Reportagem

A chegada dos vietnamitas e coreanos e o “boom” da fotografia comercial

Kindala Manuel

Fotógrafo desde 1963, Carlos Alberto Guimarães é uma figura incontornável, sobretudo quando o assunto tem a ver com a história da fotografia em Angola. De acordo com o fotógrafo, a popularidade do retrato urbano tomou conta de Luanda logo no início do século XX. A actividade era exercida, maioritariamente, por portugueses, detentores de estúdios, laboratórios, máquinas fotográficas, revistas e jornais.

25/10/2023  Última atualização 10H05
Uma boa parte dos fotógrafos angolanos que surgiram no período antes e pós-Independência aprenderam em estúdios de portugueses” © Fotografia por: kindala manuel|Edições Novembro
Conta que no período antes da Independência existiam, nas ruas de Luanda, máquinas de fabrico francês "Laminute”, em formato de caixote de chapa 9/12, na qual o fotógrafo tinha que colocar a cabeça no interior da máquina, coberto de um pano preto, para revelar a foto.

O veterano explica que os freelance, vulgarmente chamados de "ambulantes” na década de 50 a 70, actuavam em zonas movimentadas, como o mercado de São Paulo, Kinaxixi, Mutamba, Maianga, jardins, escolas, conservatórias e lugares de concentração populacional.

Com as máquinas "Laminute”, no formato de uma caixa de leite Nido, prosseguiu, os fotógrafos "ambulantes” trabalhavam no sistema de "tira e paga já”, pois, a foto era entregue na hora. Tecnicamente, explica, a máquina funcionava à luz solar e eram montadas em zonas estratégicas da cidade de Luanda, onde não havia luz eléctrica.

Para a revelação, continua, tais máquinas traziam um mini-laboratório no interior, já com revelador e o fixador químicos, que facilitavam o fotógrafo fazer a revelação da foto no momento e em qualquer lugar, a preto e branco.

"Uma boa parte dos fotógrafos angolanos que surgiram no período antes e pós-Independência aprenderam em estúdios de portugueses, onde começaram como guardas e depois de ganhar a confiança dos patrões, eram-lhes ensinadas as técnicas de laboratório, tornando-se mais tarde impressores e depois fotógrafos”, explica Carlos Alberto Guimarães.

Fornecedores de material fotográfico

Os grandes fornecedores de material fotográfico no período colonial até aos anos 80, informou, eram as empresas J. Pinto Comercial e Rocha Monteiro.

Carlos Alberto Guimarães acrescentou que grande parte destas máquinas que popularizaram a fotografia urbana na capital do país e em algumas províncias, eram montadas de forma artesanal, por fotógrafos criativos que apenas compravam a lente, revelador e o fixador, depois mandavam construir uma caixa à medida, que se transformava numa câmara escura, que era aplicada em seguida à lente.

O renomado fotógrafo, também considerado "decano da fotografia angolana”, revelou que a desvantagem do processo fotográfico dos anos 60 até finais da década de 80 residiu no tipo de produto químico usado, que era nocivo à saúde e que queimava as unhas, devido ao tempo de exposição que as mãos faziam mergulhadas nos líquidos, durante a revelação. Dava-se o caso de as unhas tomarem a cor castanha, provocando inclusive doenças respiratórias como a asma e tuberculose a alguns profissionais.

Angolanos passaram a proprietários de laboratórios e estúdios

Recorda que no período colonial, isto na década de 50, existiu em Luanda, até antes da Independência, o estúdio Colorama, um dos primeiros a revelar fotografias a cores, a manual, no sistema de couvetes, que pertenceu ao senhor António Chaves. O estúdio ficava na rua dos Combatentes, do lado oposto ao actual 4º Cartório Notarial. A foto Sport, continua, ficava junto à Livraria Lello, na Baixa de Luanda e a Foto Carva, na rua direita da Samba, junto ao  BPC.

"Na véspera da descolonização, a partir de meados de 1975, a maior parte dos proprietários de estúdios fotográficos foram recolhendo todo o material e próximo à Independência encerraram os estúdios e na hora da fuga, levaram consigo grande parte do material. Não deixaram os estúdios nas mãos dos funcionários angolanos, com a esperança de um dia voltarem, assim que a situação normalizasse”, lembra.

