A avaliação é do director nacional de Informação e Comunicação Institucional do MINTTICS. Em entrevista ao Jornal de Angola, por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que hoje se assinala, João Demba sustentou o seu optimismo pelo facto de continuar a existir espaço de trabalho para a melhoria e reforço do estado actual da Liberdade de Imprensa. Siga a conversa completa
Em entrevista ao Jornal de Angola, a Subcomissária Teresa Márcia, 2ª Comandante Provincial de Luanda do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros (SPCB), que atende a área Operativa, falou sobre a operacionalidade e a actuação deste órgão do Ministério do Interior responsável pela salvaguarda da vida dos cidadãos e seus bens patrimoniais.E como não podia deixar de ser, falou do seu sonho antigo e concretizado de ser bombeira e dos desafios que as mulheres enfrentam nessa nobre profissão
Jaime Palana Kipungo, Proletário ou Man Prole, como é tratado pelos fãs (poucos sabem que o seu primeiro nome artístico era Jones James), pertence a uma geração intermédia da música angolana do pré e pós independència. Natural do Waku-Kungo, o seu sonho pela música começou a concretizar-se em 1972, na capital do país, no bairro Caputo. Com a independência, a 11 de Novembro de 1975, integra o Agrupamento Aliança FAPLA-Povo, mas é na década de 80 do século passado que conquista o seu espaço e se torna numa das principais referências da música nacional. Prestes a lançar o álbum “Carolina do Ebo”, Man Prole é um dos artistas mais populares do país e um dos vencedores do Top dos Mais Queridos. Nesta entrevista, Proletário revela pormenores do seu percurso artístico, assim como a vida do miúdo que aos 13 anos deixa o interior à procura de melhores condições de vida em Luanda. Detalha as motivações de alguns dos seus principais sucessos e, na parte final, Man Prole não conteve as lágrimas ao revelar as lutas que tem enfrentado para colocar no mercado o sucessor do disco “Caminha”. O seu próximo álbum tem o tema “Canote” na linha da frente como tema promocional. “Carolina do Ebo”, que conta com a produção de Betinho Feijó, é um disco que, segundo o autor, tem tudo para conquistar Angola
Uma breve apresentação de Proletário...
Sou o Jaime Palana
Kipungo, vulgo Proletário, um artista de profissão, natural do Cuanza-Sul,
município do Waku no dia 24 de Março de 1957. Estou em Luanda desde 1970, vim
de camião, quando tinha apenas 13 anos.
Quais foram os motivos
que o levaram, ainda miúdo, a abandonar a terra natal?
Olha, antes de vir para
a capital do país, saí pela primeira vez da minha comuna em 1967, porque perdi
a minha mãe muito cedo, quando tinha cerca de
5 anos. Depois disso, passei a viver com a minha madrasta, mas em 1968 o
meu pai também morre e, dadas as questões da nossa própria cultura, não fazia
sentido continuar com a minha madrasta. O meu irmão mais velho, apercebendo-se da situação, foi buscar-me, porque trabalhava com um
latifundiário na região de Calulo. Falo precisamente do Dr.Manuel Bravo,
proprietário da roça Quiçala, na Cabuta. Lá fiquei uns quatro meses, depois
tivemos de regressar à nossa aldeia, como ditavam as regras de trabalho do
contratado, mas três meses depois voltei a Calulo e foi lá onde aprendi a música
"Canote”, que tem estado a badalar ultimamente. Aprendi a história porque os
mais velhos que trabalhavam na fazenda, aos sábados, depois do trabalho iam aos
bairros nos "ambientes” com as populações locais. A minha permanência lá
facilitou a adaptação em Luanda, porque Calulu é o único município do
Cuanza-Sul que só fala Kimbundu.
Como foram os seus
primeiros dias em Luanda?
Não foram fáceis.
Quando cheguei estava a trabalhar na zona da Dona Amália, no Rangel, para uma
determinada pessoa e não fiquei a gostar do modo como era tratado. Então, um
certo dia peguei nas minhas bicuatas e fugi, pondo-me em direcção à Avenida
Brasil à procura de emprego na Baixa. Eu saí do Rangel por volta das 15 horas,
mas não consegui nada e neste dia dormi debaixo da ponte do São Paulo. Havia um
túnelonde passei a noite normalmente, como se não tivesse problemas. Quando
acordei, peguei na minha sacola e voltei a caminhar à procura de emprego, até
às 13 horas. Eu estava cansado e com muita fome, porque há quase dois dias que
não comia nada.
