o matadouro da Kahama, constatar o problema da falta de água em Ondjiva e a questão da energia procedente da Namíbia, cuja factura, dizia-se, "estava alta e a Nampower ameaçava desligar o disjuntor para a capital do Kunene”. Também fomos ver a (re)construção da ponte sobre o Kunene e visitámos o memorial do Rei Mandumeya Ndemufayo, em Ohyole, município de Namakunde.
O avião que levara o Primeiro-Ministro partiu antes do que levara os jornalistas e teve como local de poiso o Aeroporto de Xangongo. De lá para Kahama, França Van-Dúnem e staff foram de carro. Os jornalistas e pessoal de apoio do PM viajaram num "Twin Otter”, numa viagem de mais de três horas, com reabastecimento no Lubango, e poisou em Kahama, onde a pista que serviu as FAPLA e FARC (Forças Armadas Revolucionárias de Cuba) na luta contra os racistas sul-africanos servia de local de repouso dos bovinos que abundam na região.
De Kahama a Xangongo fomos todos em viaturas e aglutinámo-nos no avião maior, o que transportou o Primeiro-Ministro. Já na "cidade” capital, totalmente arrasada, lembro-me da Vila Okapale, local em que dormitámos todos e em que nos foi servido um competente e bem regado repasto.
Vinte e cinco anos depois, voltei à Ondjiva e custou-me reconhecer a cidade que foi "totalmente” construída sobre o nada e restos de escombros de edifícios arrasados pela aviação da Africa do Sul racista nas incursões ao nosso território nos anos setenta e oitenta do Século XX. Andando por Ondjiva contam-se os sobrados do período colonial.
No local onde se acha hoje a sede do Governo existiu o Palácio herdado em 1975. Estão lá conservados os escombros para contar a história das invasões e bombardeamentos das SAF (South Africa Air Force) ao tempo do apartheid. A Igreja Católica, nova, imponente e paralela ao Governo do Cunene, foi também construída pelo Governo, no terreno em que se achava a antiga catedral (embora tivesse sido ligeiramente poupada) a velha e estropiada.
Na mesma rua, a principal da cidade, acham-se, à direita, o antigo palácio (construído depois da destruição daquele herdado na Independência) e um outro palácio, maior, novo e digno desse designativo. Perfila paralelo ao Largo Mandumeya Ndemufayo, também novo e integrado numa série de obras (várias) erguidas pelo Governo Central para reatribuir dignidade de cidade capital ao que restava apenas o nome. Mais abaixo, no sentido Aeroporto-Centro está o edifício da cultura, novo e majestoso, juntando-se-lhe a Mediateca e outras serventias como a Centralidade de Ondjiva que é hoje, diga-se, uma cidade encantadora!
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