Conta que meses após a Independência, alguns angolanos que eram funcionários de estúdios reabriram as casas que estavam encerradas, criaram comissões de trabalhadores e mais tarde foram ao Ministério do Comércio e legalizaram as mesmas, no sentido de dar continuidade aos trabalhos. Foi desta forma que muitos angolanos passaram a proprietários de casas e laboratórios de fotografia, tanto em Luanda quanto noutras províncias.

Explica que um dos casos foi do senhor Gouveia e seus colegas, que retomaram a Colorama. Contudo, uma boa parte de laboratórios ficou inoperante porque, na fuga, os proprietários retiraram peças fundamentais, inclusive máquinas fotográficas.

Escassez de material fotográfico em 1976

O nosso interlocutor revelou que, no início de 1976, houve uma gritante falta de material fotográfico em todo o país, sobretudo em Luanda, que era a fonte para as demais províncias. A situação voltou à normalidade depois que as empresas J. Pinto Comercial e Rocha Monteiro retomaram as importações.

Conta que a situação de escassez de material voltou a acontecer na metade da década de 80 e, nesta altura, os fotógrafos criaram uma comissão que procurou ajuda junto do Ministério do Comércio, para a obtenção de empréstimos financeiros para a importação de material fotográfico a partir de Portugal. A iniciativa não obteve resposta positiva da parte do Ministério em causa.

A era do "boom" da fotografia comercial

 Segundo Carlos Alberto Guimarães, depois de 1992, com a chegada do multipartidarismo, o Ministério do Comércio autorizou a abertura de casas fotográficas e, a partir desta data, começaram a surgir, em algumas zonas de Luanda, estúdios de cidadãos vietnamitas e coreanos. Essa época, explica, ficou conhecida como a era do "boom” da fotografia comercial em Angola e do surgimento da "terceira geração de fotógrafos”.

"É o período em que mais se registou a massificação de fotógrafos, com maior destaque para Luanda. Com o êxodo populacional do interior para as grandes cidades, devido ao recrudescimento da guerra, depois de 1992, cidadãos de nacionalidade vietnamita e coreana, que trabalhavam em Angola, viram no grupo de jovens em idade activa, concentrados em Luanda, a oportunidade de investirem na fotografia. Importaram laboratórios fotográficos, máquinas semi-profissionais e profissionais e instalaram-se inicialmente em pontos estratégicos da cidade de Luanda. Venderam máquinas a baixo custo e lançaram preços atraentes nos laboratórios”, lembra.

O também fotojornalista conta que a aposta estrangeira, nesta época, incentivou centenas de jovens a abraçarem a profissão e grande parte desses jovens foram proliferando em vários lugares da cidade de Luanda, como jardins, conservatórias, festas de aniversário, casamentos e campos de futebol, sustentando as famílias com a arte de fotografar.

Para o profissional, o domínio dos vietnamitas sobre os angolanos residiu no facto de os mesmos terem apostado na fotografia com investimento próprio, ao contrário dos angolanos, que esperavam por empréstimos bancários, alguns para a compra de novos laboratórios, outros para aquisição de peças de reposição, num período em que grande parte dos laboratórios, tanto de nacionais como de expatriados, utilizavam, ainda, o processo de impressão analógico, através da revelação de rolos.

Transição para a fotografia digital

Em 2006, segundo Carlos Alberto Guimarães, quando começou a aparecer a fotografia digital, tanto na revelação como na captação de imagem,  parte dos angolanos não estavam preparados para esta transformação, tanto do ponto de vista tecnológico como financeiro.

"O processo de adesão à fotografia digital foi implementado de forma gradual, levando dois a três anos para que funcionasse de forma massiva. A mudança acontece quando os estúdios dos vietnamitas começaram a transitar do processo analógico para o digital e isto obrigou os fotógrafos a se adaptarem à tecnologia digital”, explicou, acrescentando que um dos motivos da resistência dos fotógrafos naquela época, face à fotografia digital, eram os altos preços das máquinas digitais, que eram três vezes superiores ás máquinas analógicas.

Papel desempenhado durante o Governo de Transição

 Carlos Alberto Guimarães trabalhou como repórter fotográfico do Centro de Informação e Turismo de Angola (CITA), a partir de 1966, tendo como função fazer fotografia e cinema, ligado ao Turismo e atividades governamentais.