Como superou esta
situação?
Na época havia nos
Combatentes o Prédio 159 e o mano Segunda Pinto trabalhava lá como contínuo. E,
quando estava a largar do serviço, deparou-se comigo e perguntou o que estava
ali a fazer. Disse que estava à procura de emprego e ele aconselhou-me a ir à
Voz de Angola fazer um anúncio, de forma a encontrar algum familiar. Disse que
os brancos não aceitavam empregar quem
não fosse recomendado por pessoas conhecidas. Depois de tudo isso,
levou-me à sua casa na Precol, mas antes fomos a casa de uma sua irmã, Domingas Manuel Rocha,
no Marçal, na zona da rua da Brigada. Nunca me esqueço desse dia, porque ela
tinha acabado de fazer o almoço, que era funge de bombó com feijão de óleo de
palma e peixe espada. Foi a minha primeira refeição depois de dois dias sem
comer nada. Para mim, aquilo foi um manjar dos deuses.
Mas depois as coisas
começaram a mudar?
Sim. Na Precol, em casa
do mano Segunda, encontramos a mana Esperança, a esposa, que me recebeu com
muito carinho. Disse que não havia problema e que podiam ficar comigo. Fiquei
com eles durante dois anos. Conheci a mana ConceiçãoManuel Rocha, a mãe do
nosso Avô Ngola, e tornei-me da família. Eles foram, e são, pessoas muito
especiais para mim.
Perdeu, definitivamente,
o contacto com os familiares de sangue?
Um dia encontrei um dos
meus primos em Luanda, perguntou-me com quem estava a viver. Depois das
explicações ele pediu para o levar a casa do mano Segunda Pinto, para pagar
alguma coisa. Mas este disse que não havia nada a pagar, porque hoje era eu,
amanhã poderia ser um dos seus filhos. O meu primo recebeu esta mensagem com
profunda admiração e muito agradecimento. Sempre fui tratado como um filho
querido, por isso não me esqueci de os homenagear, incluindo-lhes em "Canote”,
tema promocional do disco.
E como nasce o seu
gosto pela música?
Decidi optar pela
carreira musical ainda em casa do mano Segunda na Precol, mas ele nunca
acreditou que um menino que conhecera com uma mochila às costas e sem onde
ficar se tornaria um cantor como sou hoje. Eu dizia que um dia seria cantor,
fui ao Kutonoka, vi o Minguito da harmónica, Artur Nunes, David Zé e o kota
Elias dya Kimuezo a cantar, enquanto engraxava sapatos no campo da Académica.
Gostei muito, mas o mano Segunda continuava céptico, dizia que não iria
conseguir. Fiz tudo para tornar-me artista. O tempo foi passando e cresci.
Quando passou a ser mais ambicioso?
Em 1972 vivia no
Caputo, ali nas zona dos Congoleses, onde eu reuni alguns amigos do bairro e
formamos um grupo com latas, batuques improvisados e solos na boca, com o
Caculo. Eu cantava e as vizinhas aplaudiam e ficavam felizes. Depois surgiu a
entrada para os conjuntos reais e fui para o Surpresa 73. O responsável era o
Nzo Yame, o solista o Chachado. Ensaiei no Centro Social do São Paulo. Entrei
por via do Pepé, um promotor musical que trabalhava no Sporting do Rangel,
actual Ngongo. Recordo que um dia, sábado, fomos assistir a uma matiné e eu
pedi para cantar no Kutonoka, mas o Pepé disse que eu era miúdo E mandou-me
ensaiar com o Surpresa 73, para actuar na semana seguinte. Assim aconteceu. Foi
uma boa apresentação e ofereceram-me rebuçados. Deste modo comecei a acreditar
e passei a actuar em diferentes palcos. No Maria das Escrequenhas cantei junto
ao Chandinho Show, um artista bastante conhecido mas que era também de palmo e
meio. Também fui acompanhado pelos Ases do Prenda.
