Reportagem

Projectos de estudantes do ITEL podem ser úteis no dia-a-dia

Celeste de Melo

Jornalista

Vários expositores participaram, de 7 a 9 de Setembro, na 14ª edição da Feira de Inovação Tecnológica do ITEL, com projectos ligados a diversas áreas, desde Saúde, Educação e Lazer

01/10/2023  Última atualização 07H10
© Fotografia por: João Gomes | Edições Novembro

Ambiente calmo e tranquilo era o que se registava no período da manhã no primeiro dia da Feira de Inovação Tecnológica do Instituto de Telecomunicações (ITEL), em Luanda, onde foram expostos 40 projectos de estudantes finalistas da referida instituição. Através da iniciativa, que se realiza todos os anos, os estudantes apresentaram ao público e à classe empresarial as competências e conhecimentos adquiridos no decorrer dos quatro anos de formação.

Ao entrar no pátio estavam várias cabines perfiladas, onde cada estudante fazia a exposição das suas criações.

O ambiente que no início parecia tranquilo e fácil de circular entre os corredores, de repente começava a ficar agitado e lotado com a chegada dos visitantes, principalmente estudantes, que coloriram de branco o local com as suas batas, fazendo com que a movimentação ficasse cada vez mais difícil.

Acabados de chegar, os alunos dirigiam-se às cabines que lhes despertasse a atenção, com a curiosidade de saber como funciona cada projecto exposto.

"Fiquei encantada com todos os projectos que encontrei, principalmente com aqueles sistemas ligados à área da saúde", disse Maria Joaquina, uma das visitantes.

Atentos à explicação dos inventores, era possível notar nos rostos de cada estudante a admiração com tudo o que viam. "Aqui tem gajos barras ya", comentavam entre si um grupo de alunos que passeavam pela feira.

A actividade contou ainda com um momento de debate para uma reflexão sobre a Inovação Tecnológica ao Serviço da Segurança Rodoviária.

Mitigar a sinistralidade rodoviária
Na ocasião, o director para as Telecomunicações, Tecnologias de Informações e Comunicação Social, Matias Borges, encorajou os jovens estudantes do ITEL no sentido de juntos encontrarem formas para mitigar a sinistralidade rodoviária.

Em face do número de acidentes que tende a crescer, frisou, as TIC são ferramentas que estão a auxiliar e podem gerar soluções para esta problemática. "Hoje a nível nacional tem o CISP um centro integrado que tem auxiliado nos diversos problemas que têm surgido nas faixas de rodagem, pois facilitam a interacção entre os sinistrados e a polícia", sublinhou.

O chefe de departamento de Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Tomás Cucolo, que falou sobre Inovação Tecnológica ao Serviço da Segurança Rodoviária, referiu que a Polícia Nacional tem feito esforços e grandes investimentos em equipamentos tecnológicos para travar o número de acidentes nas estradas do país. O uso das novas tecnologias, sublinhou, vem, de certa forma, ajudar na fiscalização do trânsito rodoviário.

Em termos de equipamentos tecnológicos, disse, o país possui alguns, mas ainda não são satisfatórios. "Estamos a investir em radares fixos e móveis, que visam reduzir o índice de sinistralidade, porque, a partir do momento que o automobilista identificar um radar, tende a reduzir a velocidade”, frisou.

Tomás Cucolo avançou que, no primeiro semestre de 2023, o país registou 7.283 acidentes rodoviários, com 1.458 óbitos e 8.926 feridos.

Com estes dados, realçou, a educação rodoviária deve partir da base, de modo a combater o índice de ocorrências. "Se apostarmos na instrução desde a base, futuramente teremos um país com menos acidentes de viação”, referiu.

O comandante adjunto para a gestão de Bombeiros, na província de Luanda, Bravo Mendes, apelou aos jovens finalistas do ITEL a olharem para os desafios tecnológicos, com a criação de equipamentos ou sistemas de interacção directa entre o cidadão e o corpo de Bombeiros.

Após o debate sobre a Inovação Tecnológica ao serviço da Segurança Rodoviária, seguiu-se um momento cultural. Minutos depois, a feira voltou a ficar agitada, com uma visita guiada de cabine a cabine, feita pelo vice-governador da província de Luanda para o sector Económico, Gilson dos Santos Carmelino, e outras entidades que ficaram maravilhadas com os projectos e elogiaram a iniciativa de cada expositor.