Após o 25 de Abril, fundou o Departamento de Fotografia no Ministério da Informação, no Governo de Transição, onde desempenhou a função de chefe de secção. Dirigiu a equipa que reportou os acontecimentos do período da descolonização à proclamação da Independência, a 11 de Novembro de 1975. No período pós-independência, desempenhou o cargo de director adjunto da ENFOTO, junto do Ministério da Comunicação Social, funções que desempenhou igualmente no Departamento de Informação e Propaganda (DIP) do MPLA, a partir de 1992. Actualmente, aos 75 anos de idade, ainda exerce a profissão mas de forma moderada.

Estúdios fotográficos de Luanda até à década de 80

Em meados dos anos 80, depois que as lojas fornecedoras de material fotográfico fecharam, os fotógrafos tiveram que se adaptar, comprando material nos mercados paralelos. Cota Bonifácio lembrou que do período colonial até à década de 1980 existiram, em Luanda, a Foto Adriano, que ficava junto aos correios do São Paulo, a Foto Filme, nas imediações do mercado do Kinaxixi, a Foto Popular, no largo São João, a Foto Canaua, no bairro dos Congolenses, a Foto Canon, na rua 21 de Janeiro, junto à Força Aérea Angolana, a Foto Pombo, que funcionava na actual administração da Samba e a Foto Paca, no Prenda. A Foto Feliz, continua, ficava junto à antiga cervejaria Portugal e a Kodak, nas imediações do Porto de Luanda.

De acordo com o fotógrafo, com a entrada dos vietnamitas e coreanos no negócio da fotografia, a partir de 1998, grande parte dos estúdios e laboratórios de angolanos entraram em falência e alguns resolveram mudar de negócio, outros associaram-se aos estrangeiros e houve quem, ainda, teve que vender tudo para poder sobreviver.

Actualmente com 68 anos de idade, Bonifácio Domingos Lourenço continua a exercer a arte da fotografia de forma gradual, na parte  traseira do edifício, porque o estúdio Foto Beleza, que surgiu na década de 50, desde 2008 que foi transformado em loja de venda de alimentos.

Irmãos Afonso criadores da Foto Ngufo

A Foto Ngufo foi fundada em 1968, no Luau, província do Moxico, na zona fronteiriça com a República Democrática do Congo, pelos irmãos Ruy, Joaquim e José António Pinto Afonso. Os irmãos, que formam a primeira geração de fotógrafos da família, na década de 70, para além dos trabalhos normais de estúdio, faziam cobertura de quase toda a região Leste.

Os rolos eram enviados por avião para Luanda, onde depois de revelados nos laboratórios da Colorama, retornavam em uma semana para o Luau. Para além da população urbana, atendiam também soldados portugueses que serviam na guerra colonial naquela região.

Os irmãos, sempre actualizados tecnicamente, de fotógrafos amadores tornaram-se profissionais, fotojornalistas e empresários. No período da proclamação da Independência, foram expulsos do Luau e, no início da década de 1980, José António Pinto Afonso reabriu a Foto Ngufo, em Benguela.

Com uma visão mais ampla de crescimento do negócio, em 1986, a Foto Ngufo é implantada em Luanda, sendo a única casa que funciona até ao momento, na rua Rainha Ginga, baixa de Luanda, equipada de tecnologia de ponta.

O mais velho dos três irmãos, o fotojornalista Pinto Afonso, notabilizou-se em coberturas de fotografia artística e de cultura, sobretudo nos eventos da festa popular angolana, o Carnaval da Victória. As fotos do Carnaval de Angola, dos anos 80 e 90, de Pinto Afonso, foram publicadas em revistas europeias, com destaque para uma edição alemã, de 2010, com o título "Somos Irmãos”, dedicada à vida e obra dos irmãos Ruy, Joaquim e José António Pinto Afonso. Especializada em fotografia de estúdio e reportagens, a Foto Ngufo é também fornecedora de material fotográfico.            

Cota Bonifácio, de guarda a proprietário da Foto Beleza

O angolano que assumiu a Foto Beleza, depois da Independência, Bonifácio Domingos Lourenço, conhecido nas lides da fotografia como cota Bonifácio, conheceu aquele estúdio em 1970. A Foto Beleza funcionava no rés de chão do edifício número 76, na rua Comandante Bula, bairro São Paulo, em Luanda. No mesmo ano que conheceu o estúdio começou a trabalhar lá como guarda. Conta que o estúdio pertenceu ao senhor Silva, de nacionalidade portuguesa, que na véspera da Independência decidiu abandonar o país, voltando para Portugal.