Fale da sua entrada no
agrupamento FAPLA-Povo...
Com a Revolução dos
Cravos, no dia 25 de Abril de 1974, as
coisas não corriam bem, mas depois que os movimentos apareceram na capital
tivemos que incrementar as actividades culturais, cantando músicas de
sensibilização e apoiando, no meu caso, o MPLA. E é assim que depois de tudo,
pela mão do Hildebrando de Jesus Cunha, em
1975 entrei no Agrupamento Aliança FAPLA-Povo, onde fiquei mais de oito
anos. Era um agrupamento sob tutela da Direcção Política das Forças Armadas
Populares de Libertação de Angola (FAPLA), pertencente ao Gabinete de Agitação e
Propaganda do MPLA. As músicas revolucionárias eram apreciadas para mobilizar
as massas a aderirem ao movimento. Fui aceite e cumpri a minha vida militar a
cantar em vários pontos do país, desde Benguela, Cabolongo a Castanheira de
Pêra, para sensibilizar a tropa e a população, até que passei à
disponibilidade.
Era o Jones James,nesta altura?
Sim, mas como eu
cantava uma música que falava do proletariado e as pessoas gostavam, porque
estava na moda cantar política... Sempre que cantasse a música "Proletariado”,
as pessoas em vez de me chamarem pelo meu nome artístico, que era Jones James,
chamavam-me Proletário e foi assim que o nome pegou, com os falecidos David Zé,
Babulu, Zeca Pilhas Secas e outros que o faziam durante os ensaios e noutros
momentos.
Quais foram as suas
músicas da época do FAPLA-Povo?
Gravei as minhas
primeiras músicas em 1978, designadamente "Mãe África”, que falava de Marien Ngouabi, "Escravatura”,
"Infelicidade”, "Ian Smith”, "Sandra” e "Vavó Dya, Vavó Yami”. Essas músicas
foram todas gravadas no mesmo dia. Comecei no início da tarde e terminei por
volta das 16 horas. Anote bem, às 19
horas já estava famoso (risos). De volta a casa receberam-me com muitos
aplausos, porque a rádio já tinha divulgado "A escravatura” e "Mãe África”.
Assim comecei a ganhar fama e muito prestígio. Foi algo maravilhoso.
Depois desta fase a fama
aumenta. Como as coisas aconteceram?
Sim. Fui convidado pelo
Dionísio Rocha, que na época estava a representar o programa Bom Fim-de-Semana,
com os espectáculos que eram realizados no cine Miramar. Fui convidado com os
Jovens do Prenda, depois de ter passado à disponibilidade militar. Neste evento
apresentei "Uaué minha mama”. Foi a primeira vez que cantei na língua ngoia.
Também "Madó” e "Ingratidão”. Estes três temas levantaram-me bastante depois de
ter passado pelo FAPLA-Povo. Depois disso,
chegou o momento de compor o "Man mano”,
que me deu a vitória no Top dos Mais Queridos, em 1983.
"Uaue man mana”,que muitos tratam como"Mama kudilongo”?
Exactamente, porque
cada um dá o nome de acordo com a sua percepção, mas o título original é "Uaue
man mano”. Este tema marcou muitas mães, fez chorar muitas senhoras. Tanto este
como "Madó” fizeram sucesso. "Uaue man mano” fez-me conhecer Portugal a convite
do Bonga Kwenda, que, ao saber deste menino que estava a fazer sucesso em
Angola, fez questão de me convidar para um festival dos Palop, onde fui com Os
Merengues. Na ocasião fiquei em primeiro lugar como cantor e os Merengues em
primeiro como banda.
No corpo de jurados
estavam o Bonga e o Manu Dibango, de feliz
memória. Como o Mano Dibango primava muito pela africanidade, quando
acabei de cantar, encostou com o saxofone, abraçou-me e chamou-me de
"Cantadoró”.
A música tem um estilo
de fusão, um afropop. Como surgiu a ideia?