Projectos ligados a diversas áreas

Vários expositores participaram, de 7 a 9 de Setembro, na 14ª edição da Feira de Inovação Tecnológica do ITEL, com projectos ligados a diversas áreas, desde Saúde, Educação e Lazer.

Alfredo Augusto, de 19 anos, estudante finalista do ITEL no ano lectivo 2022/2023, residente no município de Cacuaco, apresentou um sistema de monitoramento de ultrapassagem de viaturas, desenvolvido com o objectivo de ajudar a minimizar os acidentes rodoviários.

Entusiasmado com a própria obra, explicou que o aplicativo possibilita, ao motorista, detectar a aproximação de objectos à sua volta, fazendo com que o automobilista, ainda à distância, arranje mecanismos para se desviar e evitar o embate com o obstáculo.

A aplicação, realçou, foi projectada de modo a estar conectada com o painel do carro, onde o condutor pode ver o obstáculo a partir da tela do automóvel. "As vias no país têm déficit quanto à luminosidade e muitas vezes os próprios veículos não possuem luzes. Com este aplicativo vai ser possível detectar, à distância real, o obstáculo e assim prevenir os constantes acidentes nas rodovias", justificou.

Alfredo Augusto contou que a criação do projecto surgiu por iniciativa própria, mas teve a ajuda de um dos professores.

O propósito, disse, é materializar, nos próximos anos, o sistema num automóvel real, o que só é possível se tiver patrocinadores que ajudem a implementar e fazer experiência numa viatura.


Sistema online

Quem também não ficou de fora foi Filipe Matias, de 20 anos. Juntamente com um colega, ambos finalistas do curso de Electrónica e Telecomunicações, expuseram um sistema online para detectar ocorrências em casos de incêndios.

Filipe Matias disse que utilizou a tecnologia e sensores para detectar precocemente ocorrências de incêndios, pois, o sistema emite alertas em tempo real. A ideia, acrescentou, é fazer com que o projecto seja implementado nas residências, instalações industriais e em edifícios.

Trajado de uma camisola azul, à semelhança dos demais expositores, calça jeans e tênis branco, explicou que o aplicativo está ligado a um sistema de comunicação e que, através de um site central, é possível enviar um alerta para o corpo de Bombeiros e ao proprietário informando sobre a ocorrência.

Apesar do projecto ser online, frisou que o cliente não precisa de estar conectado à Internet para detectar os sinais de incêndio na sua propriedade. Filipe Matias, ressaltou que criaram o aplicativo com objectivo de prevenir as constantes perdas em danos materiais e, principalmente, ajudar o Serviço de Protecção Civil e Bombeiros a salvar vidas.

"Uma vez que a única forma do corpo de Bombeiros tomar conhecimento de que há um incêndio é por meio de chamada, decidimos criar um outro método para facilitar a comunicação directa entre as vítimas e o Serviço de Protecção Civil e Bombeiros", realçou.


Cadeira de rodas  electrónica

Do outro lado, uma roda de estudantes olhava atentamente para uma pequena cadeira de rodas electrónica, que se movia de um lado para o outro por meio de um comando.

Ivo Ngonga, com o comando nas mãos, explicava, com paciência, como funciona. Para além de tornar a locomoção das pessoas com deficiência mais fácil, também ajuda a detectar obstáculos.

A ideia, disse, surgiu após constatar as inúmeras dificuldades que as pessoas com deficiência enfrentam no dia-a-dia para se deslocarem, pois a maioria depende de um familiar ou uma pessoa próxima para o empurrar.

"A prova viva é o meu irmão mais velho. Vejo o esforço que ele faz para se deslocar. Então fui pensando como poderia facilitar a vida dele e de outros que se encontram na mesma situação. Foi então que surgiu a ideia de criar este controlo remoto", frisou.

Ivo Ngonga, de 25 anos, vive no Cazenga, contou que entrou no ITEL por influência do pai, que o incentivou a fazer o curso de Electrotécnica e Telecomunicações. "Dizia sempre que é bom estudar nesta escola mas nunca falou do quão tinha de me aplicar. Não foi fácil. Várias vezes fiquei sem dormir para revisar. Hoje posso dizer que valeu a pena,  pois todo o sucesso exige sacrifício", sublinhou.

Nos próximos anos, pretende continuar a desenvolver o projecto e implementar um sistema que possa também reproduzir voz, para ajudar os tetraplégicos, que possuem deficiência nos membros inferiores e superiores. "O objectivo de participar na feira é de angariar investidores que se interessem pelo projecto”, disse.