"Quando comecei a trabalhar na Foto Beleza, o senhor Silva é quem fazia as fotos de estúdio, auxiliado pelo filho Mário e a dona Lourdes, a esposa. O Domingos Cassua, já falecido, e o Aguinaldo, eram os únicos angolanos que trabalhavam como reveladores de rolos, enquanto eu, como guarda, tinha a função de dirigir os clientes ao estúdio".

Seis meses depois, prossegue, foi selecionado para trabalhar como aprendiz de laboratório e ajudante de revelação de rolos, até mais tarde tonar-se impressor fotográfico.

Conta que na década de 60 e 70, brancos e negros letrados eram os que mais frequentavam os estúdios e não era habitual ver fotógrafos de raça negra na rua. "Apenas servíamos como auxiliares dos patrões portugueses nas reportagens. Se tivesse que exercer, tinha que ter um documento entregue pelo patrão a justificar as razões”, lembra.

Segundo cota Bonifácio, na véspera da proclamação da Independência, o proprietário da Foto Beleza, senhor Silva e sua esposa, devido ao clima político, por medo, decidiram partir para a terra natal, Portugal, mas o filho, que fazia parte da tropa portuguesa, decidiu ficar para tomar conta do estúdio do pai.

Relata ainda que, depois da Independência, o colega Domingos Cassua, que morava no Rangel, na rua da dona Amália, resolveu abrir o seu próprio estúdio fotográfico, em casa, que chamou "Foto Cassua”, uma das primeiras casas de fotografia de um angolano no Rangel.

 "Em 1978, o senhor Mário, filho do antigo proprietário da Foto Beleza, entendeu ir passar férias a Portugal e não voltou mais. Depois ficamos a saber que o apartamento onde funcionava o estúdio, afinal, não pertencia ao nosso antigo patrão e havia meses em atraso por pagar. A partir desta data, passei a gerir o estúdio e firmei um contrato com o proprietário do edifício, que também era português, pagando as rendas até à metade da década de 80, em que tive que regularizá-lo junto da Habitação e do Ministério do Comércio”, salienta.

O mentor do retrato comercial luandense

Carmona Somano, já falecido, ficou conhecido nas lides da fotografia urbana como um dos mentores do retrato comercial luandense. O renomado artista de imagem, da era pré e pós-Independência, aprendeu a profissão nos laboratórios de fotógrafos portugueses, em 1963. Em 1976, fundou a casa de fotografia "Foto Carmona”, estúdio que se notabilizou na época, nos arredores da Igreja Sagrada Família, bairro Maculusso. Na época, outras casas destacaram-se, igualmente, como a Foto Ventura, Foto Zoom, do senhor Jesus, que funcionava na Maianga, Bel'arte e Feliz.

Dada a sua importância, na época, fazer fotografia era uma profissão nobre e produzia riqueza e dignidade a quem a exercia. Nos anos 70, quem viesse do interior para Luanda tinha a casa Carmona como preferência para fazer fotografia para todos os gostos. As suas imagens contribuíram para o conhecimento da História de Angola e preservação da identidade das famílias angolanas. Carmona Somano foi membro fundador da Associação dos Fotógrafos de Angola (AFA), em 1991, que visou a defesa dos interesses dos associados.

O funcionário bancário que levou a fotografia para a Gabela

Manuel Afonso Kitumba começou a fotografar como amador no Porto Amboim, província do Cuanza-Sul, em 1962, depois de ganhar uma máquina do irmão. Em Luanda, na década de 70, trabalhou no Banco de Crédito Comercial e Industrial, mas fazia fotos nas horas de folga. Depois de abrir a sua casa fotográfica num dos edifícios do bairro Militar, na Maianga, em 1975 decidiu abandonar o trabalho bancário e abraçar apenas a fotografia comercial, tendo a esposa como impressora no laboratório.

Em 1976 abriu a "Foto Central de Amboim”, no município da Gabela, província do Cuanza-Sul. Manuel Kitumba decidiu levar a fotografia para a sua terra, porque as casas que ofereciam o serviço, na era colonial, como a foto Rato, Branco e Cami, deixaram de existir. O fotógrafo, que já não exerce a profissão devido à idade avançada, explicou que no período entre 1976 e 1980 os populares dos municípios do Sumbe, Quibala e Waku Cungo, tinham que se deslocar à Gabela, a fim de obterem uma fotografia, que era entregue depois de oito dias.

"As pessoas vinham de toda a parte da província. Faziam filas enormes em frente do Estúdio e, como a minha esposa era a única impressora no laboratório, só se conseguia revelar três a cinco rolos por dia”, salientou.



