Opinião

Os nossos bancos comerciais

A economia de mercado não vive sem as instituições financeiras, bancárias e não bancárias, razão pela qual elas são vitais no processo de financiamento à produção e ao consumo.

09/01/2021  Última atualização 08H45
Há algum tempo que os níveis de financiamento ao sector produtivo por parte dos bancos comerciais, quando feita a comparação entre os valores disponibilizados e os activos líquidos dos mesmos,  contrastava consideravelmente. Não era sustentável a manutenção do referido estado de coisas em que, por um lado, tínhamos bancos comerciais a passarem de ano para ano com lucros avultados e um sector produtivo cada vez mais depauperado e com grande dificuldades de se financiar.  A continuar, a referida realidade, em que os bancos lucravam na proporção inversa da criação de riqueza por parte do sector produtivo, tratava-se de um luxo incomportável para uma economia que pretendia e pretende desenvencilhar-se do referido ciclo vicioso. 

Há cerca de um ano, o Banco Nacional de Angola (BNA) tinha orientado os bancos comerciais, por via da actualização da legislação sobre a concessão de crédito à economia real, a aumentar o valor mínimo até finais de 2020. Segundo o instrutivo legal, os bancos comerciais seriam sujeitos a dedicar 2,5 por cento dos activos líquidos para ajudar a acelerar o processo de diversificação da produção.Sabe-se que o BNA estabeleceu,  como ultimato aos bancos comerciais, até ao dia 30 de Abril de 2021 para os bancos comerciais se conformarem ao Aviso 20/2020, no sentido de contribuírem para aumentar os valores dedicados à produção nacional. 

Atendendo ao ultimato dado pelo BNA aos bancos comerciais, parece mais do que óbvio que numerosas instituições bancárias "resistem” a cumprir o que lhes foi orientado. Não é compreensível que estejamos a assistir a uma espécie de transição, vergonhosa, do nosso capitalismo financeiro com tendência exclusivamente especulativa, em que as instituições bancárias preferem arriscar às multas milionárias, em vez de se conformarem com os instrutivos do BNA. 

Sabemos todos que o mercado financeiro tem a fama de exercer o parasitismo, não raras vezes facilitado por alguma desregulação do sector, razão pela qual legislação apropriada e acompanhamento permanente podem ajudar. Não é segredo para ninguém que alguns bancos comerciais, senão grande parte deles, preferem apostar naqueles segmentos de mercado que garantem retorno célere com apostas na dívida pública, nos títulos e bilhetes regularmente emitidos pelo Banco Central. 

É verdade que os bancos têm como actividade primária e fundamental "a venda de dinheiro”, sendo vital para a sua continuidade a manutenção dos níveis de solvabilidade, de confiança e credibilidade dos titulares de depósito, individuais e colectivos, entre outros. Mas urge impor regras aos bancos comerciais, redireccionar o financiamento para o sector produtivo para que as nossas instituições bancárias não sejam tentadas a exercer o parasitismo financeiro. Precisamos de bancos dedicados à produção nacional onde, obviamente, podem também lucrar e muito. 

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