Eu sempre fui versátil
e procurei conquistar quer a juventude, quer os mais velhos. E através das
minhas composições e melodias sempre introduzi um perfume juvenil na música,
para juntar o útil ao agradável. Naquela época todo o mundo estava colado à
Rumba, Semba, Cabetula e outras coisas, mas eu apareço a cantar o "Uaue man mano”
comum ritmo totalmente diferente e faço uma revolução. As pessoas não falam, é
normal, porque só o fazem depois da gente desaparecer da Terra. Quando estamos
em vida fingem que não estão a ver o que estamos a fazer. Eu posso mesmo dizer
que houve uma época que fiz uma certa revolução e a partir daí as pessoas
começaram a modernizar, a fazer uma nova música e a apostar naquela linha
melódica da terra. Esta iniciativa e
criatividade fez com que ganhasse o Top dos Mais Queridos.A captação foi feita
ao vivo pelo Ferreira Marques, o nosso Jesus Cristo, no cine Karl Marx, e o
acompanhamento pelo Semba Tropical. Esta é a melhor gravação. Depois começou a
bater tanto que depois de sair de Portugal fui convidado para ir à Líbia.
Man Prole não estava em
Angola na fase da votação. Como soube que estava para ganhar o Top?
Foi o Artur Arriscado,
grande técnico da CT1, quem me avisou, porque ele acompanhou todo o processo
desta música. Eu estava na Líbia, na época o falecido Khadaffi lançara o Livro
Verde, e, novamente com Os Merengues, fizemos lá 15 dias. Era um tempo em que as pessoas tinham
de recortar os cupões no Jornal de Angola e depois com a metade votarem. O
Arriscado se apercebeu que eu estava
muito acima, e ganhei realmente o Top dos Mais Queridos. Digo que não foi como
agora, que muitos consideram batota ou com arranjos. Fiquei muito feliz, porque
estava fora do país a curtir nas bandas da República Jamahiria (das massas) da
Líbia. Terminamos o festival e depois vim para participar na gala.
Ofereceram-me uma passagem para o Brasil, onde fiquei um mês. Fui com o
Robertinho, meu amigo, que fez tudo também para viajar.
Tem muita cumplicidade com o Robertinho. Quando e como o conheceu?
No Marçal. Ele
praticava alfaiataria e eu era marceneiro. Foi numa fase em que os brancos
tinham ido embora, os armazéns ficaram abandonados e nós fizemos daquilo o
nosso ganha pão. Comprávamos tecidos para vendermos nas ruas e foi assim que
conheci o Robertinho. Depois ficamos a
conhecer-nos melhor no FAPLA-Povo, ele era corista e baterista.
Fizemo-nos amigos e até hoje temos uma relação indestrutível e que carrega
muita história.
Por isso vocês
assumiram, no Show do Mês, que asseguraram a música angolana durante uma época...
Olha, antes do
fraccionismo a banda que se fazia ouvir era o Kissanguela, mas depois esta
desapareceu, e, como nos encontrávamos no FAPLA-Povo, a nossa actividade não
parou e estávamos em constante contacto com a tropa e a população. Quando as
coisas começaram a tomar estabilidade no contexto político e social, nós
estávamos a fazer um barulhozito, entre 1986 e 1987.
Como surgiu a banda
Xamavu?
Eu, Robertinho e o
António Paulino éramos oficiais na reforma e naquelas passagens que eu fazia na
Caixa Social do Exército fui pedir audiência ao General Xietu, para pedir-lhe
patrocínio, porque estava a gravar as músicas para um disco. Ele disse que as
coisas não estavam bem. Depois da
conversa eu saí triste, penso que ele não me conhecia bem, porque parece que
ele perguntou à secretária quem eu era e de seguida ligou quando eu já estava a
descer as escadas. Quando voltei a
colocar a questão foi mais positivo, ele é uma pessoa de grande coração. Depois
perguntou também pelo Robertinho e pelo António Paulino, porque sabia que eles
também eram da Caixa Social. Foi assim que o Chefe Xietu e o general Lucas
decidiram criar a Banda Xamavu, porque eles queriam criar um grupo que no
futuro poderia dar-nos estabilidade. Foi nesta perspectiva que foi criada a
banda, para apoiar todas as actividades culturais nos quartéis. Fomos nós que
praticamente inauguramos todas as unidades da Caixa Social nas províncias. Gravamos dois discos,
"Tempestade” e "Kimbombeia”. A Banda Xamavu tinha grandes músicos, alguns deles
provenientes dos Jovens do Prenda, casos do Zé Luís, Pirakandam e Charles
Bunga. Éramos muito fortes e até hoje nós, antigos integrantes, nos
interrogamos por que razão é que acabou.