Criação da Associação de Fotógrafos

Membro fundador da Associação de Fotógrafos de Angola (AFA), em 1991, Alfredo Carvalho é fotógrafo desde a década de 1970. Segundo o profissional, um dos grandes objectivos da criação da AFA, era facilitar a compra de material fotográfico, incluindo um laboratório que pudesse facilitar a revelação a preços mais acessíveis a todos os associados.

Conta que o projecto de compra do laboratório seria por via de um empréstimo bancário, mas não foi concretizado por falta de consenso com os bancos. Contemporâneo dos renomados fotógrafos Domingos Cassua, Carmona Somano e Bonifácio Domingos, Alfredo Carvalho recorda que no seu tempo frequentou a Foto Feliz, que funcionou no Largo das Ingombotas, a Foto Amada, que ficava no Prenda, junto à Identificação, a Fast Foto, na Mutamba, o Mini Estúdio, do senhor Silva e a Foto Viva, do senhor Akime, de nacionalidade coreana, ambos na Baixa de Luanda.

De segurança a fotógrafo

Abel Fernando José, 53 anos de idade, disse que em 2000 deixou o emprego de segurança, para se dedicar apenas à fotografia comercial. Disse que na época, os laboratórios dos vietnamitas ofereceram melhor qualidade de impressão e tinham mais conhecimentos técnicos em relação aos angolanos. Para melhor comunicação, explica, os vietnamitas adoptavam nomes portugueses, com maior frequência aos nomes de Toni e Maria. Dos estúdios que conheceu, destaca a Bel Foto, da dona Lan, de nacionalidade vietnamita, que funcionou na zona adjacente ao Largo do Pelourinho. Conheceu também a Foto OK e Laussema, que funcionaram nos bairros Prenda e Catambor, desde 1994 e, que pertencentes a um vietnamita, conhecido na altura por professor.

Tecnologia vietnamita revolucionou a fotografia na Huíla

José Raul Tchindombe, fotógrafo na província da Huila desde 1982, conta que o primeiro laboratório de fotografia a surgir no período de 1990 a 2000, na região, foi do DIP(Departamento de Informação e Propaganda). "As casas de fotografia de angolanos que mais se descaram na altura foram as do Beto Ferreira, Julinho, Calitoco, Rex e do Ramiro.

"Existiu ainda o laboratório do senhor Filipe, junto à Assembleia do Povo, outra junto à Direcção Provincial da Educação e mais tarde surgiu a Foto Bazar, onde trabalhei na década de oitenta”, lembra, afirmando ser o único sobrevivente do grupo de fotógrafos da sua era. Conta que os vietnamitas começaram a estabelecer-se naquela região do Sul de Angola nos finais dos anos de 1990.

"Nesta época, enquanto insistíamos na fotografia a preto e branco, os vietnamitas já imprimiam fotografia colorida e o investimento dos vietnamitas veio revolucionar  a fotografia na nossa província”, concluiu.

Em Cabinda revelava-se fotos a cores no Congo

Antes de surgir a fotografia digital, os fotógrafos em Cabinda percorriam longas distâncias até ao Congo Brazzaville, em busca de serviços nos laboratórios de revelação a cores para dar resposta ao défice que havia no mercado, segundo Luís Albano, fotógrafo de 57 anos de idade.

"Na década de 90, os estúdios de angolanos que existiram em Cabinda eram a Foto Pedro, Foto Maza, ambos no bairro a Luta Continua, junto à paragem do Yema. A Foto Aleluia, no bairro Gika e a Foto Jardim, que funcionavam na rua do Comércio. Essas casas apenas revelavam fotos preto e branco. Quem quisesse fotos a cores tinha que atravessar a fronteira e, para receber os trabalhos, tinha que esperar sete dias”, recorda.

De acordo com Luís Albano, em 1993, por intermédio de João e Carlos, irmãos de nacionalidade vietnamita, filhos de um médico em serviço no Hospital Provincial de Cabinda, abriram o primeiro laboratório de revelação de fotografia a cores denominado "Tsaca".

"Foi a partir desta data que as casas de revelação de fotografias a preto e branco de cidadãos nacionais começaram a entrar em declínio por falta de capacidade financeira e desvantagens tecnológicas, face aos novos equipamentos dos vietnamitas”, sublinhou.

