Angola e a Organização das Nações Unidas (ONU) lançaram, esta terça-feira, em Luanda, o projecto Diálogo Nacional sobre o Financiamento para o Clima, sob o lema “Promovendo Investimentos Sustentáveis em Angola”.
Prelado católico referiu que a exclusão social está muito patente na sociedade, o que dificulta a resolução de muitos problemas que afectam o país. O bispo da Diocese de Mbanza Kongo, Dom Vicente Carlos Kiaziku, apelou para que o país continue com o processo de reconciliação nacional, iniciado com o alcance da paz, em 2002.
"Dizer, categoricamente, que não houve(reconciliação) não seria honesto. Houve o início da reconciliação, mas é preciso continuar. É preciso que haja uma maior integração entre todos nós. Pois, para mim, é forte a exclusão de muitos angolanos que podiam dar o seu contributo eficaz e eficiente para o desenvolvimento de Angola. Temos que ser mais patriotas e menos leais aos nossos partidos”, apelou.
Segundo o líder da Igreja Católica no Zaire, o país deve construir uma sociedade onde o angolano seja valorizado por aquilo que é e sabe, e ser chamado a dar o seu contributo no lugar devido, sem se olhar para a cor partidária.
"E o
facto de alguém pensar de uma forma diferente da minha não é motivo,
absolutamente, para ser odiado. Aliás, o contraditório é importante para que eu
ponha, também, em questão as minhas ideias. Se alguém me diz que aquele quadro
é preto, eu digo não, é branco, ele continua a insistir, às tantas, eu me
pergunto, mas porque é que ele insiste, será que eu estou a ver bem? Será que
eu sou daltónico, será que tenho alguma dificuldade de vista que me impede de
ver o que realmente é aquele quadro?”, sublinhou.
Sobre o perdão
Apesar de reconhecer ter havido avanços, Dom Vicente Carlos Kiaziku apelou para a cultura do perdão. Defendeu imparcialidade na tomada de posições, excluindo-se a vingança, para que se construa uma verdadeira reconciliação entre os filhos da mesma Pátria.
"O
processo está a avançar, mas é preciso sermos imparciais. O perdão também é
necessário, neste caso, e, como dizia
alguém: ‘esquecer nunca, mas perdoar, sim’. Porque, se quisermos fazer vingança
de tudo, nunca mais chegaremos à paz profunda. E aqui podemos, também, aplicar
o Evangelho: quem estiver sem culpa, sem pecado, atire a primeira pedra. Nestas
dificuldades sociais, quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra”, disse.
Situação social
Apesar da situação sócio-económica difícil que o país vive, o prelado católico fez uma avaliação positiva dos 22 anos do calar das armas, pelo facto de a paz ter garantido a livre circulação de pessoas e bens em toda a extensão territorial.
De acordo com o bispo católico, o grande desafio do Governo consiste em alcançar o desenvolvimento económico e social, com vista a proporcionar o bem-estar aos angolanos.
A paz, frisou, não significa, apenas, a ausência de guerra. Deve-se trabalhar para o desenvolvimento económico e social, para que haja uma paz profunda e verdadeira, e não se coloque em perigo a paz alcançada em 2002, apelou.
"De uma forma geral, o aspecto da ausência de guerra é efectivo e podemos dizer que estamos em paz. Mas também sabemos que a paz não é só a ausência de guerra. Como disse o Papa Paulo VI, na sua Encíclica «O desenvolvimento dos povos», "O desenvolvimento é o novo nome da paz”. E o desenvolvimento tem que ser alcançado para que tenhamos uma paz profunda e verdadeira. Disse ainda o Papa que a excessiva disparidade económica, social e cultural provoca tensões e discórdias e põe em perigo a paz”, sublinhou.
Parafraseando
o Papa São João Paulo II, o bispo da Diocese de Mbanza Kongo acrescentou que
"Não há paz sem desenvolvimento integral de todos os povos, sem a eliminação da
miséria”.
O grande desafio
Segundo Dom Vicente Carlos Kiaziku, o actual contexto económico e social que o país vive resulta da falta de desenvolvimento. Por isso, apelou ao engajamento de todos os angolanos para a inversão do quadro.
Combater a miséria e lutar contra a injustiça, disse, é promover não só o bem-estar das pessoas, mas, também, o progresso humano e espiritual de todos.
"Aqui
está o grande desafio. Nós somos, ainda, os chamados países do Terceiro Mundo,
somos um país subdesenvolvido, não podemos negar isso. Isto faz com que
continuemos em clima de insegurança. Faltam os tiros, mas, em alguns casos,
também há. Por exemplo, a criminalidade nas cidades é mesmo feita, ainda, com
tiros e, assim, a paz está longe”, acrescentou.
Ganhos da paz
Entre os ganhos da paz durante os 22 anos, Dom Vicente Carlos Kiaziku destacou a construção de estradas asfaltadas, escolas de todos os níveis e outras infra-estruturas económicas e sociais.
"O período de paz teve os seus altos e baixos. Não seria justo afirmarmos que, desde o início, Angola não se desenvolveu. Há sectores que avançaram, por exemplo, pese embora a qualidade do ensino, há muita gente que estudou, que está preparada. O sector das estradas, não obstante a precariedade delas, também se deve reconhecer, porque quem viveu no tempo colonial sabe quais eram as estradas asfaltadas e quais não eram. Hoje, temos muitas asfaltadas. Lamento a qualidade, mas também, nisso, não podemos dizer que não houve progresso”, reconheceu.
Corrupção deve ser combatida com firmeza
O líder da Igreja Católica no Zaire afirmou que a corrupção deve ser combatida com firmeza, por ser o principal factor do subdesenvolvimento.
No seu entender, esse combate passa, também, pela moralização da sociedade. "A corrupção trava o desenvolvimento, por isso, é uma batalha que devemos enfrentar com firmeza, com a moralização da sociedade, para ver se conseguimos ir para a frente. Enquanto estivermos atolados na corrupção, o país não irá para a frente. Vamos continuar a enriquecer outros países, ao levarmos o dinheiro para fora e nós ficamos a patinar. Portanto, a luta pela moralização da sociedade é primordial para podermos avançar com o desenvolvimento”, lembrou.
Dom Vicente Carlos Kiaziku reconheceu que a luta contra a corrupção é uma tarefa difícil, mas não deve haver desânimo. "É uma tarefa difícil. Ainda não podemos bater palmas e dizer que a corrupção está a ser vencida. Há avanços, às vezes e, de repente, descobrem-se outros escândalos. O importante é não nos desanimarmos, devemos ser coerentes. A formação e a educação são importantes para vencermos esses vícios que estão enraizados na nossa sociedade”, disse.
Segundo o bispo de Mbanza Kongo, caso não se erradique a corrupção, corre-se o risco de se perigar a paz, porque a injustiça vai tomar conta da sociedade e, por esta via, não se registar revoltas sociais.
"Sem
esta erradicação da corrupção, a paz também não irá para a frente, porque
volta-se para a injustiça. E, quando há injustiça, não há paz, há sempre alguém
que vai se revoltar para que a justiça aconteça. Existe alguém que o pode fazer
por meios pacíficos, mas também há os que o vão fazer com meios violentos.
Como
aconteceu com a reacção contra o colonialismo. Podia ser por outros meios, mas
uma parte dos angolanos pegou em armas e combateu contra o colonialismo. E
assim também pode acontecer hoje, se continuarmos nesse clima de injustiças
sociais. As tensões vão aumentando e um homem desesperado já não raciocina,
pega naquilo que estiver ao seu alcance e começa a combater”.
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