Noutra edição trouxe
"Sanguenguenga”, também um estilo diferente...
Sim. As pessoas não
estavam preparadas para ouvir este tipo de música. E eu, mais uma vez, dei um
salto qualitativo porque estes, às vezes, têm de ser pesados segundo as
circunstâncias. Mas agora as pessoas gostam desta música. Perguntam como foi
possível ter ido buscar este ritmo, é um tema muito bonito e eu penso fazer uma
nova roupagem, mas sem fugir muito daquele estilo. "Sanguenguenga” surgiu na
minha terceira corrida ao Top dos Mais Queridos, mas antes, na segunda, eu
tinha preparado o "Manuel Cayanda”, que foi outro grande sucesso de Cabinda ao
Cunene, tanto assim que me lembro que
num Natal quase todas as casas tocavam esta música. Depois, é um ritmo que tem
a ver com as danças tradicionais da minha banda.
"Manuel Cayanda” é outra homenagema um conterrâneo seu?
Sim, porque segundo a
história dos mais velhos ele foi um indivíduo que fez muito sucesso na Gabela.
Eu digo Manuel Cayanda porque não quis tocar directamente no seu nome, dizem
que é o Manuel Catambi, mas eu não quis citá-lo na altura para não chocar
porque, talvez, lhe poderia ferir e eu não queria problemas. Segundo a
história, o próprio Manuel Catambi está entre o Ndongue e Capundi, dizem que
nos anos 60 fez muito sucesso. Era uma pessoa de muitas damas e uma delas,
naquela de o procurar, perdeu a perna na travessia de um rio. Quando fiz esta
música eu previa ganhar também o Top dos Mais Queridos, mas no acto de
preparação, com Os Kiezos, houve uma pressão, porque existiam alguns artistas,
que não vou citar os nomes, que não me deixavam ensaiar e fazer o trabalho à
vontade. Fiz tudo às pressas, saí e fiquei triste, porque a música não foi
preparada como eu queria. Nestas circunstâncias, o Mamborró aparece e ganha o
Top dos Mais Queridos na Ilha de Luanda. Quando vi que ele venceu eu chorei
porque estava preparado com o "Manuel Cayanga”. Mas qual foi o meu espanto,
depois de eu ter perdido a música tornou-se muito consumida, quer dizer, apesar
de perder, ela se tornou um grande sucesso.
Proletário é um exemplo para os músicos do Cuanza-Sul. Que avaliação faz dos
músicos do Cuanza-Sul?
Os artistas estão a
evoluir bastante, assim como a empenhar-se e com vontade de conquista. É
importante aqui dizer que nós sempre estivemos em peso e houve uma altura que
era o Cuanza-Sul que estava a mandar em termos de música. Por exemplo, a minha
fase, depois vem a do Mamborrô. Mesmo neste momento estamos em alta eu, o Yuri
da Cunha, o kandengue Gerilson Insrael, Kumby Li Xya e outros. Aconselho aos
grandes empresários que dêem mais atenção à província, porque lá para se
conseguir patrocínio é muito difícil para os artistas locais. E isto não é bom.
As manifestações culturais e a música em particular fazem crescer e podem ser
uma fonte de divulgação e publicidade de uma região. As pessoas não devem
desprezar isso e nós, cantores, estamos aqui. Por exemplo, quando falei da
Conda, em 2006, foi uma forma de promover o município e é também uma forma dos
investidores, e não só, conhecerem o país. Falei do Waku-Kungo no "Scania 111”.
Este é um sentimento que eu tenho, de falar da minha região. As pessoas não se
dão conta disto e pensam que sou maluco. A música é muito mais do que as
pessoas pensam. Infelizmente, durante esses anos os apoios na minha terra não
foram fáceis e lá há grandes empresários. Mas neste disco "Carolina do Ebo”, as
primeiras pessoas que me deram a mão foram o jovem Domingos Matias, que me
perguntou o que faltava para colocar um disco no mercado, e o engenheiro
António Maria Bravo.
Também lançouo "Man Prole”.
É um beef do passado?