Os vietnamitas em Cabinda, prosseguiu, trouxeram tecnologia de ponta, com a abertura do primeiro laboratório de fotografia "Lujobar”. Actualmente a província conta com cinco laboratórios de fotografia a cores, a saber, Lujobar, Horizonte 2000, Foto Flash, Estúdio Tatiana e Fujifilm.

José Sunda abriu a Foto Kongo no Uíge

José Sunda, de 74 anos de idade, natural do Uíge, aprendeu a fotografar no Baixo Congo, na República Democrática do Congo (RDC). Em 1976, trabalhou na foto África, do senhor António Caxala,  na rua do Comércio, na cidade do Uige, onde faziam trabalhos de fotografia e revelação. No início de 1992 criou o estúdio Foto Kongo, que funcionava na rua Ambuila, no centro da cidade. "Na altura tínhamos muitos clientes. As fotos tipo passe eram a preto e branco. Com o surgimento dos vietnamitas, em 1995, e mais tarde os telefones, veio de certa forma dificultar os nossos negócios, na medida em que, já não tínhamos poderes de compra do material, face à vantagem dos laboratórios dos estrangeiros”, lamentou.

José Sunda explicou que dos estúdios de colonos que foram recuperados por angolanos após a Independência, consta a Foto Nzola, Foto Bernardo, Foto Uíge, de João Lamera,  Foto X, Foto África, de António Caxala, Foto Pope e a Foto Liberdade.


João Xilo, presidente da Associação de Ajuda aos Fotógrafos e Amigos da Fotografia

Subida de preços preocupa associação de fotógrafos
    

A subida dos preços da revelação de fotografias, implementado no início do mês em curso, nos principais laboratórios e estúdios de fotografia, controlados maioritariamente por cidadãos vietnamitas, está a preocupar a Associação de Ajuda aos Fotógrafos e Amigos da Fotografia (AAFAF), que tenciona realizar uma greve, para pressionar os proprietários a reduzirem os preços.

Segundo o presidente da AAFAF, João António Kilungo Xilo, o mercado de laboratórios fotográficos em Angola é, desde os anos 1990, dominado por cidadãos vietnamitas. João António Kilungo Xilo acrescenta que a falta de concorrentes, sobretudo nacionais, com capacidade técnica no processo de impressão digital, para contrapor aos asiáticos, tem sido uma das causas das constantes subidas dos preços nos laboratórios.

"Com vista a equilibrar os preços nas revelações, a AAFAF reuniu recentemente com alguns organismos reguladores de preços, que contou também com a participação de representantes da Polícia Nacional. Na reunião manifestamos as nossas inquietações sobre as constantes subidas de preços, que acontecem desde 2015. Propusemos um padrão que pudesse manter o equilíbrio mas, infelizmente, as nossas reuniões têm sido infrutíferas. Os proprietários justificam que as subidas dos preços depende da depreciação do Kwanza face ao dólar, que tem afectado a compra e importação de material fotográfico”, lamentou.

Diz que sempre que há subida dos preços na revelação, regista-se um retrocesso nos rendimentos dos profissionais da fotografia. "Isso acontece pelo facto dos clientes não aderirem aos acréscimos praticados pelos fotógrafos, justificando as suas rendas não terem sido aumentadas de igual forma”, salientou.

Diante da situação, explica, a maioria dos fotógrafos entende que se deve partir para uma greve generalizada, negando-se em revelar trabalhos nos estúdios controlados por vietnamitas, com o objectivo de pressionar os proprietários destas casas e laboratórios a reduzirem os preços.

"A greve é uma forma de manifestarmos o nosso descontentamento. A Associação apoia a atitude dos associados, por ser um direito que lhes cabe. Porque se não houver quem lhes procura, também não terão produção, nem ganhos, já que são os fotógrafos que fornecem a produção final nos estúdios de revelação” disse.

De acordo com João António Kilungo Xilo, a associação tem contribuído no apoio e execução de projectos que proporcionem o desenvolvimento das habilidades e capacidades técnicas dos seus membros. Consta, igualmente, do programa da organização contribuir na reabilitação dos beneficiários e membros mais afectados pelas vicissitudes económicas e sociais, lutar contra a especulação, a concorrência desleal e para o estabelecimento de uma política justa de preços de impressão da fotografia, bem como de equipamentos agregados e de assistência.

A Associação de Ajuda aos Fotógrafos e Amigos da Fotografia (AAFAF) foi criada em 1997 e controla 5.650 associados distribuídos em 16 províncias.

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