Resgatando a cultura

Said Mucondo, de 19 anos, formado no curso de Informática e Sistema Multimédia, criou um sistema operacional denominado "Resgatando a cultura". Um aplicativo 2D para mobile com a função de ensinar ou recordar datas históricas, nomes dos heróis nacionais e sobretudo os grupos etnolinguísticos angolanos.

O aplicativo, frisou, funciona como um super livro interactivo, que é instalado no telemóvel e pode ser utilizado por indivíduos de todas as idades e países que queiram aprender mais sobre a cultura do país.

"As pessoas estão cada vez mais presas aos seus telefones e perdem o hábito de leitura. Olhando para este aspecto, surgiu a ideia de criar este aplicativo de modo que as pessoas, por meio dos próprios aparelhos, aprendam a história do nosso povo”, explicou.

O projecto ensina de três formas: em texto, para quem gosta de ler, em áudio e em vídeo aulas; uma vez que com imagens as pessoas tendem a aprender com maior facilidade.

Ainda no ramo da educação, como forma de poder ajudar na qualidade de ensino no país, Yonara Bola, de 19 anos, e Raquel, também finalistas do curso de Informática e Sistema Multimédia, criaram um jogo dedicado a crianças com necessidades especiais(com síndrome de Down, surdez, mudez e autismo).

Yonara Bola explicou que o jogo tem como finalidade ajudar no desenvolvimento das suas capacidades cognitivas por meio de uma colecção de jogos que, de maneira divertida e interactiva, estimulam a atenção e concentração dos pequenos.

"O jogo é composto por três categorias. Cada uma delas contém mini jogos adaptados para cada uma das doenças. O que vai ajudar as crianças com ou sem deficiência a saberem como se comunicar com uma criança com necessidades especiais", esclareceu.

O passo a seguir, referiu, é continuar a desenvolver o projecto, atualizá-lo face às constantes actualizações tecnológicas e posteriormente implementar nas escolas, de modo a minimizar o défice da qualidade de ensino especial que o país ainda enfrenta.


Sistemas de tratamento médico

Cristiana Cangudo, de 19 anos, técnica média de Electrónica e Telecomunicações, juntamente com uma colega, apresentaram um sistema de assistência médica para doenças respiratórias e hipertensão, que foi o projecto de final de curso de ambas.

Enquanto explicava, Cristiana Cangudo fazia também a demonstração de como funciona o sistema. "Com a ajuda de uma maquete interactiva é possível medir o nível de oxigênio no sangue, frequência cardíaca e a pressão sistólica e diastólica”, disse.

Após a medição, prosseguiu, todos os dados são enviados para uma aplicação web que por sua vez faz a interpretação dos dados e informa quando é que os níveis medidos estão normais ou anormais.

Nos casos em que são considerados anormais, disse, o aplicativo consegue mapear a localização do usuário e encaminhá-lo para o hospital mais próximo. "Quando os níveis são anormais, impossibilitando que o indivíduo se desloque, faz-se um registo com o número de um familiar próximo para que, se houver um atraso da ambulância, o familiar receba uma notificação de modo a socorrer a vítima”, contou.

De acordo com as mentoras, a inspiração para criar o sistema surgiu através de várias pesquisas feitas, onde foi possível constatar que 30 por cento da população angolana é considerada hipertensa. E de acordo com a Organização Mundial da Saúde, 25 por cento da população mundial possui alguma doença respiratória.

"Decidimos utilizar os conhecimentos adquiridos para tentar ajudar a população, inicialmente a angolana e, quem sabe, futuramente a nível mundial", disse Cristiana Cangudo, que na infância sonhava ser cientista.


Sistema de pré-diagnóstico hospitalar     

Olhando para uma das doenças que têm assolado o país, o paludismo, Sara Safuliela e Abel Cutarica decidiram desenvolver um jogo que ajuda a consciencializar a população de forma a reter mais conhecimento sobre a doença.

Abel Cutarica explicou que o jogo permite às pessoas, incluindo profissionais e estudantes na área, a se familiarizarem com os termos e procedimentos de saúde. O sistema é uma ferramenta educacional completa, interactiva e dinâmica, com o objectivo de auxiliar os profissionais e estudantes na área de Saúde.

O jogo, acrescentou, traz dois níveis, o primeiro composto por perguntas e respostas ligadas ao paludismo e o segundo comporta animação 3D e 2D.