(Risos). O problema é
que havia alguns artistas que se estavam a autodenominar Proletário, mas quando
no jogo ou na música aparecem duas pessoas com o mesmo nome isso não fica bem.
E mesmo em termos de direitos há uma confusão. Procurei estabilizar para me
diferenciar daqueles que queriam "invadir” o meu nome. Via o meu nome até
escrito nas paredes. Eu era muito acarinhado, sentia isso quando passasse em
bairros como Rangel, Sambizanga e outros, onde todos gritavam. E é por isso que
até hoje procuro passar despercebido numa determinada área, mas as pessoas me
reconhecem, mesmo à noite sem luz e iluminação, e eu fico admirado, assim como
aqueles que estão comigo. É isto que retrato nesta música, é um facto real. Eu
digo que a malta até já conhece a minha sombra.
Outro tema que marcou
muito é o "Scania 111”...
É uma das pesquisas que
fiz no Cuanza-Sul, no Waku-Kungo. No passado adquirir roupas e outros meios era
difícil e acontece que um dos camionistas vinha de Luanda, e, como conhecia as
carências do interior, ele saía da capital e levava coisas atraentes. No Waku
conseguiu atrair a Cahinda, a esposa de um agricultor. E este, de regresso a
casa depois da lavoura, encontrou as portas fechadas. Pergunta à vizinha o que
se estava a passar e esta diz-lhe que viu a sua mulher a conversar com o
motorista do camião. Logo, o marido ficou muito consternado com a situação,
porque a mulher também tinha levado a sua primogénita. Ao longo da música, o
homem questiona o paradeiro da esposa e se a filha ainda está viva, por causa
do jipaúlo. Era muito complicado sair do Wako-Kungo para Luanda, porque tinha
de se atravessar o rio Kwanza e lá estavam os tropas que pediam "papel com
foto” e não deixavam passar ninguém sem a guia de marcha. E ele nem Bilhete de
Identidade tinha, portanto, não tinha condições para sair à procura da esposa
Cahinda e da primogénita Humba.
Outro tema interessante
é o "Kimbombeia”...
A história da
Miquelina, que na verdade é a Quenquele, porque em Luanda a chamavam desta
forma. Tudo começa da seguinte forma: ela contraiu o matrimónio e depois o
marido sai da Conda e vem para a capital do país, onde arranja emprego e cria condições para
ela. Em Luanda, a mulher conhece novas
amizades e do mesmo modo a vida e os ambientes. Começa a desprezar o marido,
saía sem cozinhar e diziam-lhe que ela ia para a Ilha. E esta situação provoca
confusão.
Por isso é que dizem
que você ataca as mulheres do Cuanza-Sul?
Eu não ataco, apenas
apareço como uma figura sensibilizadora. Procuro chamar a atenção das pessoas
para que situações deste género não aconteçam, porque têm acabado em grandes
desastres. Eu apareço de forma reconciliadora, para uma convivência mais
saudável. Esta é a minha missão como artista.Não invento nada, conto aquilo
que, de facto, acontece numa determinada sociedade. Apareço no meio da situação
como mediador, só que algumas pessoas fazem confusão, dizem que o Proletário
está a atacar. Mas não. Não devemos esperar que as coisas más aconteçam,
devemos preveni-las.
Tudo isto por causa da
história da Lemba, a senhora que o abandonou e continua a sufocaro Man Prole?
(Risos). A história é
fictícia, é um conto. É uma mulher muito linda e o homem não sabia se conter e
acontece que um vizinho se apaixona pela Lemba. E como ele tinha alguma massa
optou por viver em Lisboa e faz um grande investimento na mulher. Mas lá outro
vizinho se apaixona pela Lemba, que abandona o marido.
Fale de "As Kizombas”,
a música que fala da mana Júlia que tem a saia que mata homem...
Está no projecto
"Criança Futuro” e foi um convite do general Miala que queria que eu colocasse
um tema no disco. Compus e houve a necessidade de sermos dois artistas a cantar
esta música e preferi que fosse o Yuri da Cunha, porque era importante que o
nosso povo do Cuanza-Sul soubesse que estamos unidos. Temos a responsabilidade
de congregar o que é nosso, mas sem a intenção de sermos tribalistas. Foi a
perspectiva deste tema, que é de minha autoria com a participação do Yuri da
Cunha.
