Opinião

UNICEF, USAID e Governo e os esforços no combate à desnutrição

Fanceni Balde |*

O Sul de Angola tem enfrentado um dos piores choques climáticos dos últimos anos. Os períodos de seca prolongada têm devastado a população que vive nesta região, especialmente em algumas partes das províncias da Huíla, Cunene e Namibe.

12/02/2021  Última atualização 08H15
Muitas pessoas nas províncias afectadas pela seca viram o seu sustento e o seu rendimento deteriorarem-se significativamente devido à fraca colheita e à disponibilidade limitada de alimentos durante períodos críticos.

Na maior parte do Sul de Angola, as chuvas têm sido escassas nos últimos anos. Em 2019, segundo o relatório do Governo sobre a situação da seca na Região Sul, estimava-se que cerca de 1,6 milhões de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar em 488 comunas mais afectadas pela seca.As constantes secas têm tido um forte impacto na capacidade de prestação de cuidados em tempo oportuno às populações mais necessitadas. Como resultado, as famílias vulneráveis continuam a usar água não tratada. Muitas vezes, recorrem à busca de água dos lagos, onde os animais bebem e defecam.

A falta de água potável e o aumento da insegurança alimentar têm um impacto significativo na saúde e nutrição da população e as crianças com menos de cinco anos sofrem mais.Tem sido notável que, nas províncias do Cunene, Namibe e em algumas partes da província da Huila, tem havido um aumento do número de crianças com desnutrição crónica, que é uma forma irreversível de desnutrição. A desnutrição crónica acontece quando uma criança tem baixa altura para a sua idade.

Um inquérito nutricional do Governo, realizado em Dezembro de 2019, nos 10 municípios mais afectados pela seca nas províncias da Huíla e do Cunene, revelou que 13,6 por cento (59.320 crianças) das crianças nos municípios da Huíla sofriam de desnutrição aguda, com uma percentagem quase semelhante (12,9 - 59,300) das crianças afectadas nos municípios inquiridos no Cunene. Os resultados do inquérito também indicaram a presença de desnutrição aguda grave com dados entre 3 por cento na Huila e 1,7 por cento no Cunene.Os números mais alarmantes foram relatados entre as crianças menores de cinco anos. A prevalência de desnutrição crónica em crianças com menos de cinco anos na Huíla e no Cunene foi de 49,9 por cento e 37,2 por cento.

Isto significa que metade das crianças na Huíla e mais de um terço no Cunene têm desnutrição crónica.  A gravidade desta condição em ambas as áreas do inquérito é muito elevada, de acordo com a classificação da Organização Mundial da Saúde.As conclusões gerais em ambas as áreas do inquérito confirmaram níveis graves de desnutrição, que são ainda agravados pelo aumento da insegurança alimentar e perda de meios de subsistência, bem como as dificuldades no acesso aos cuidados de saúde dentro do contexto da pandemia da COVID-19 em Angola.

Para ajudar a combater a desnutrição em zonas propensas à seca em Angola, o UNICEF, em parceria com a USAID, juntou-se aos esforços do Governo Angolano para garantir que as crianças necessitadas estejam a receber nutrientes de que necessitam.  A USAID está empenhada em abordar a má nutrição, uma vez que prejudica os investimentos em desenvolvimento contribui para o aumento da mortalidade e aumenta a susceptibilidade às doenças. Até à data, a USAID forneceu um milhão de dólares em apoio.

O UNICEF tem trabalho para alcançar as mães, bebés e professores a fim de rastrear as crianças afectadas pela desnutrição e formar profissionais de saúde para responder de forma adequada. O apoio prestado resume-se num pacote integrado de intervenções que incluem saúde, nutrição, água, saneamento e higiene, com foco nos primeiros 1.000 dias de vida que é um período crucial da vida da criança.

Para garantir que todas as crianças em Angola tenham direito a uma boa saúde e que a situação actual não se deteriore, é necessária uma abordagem integrada. Proteger os meios de subsistência, melhorar a agricultura, fortalecer o sistema de saúde e assegurar um ambiente são e com acesso a fontes de água segura - juntos são a chave para garantir que as famílias vulneráveis sejam mais resistentes e as comunidades possam ultrapassar a ameaça da desnutrição.
* Funcionária do Unicef. Especialista em Nutrição

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