"Na animação 3D podemos verificar uma conversa entre o profissional de saúde e o paciente. Através deste diálogo é possível fazer o diagnóstico e saber o que de concreto o utente tem. Ao passo que na animação 2D encontra-se uma demonstração de como é feito o processo de aplicação de uma injecção, o teste de gota espessa e, posteriormente, ver o resultado do mesmo, passar uma receita e recomendações", disse.


Centro de Formação Tecnológica do Uíge

Entre os feirantes estiveram, também, representantes do Centro de Formação Tecnológica da província do Uíge, a única província convidada para participar na feira, com projectos ligados ao turismo e cultura, educação e multimédia.

Felipe Ferreira, um dos representantes, frisou que no ramo da educação, criou-se um laboratório de saúde que contém equipamentos virtuais que permitem ao professor, enquanto leciona, fazer demonstrações.

No que toca ao projecto multimédia, está a ser criada a primeira série angolana de desenhos animados que retrata a violência doméstica.

O Centro de Formação Tecnológica do Uíge existe há dois anos e já formou cerca de 80 técnicos.


Diminuir as enchentes
nos hospitais

O estudante Fábio Teixeira e os seus colegas desenvolveram um sistema de pré-diagnóstico hospitalar, com o objectivo de diminuir a enchentes registadas nos hospitais.

O sistema permite aos pacientes fazerem um diagnóstico médico, em qualquer lugar, tendo um dispositivo e aplicativo no telefone.

" O dispositivo é composto por vários sensores de batimento cardíaco, oxidação sanguínea e sensor de temperatura. Depois de serem analisados os dados vitais, através de um questionário, o paciente deve preencher um formulário na web, como se estivesse a conversar com o médico, vai preencher os sintomas, histórico médico, todas as informações clínicas do paciente vão para o formulário e depois esses dados são processados e é gerado um diagnóstico", esclareceu.

No caso de o diagnóstico ser grave, prosseguiu, o paciente é encaminhado directamente para o hospital  mais próximo. Ao chegar no hospital o seu nome já estará registado na base de dados como paciente grave e é atendido imediatamente, descartando a possibilidade de ficar nas filas.

Caso o resultado do diagnóstico for leve, explicou,  o sistema consegue dar apoio total a esse paciente, com recomendações médicas, instruções do que ele deve fazer, quais são as medicações a tomar e todas as outras informações necessárias para o paciente sentir-se melhor.

Para tal, disse, tivemos que contactar especialistas em algumas clínicas e hospitais. "Fomos seleccionadas na Clínica Sagrada Esperança, onde trabalhamos em parceria com a equipa de electromedicina, no sentido de adquirir informações técnicas e éticas da Medicina”, concluiu.


Controlo de clientes

Um dos projectos que muito despertou a atenção dos visitantes é o Controlo de Clientes mototaxi, desenvolvido por estudantes finalistas do curso de Informática e Telecomunicações.

Jacinto Nzinga, um dos mentores, explicou que o projecto foi desenvolvido  com o objectivo de evitar acidentes e roubos de motorizadas, bem como obter informações sobre  o rendimento diário. A partir de um dispositivo ligado à moto, acrescentou, conseguimos ter o controlo de toda a actividade a partir do telefone. No caso, o dono consegue ver quantos passageiros foram transportados, o dinheiro arrecadado, consegue ter a localização da mesma e o percurso que a moto está a fazer, tudo isso em tempo real. Em caso de roubo, o dono pode também bloquear e desbloquear a moto.

"Um pormenor importante é que a moto só funciona se o motorista estiver com o capacete na cabeça, caso contrário a moto não liga. Fizemos alguns estudos sobre a moto e implementamos esse sistema de modo que tenha essa funcionalidade", salientou.


Sistema de Prevenção de Acidentes

Outro projecto concebido pelos estudantes para melhorar a segurança rodoviária é o "Sistema de Prevenção de Acidentes", desenvolvido pelos estudantes finalistas do curso de Informática.

Daniela Caixinda explicou que a iniciativa surgiu para mitigar o número de acidentes provocados por motoristas sonolentos.

"Houve a necessidade de criarmos um projecto que visa solucionar esse mesmo problema, que é o sistema de prevenção de acidentes usando lentes detectores de perigo. Quando o condutor estiver a conduzir, usando as lentes, ao cair no sono, é dado um alerta ao condutor. Caso ele não desperte, o carro vai parando lentamente como se estivesse a estacionar. E caso desperte, continua a sua viagem normalmente".

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