Parece que o sucessor do disco "Caminhada” está a chegar...
Sim, tirei o disco em
2015 ou 2016, numa produção do Adão Filipe. E tenho já gravado o "Carolina do
Ebo”. Agora estamos a lutar para o lançamento. O disco está na fase de edição e
na fábrica as coisas também estão a avançar.
Fale do processo
inicial...
O disco começou a ser
produzido cá com a Banda Xamavu sob tutela do grande maestro e hoje falecido
Charles Bunga (Proletário põe-se a
chorar). Tenho boas lembranças deste disco. O seu começo e todo o processo foi
com muito sacrifício. Dou graças ao chefe Mingo, chefe Bravo, ao Dr. Maiato,
Dr. Paulino de Sousa... Agora na fase de acabamento e edição estou muito
honrado com a Fundação Brilhante por me dar a mão para que o meu disco apareça
no mercado. Isto não é fácil. Agradeço bastante a sensibilidade destas pessoas.
Isto não tem medida. Enfim, dizer que é através deles que o meu disco se vai
tornar um facto concreto, tenho esta garantia neste momento que falo.
Quantas músicas tem o
disco?
São doze faixas
musicais, dentre as quais "Lemba”, "Canote”, "Babilónia”, "Ndali poppia”,
"Kuele kuele”, em lingala, "Minga”, "Carolina do Ebo”, "Love Lami” e "Scania
111”.
Porquê "Carolina do
Ebo”?
Eu e o amigo Domingos
Matias fizemos uma homenagem. É o nome da sua irmã. Ele disse que a mãe gostava
muito da música "Scania 111”, ele é um fã do Eduardo Paim por causa da mãe e
disponibilizou-se em ajudar-me. Quando um dia contou a história da irmã, que
morreu quando ele estava a estudar no exterior do país, decidimos homenageá-la,
porque era uma pessoa muito especial, menina de alta consideração na
comunidade, tanto pelos mais velhos como pelas crianças. Por isso deveria
merecer esta honra, conforme mandam os hábitos e costumes da nossa região, onde
as pessoas com relevância, como os sobas e regedores, os seus restos mortais são
depositados por cima de uma grande rocha. E é isto que cito nesta música que já
está a dar que falar.
Apresente aos nossos
leitores algumas das músicas desse disco...
O "Kuele kuele” é uma
música que me foi vendida pelo falecido trompetista Domé, em 2004, e desde
então eu fui criando e analisando, nunca tive pressa de divulgá-lá, mas agora
neste disco achei o momento oportuno para estar inserida no projecto. Eu e
outras pessoas que participaram transformamo-la e é um tema muito sacudido e
das mais bonitas do meu álbum, é uma bomba de neutrões. "Minga” é um lamento
que fala da mulher que se despista do seu amante e parte para outra relação e
este diz que agora há-de tratá-la por um outro nome, mais pesado. "Love Lami” é
um tema em umbundu que fala de um adolescente que nenhuma moça o aceita na
comunidade como namorado e ele lamenta não conseguir arranjar uma parceria. Mas
quando se apercebe que o irmão se vai casar pede que não haja chuva durante a
festa, porque talvez apareça alguém que ele possa conquistar ou que lhe venha a
amar. "Babilónia” é um incentivo que eu faço às pessoas que se dedicam à
agricultura e é um desincentivo à corrupção.
Este disco foi um
grande desafio para o Betinho Feijó, o produtor...
