Sociedade

75 por cento da população angolana sofre de algum tipo de doença oral

Alexa Sonhi

Jornalista

Cerca de 75 por cento da população do país sofre de alguma doença oral, sendo que as patologias mais frequentes são a cárie dentária, gengivite, periodontite e o cancro oral(noma). A informação foi prestada terça-feira, em Luanda, pela coordenadora do Programa de Saúde Oral da Direcção Nacional de Saúde Pública, Djamila Oliveira.

20/03/2024  Última atualização 09H00
Entre os casos mais frequentes no Josina Machel estão as halitoses, abcesso dentário, sangramento gengival, traumas e outros © Fotografia por: Edições Novembro

Em declarações à imprensa, por ocasião do Dia Mundial da Saúde Oral, que hoje se assinala, a médica justificou que o elevado número de pessoas com doenças bucais se deve ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas, tabaco, açúcar, alimentação não equilibrada e à falta de flúor na água consumida.

A coordenadora do Programa de Saúde Oral explicou que a presença de flúor na água ajuda na prevenção de todas as doenças orais, mas, como no país a água consumida não contém essa substância, isso influencia em grande medida no surgimento destas. 

De todas as doenças do género, disse, a que mais preocupa a Direcção Nacional de Saúde Pública é o cancro oral "noma”, muito diagnosticado na África Subsaariana, devido à falta de higiene e má alimentação de muitas famílias.

De acordo com Djamila Oliveira, essas enfermidades continuam a prevalecer na região africana, afectando 44 por cento da população. "Apesar das medidas inovadoras, África registou o maior aumento de casos de doenças orais, onde o cancro oral (noma) lidera a lista”, disse.

Segundo a responsável, o "noma” é o tipo mais grave de estomatite gangrenosa, que destrói a boca, o rosto do paciente e que, se não for devidamente tratado, pode terminar em morte, o que acontece em 90 por cento dos casos.

A boa notícia, prosseguiu a médica, é que a maioria das doenças orais é evitável, através do controlo de factores de risco, como evitar o uso de tabaco e álcool, e a adopção de uma dieta saudável, com baixo teor de açúcares.

 Djamila Oliveira salientou que essas doenças constituem um sério problema de saúde pública, pelo seu elevado custo económico, social, alta incidência e pelas consequências patológicas que podem originar.

As doenças orais, prosseguiu, estão entre as patologias não transmissíveis, preveníveis e mais comuns do mundo, daí que, em Angola, foram classificadas, em 2007, como um sério problema de Saúde Pública.

Na visão da médica Odontologista e mestre em Saúde Pública, apesar dos números ainda serem altos, as pessoas estão muito mais consciencializadas sobre a saúde oral do que nos anos anteriores. Nos tempos que correm, sublinhou, vê-se mais gente em consultas, embora muitas só apareçam depois da situação se agravar.

Para Djamila Oliveira, é importante que as pessoas cuidem bem da boca, porque, além de exercer um papel fundamental na fala, na mastigação e na respiração, ela está em contacto directo com o meio ambiente, e é a porta de entrada para bactérias, vírus, fungos e outros vectores de doenças.  "Então, se a boca não for devidamente cuidada, estas bactérias podem imigrar para a corrente sanguínea, comprometendo o bom funcionamento de órgãos vitais como o coração”, acentuou a médica.

Combater o mau hálito

 A responsável acrescentou que a saúde bucal é fundamental para a imunidade e o sistema de defesa do organismo, por isso, quando está comprometida, a saúde no geral é afectada.

 Daí que, prosseguiu, uma boa higiene oral diminui o risco de desenvolvimento de problemas na boca e nos dentes, sendo o melhor meio de prevenção contra cáries, gengivite e periodontite, além de prevenir o mau hálito.

Questionada sobre como prevenir o mau hálito, Djamila Oliveira esclareceu que beber água ao longo do dia, escovar os dentes pelo menos duas vezes por dia durante dois minutos, escovar a língua, usar o fio dental e utilizar enxaguatórios bucais para manter o hálito fresco.

A médica aconselhou, por isso, a visitar-se o estomatologista ou outro profissional de saúde oral, pelo menos duas vezes ao ano, para fazer consultas de rotina, a fim de evitar possíveis cáries dentárias ou outra patologia oral que cause a queda dos dentes. Segundo Djamila Oliveira, a ausência de dentes pode causar uma mastigação deficiente, afectar a fonética e a estética bucal, provocar a desprotecção da gengiva, a flacidez dos músculos da face e, consequentemente, a perda óssea, levando à urgência no hospital.

Mais de três mil milhões no mundo  

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que, no mundo, as doenças orais afectam cerca de 3,5 mil milhões de pessoas e costumam estar associadas a outros problemas graves de saúde.

O Dia Mundial da Saúde Oral foi instituído em 2007, pela World Dental Federation (FDI), com o objectivo de promover hábitos saudáveis desde a infância. A data serve como um veículo de informação essencial para as comunidades, contribuindo para as boas práticas de higiene bucal nas famílias.

Para este ano, a OMS adoptou o lema "A boca feliz é um corpo feliz”, visando de incentivar os Estados-membros a se comprometerem com a saúde oral das comunidades.

Josina Machel atende 70 a 80 pacientes por dia

O hospital Josina Machel, em Luanda, é uma das unidades sanitárias que recebe muitos pacientes com doenças orais. Os casos mais frequentes são as halitoses, abcesso dentário, sangramento gengival, traumas, periodontites, odontalgia por cárie e pericoronarites.               

A chefe interina do serviço de Estomatologia do Hospital Josina Machel, Dinah Neves, disse que, em média, são atendidos 70 a 80 pacientes por dia, no caso dos adultos, e 279 crianças por mês.

"As pessoas devem tratar da boca como cuidam dos olhos e outras partes importantes do corpo, porque uma boa saúde oral promove um impacto positivo nas relações sociais e na autoestima da pessoa”, sublinhou.

 

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