Somos amigos de longa
data, aliás fomos juntos a Portugal em 1983 pela primeira vez e ele era a
pessoa que se dispunha a passear comigo. E quando ele foi viver em Lisboa a
amizade sempre prevaleceu. Então, depois de ter feito as bases para gravar o
disco, decidi que o Betinho Feijó seria a pessoa ideal para produzir o
disco, em função da qualidade do seu
trabalho, como foi o caso do primeiro disco da Patrícia Faria. Numa das vindas
dele a Luanda nos cruzamos e manifestei essa intenção. Com o apoio de algumas
pessoas viajei para Lisboa, onde acertamos. Fiquei sob custódia do engenheiro
Bravo e do Domingos Matias, que suportaram a minha estadia. Olha que o valor
inicial nem chegou, porque tivemos que alterar algumas músicas, principalmente
o "Minga” e o "Scania 111”, e tivemos que gravar duas músicas. Foram sete
meses. Fui em Fevereiro de 2019 e só voltei em Outubro do mesmo ano. Foi um
grande trabalho, de muito sacrifício. Tiro o chapéu ao Betinho Feijó, porque se
ele quisesse despachar ficaria pouco tempo, mas ele questionou a minha posição
no contexto social. Ele disse "tu és o Proletário e a tua música deve ser bem
trabalhada, porque doutro modo eu também serei mal falado”. Foi um grande desafio e ele continua a trabalhar com
todo o amor, tem sido uma pessoa muito atenciosa e séria ao longo de todo este
processo. E eu só tenho a agradecer.
Nós também só temos a
agradecer, por partilhar connosco parte da sua vida...
Não vamos parar com o
lançamento do disco. Aos amantes da minha música e da cultura angolana, digo
que tenham esperança que as coisas vão acontecer e que estão a ser bem
preparadas. E aproveito para agradecer a todos que estão envolvidos nesta luta,
em especial ao chefe Domingos Matias, ao engenheiro Bravo Neto, ao Dr. Bruno e
à Fundação Brilhante pelo carinho e apoio que estão a dar nesta última fase. O
meu obrigado também aos órgãos de comunicação social, que têm estado a divulgar
as minhas músicas promocionais.
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LoginA ministra das Finanças chefiou uma delegação angolana que participou, desde segunda-feira passada até domingo, em Washington, nas reuniões de Primeira do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista à Rádio Nacional e ao Jornal de Angola, Vera Daves de Sousa fez um balanço positivo das reuniões – oitenta, no total –, sendo que, numa delas, desafiou a Cooperação Financeira Internacional (IFC) a ser mais agressiva e ousada na sua actuação no mercado angolano. O vice-presidente da IFC respondeu prontamente ao desafio, dizendo que até está a contar ter um representante somente focado em Angola e não mais a partilhar atenção com outros países vizinhos na condução local do escritório do IFC. Siga a entrevista.
Kaissara é um poço de revelações quase inesgotável, como a seguir verão ao longo desta conversa, em que aponta os caminhos para um futuro mais consequente da modalidade; avalia o presente das políticas adoptadas sobre a massificação e formação. Mostra-se convicto de que o país pode, sim, continuar a ser a maior potência africana do Hóquei em Patins
Em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, fez a radiografia do sector, dando ênfase aos avanços registados em 22 anos de paz. Neste período, houve aumento do número de camas hospitalares, de 13 mil para 41.807, e da rede de serviços de saúde, que tem, actualmente, 3.342 unidades sanitárias, das quais, 19 hospitais centrais e 34 de especialidade. Sobre a realização de transplantes de células, tecidos e órgãos humanos, a ministra disse que, com a inauguração de novas infra-estruturas sanitárias e a formação de equipas multidisciplinares, o país está mais próximo de começar a realizar esses procedimentos
Assume-se como uma jornalista comprometida com o rigor que a profissão exige. Hariana Verás, angolana residente nos Estados Unidos da América há mais de 20 anos, afirma, em exclusivo ao Jornal de Angola, que os homens devem apoiar as mulheres e reconhecer que juntos são mais fortes e capazes de construir uma sociedade equitativa e próspera. A jornalista fala da paixão pela profissão e da sua inspiração para promover as boas causas do Estado angolano, em particular, e de África, em geral.
O Papa Francisco considerou, esta sexta-feira, a liberdade de imprensa fundamental para distinguir a verdade da mentira, numa mensagem por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
A secretária de Estado para as Relações Exteriores, Esmeralda Mendonça, manteve, quinta-feira, um encontro de trabalho com o presidente da Assembleia Nacional da Nicarágua, Gustavo Cortés e outros parlamentares nicaraguenses com quem analisou as relações de cooperação entre os dois países.
Pelo menos 120 expositores (pessoas singulares, empresas públicas e privadas) participaram, quinta-feira, da III edição da Conferência e Feira da Mulher Empreendedora, realizada no Centro Cultural Chiloango e largo da Paz, na cidade de Cabinda.