Sociedade

A figura paterna como base do lar

Miguel Brás

Jornalista

Andreia de Oliveira considera que o pai exerce um papel importante na educação dos filhos. “A figura paterna é fundamental para os filhos, pois são os pais os maiores modelos de respeito, autoridade, segurança e protecção. A sua ausência gera desorientação e instabilidade nas famílias e na sociedade”, disse.

24/03/2024  Última atualização 10H20
Pai, o pilar do lar, a figura paterna é considerada o espelho de casa © Fotografia por: DR
Gonçalves Filipe concorda. "O pai desempenha um papel fundamental como um modelo espiritual, instrutor e guia para os filhos. Provérbios 22:6 –‘Instrua a criança segundo o caminho em que ela deve seguir, e, mesmo quando envelhecer, não se desviará dele’”.

Para Vanusa Salvador, professora, a figura paterna representa autoridade, aquele que coloca limites quanto à educação e criação dos filhos. "Por outro lado, existe a necessidade de o pai exercer responsabilidades para com os filhos como saúde, alimentação, vestuário, educação, dar amor e reconhecê-los juridicamente como filhos”, frisou.

Adilson Costa, consultor e técnico de Contabilidade e Finanças, afirmou que para ser pai não basta registar os filhos. "Vai muito além de colocar o nome na certidão de nascimento, ou simplesmente dar-se ao luxo de dizer que tem filho”.

Acrescentou que os pais são as "incubadoras” dos seus filhos, ao dar-lhes conhecimentos, educação, senso de rectidão e noções de como devem ser e estar, diante do paradigma social,"de modo que, quando cresçam, estejam preparados e munidos para enfrentarem os desafios quotidianos”.

Dorivaldo Queta, 30 anos, frisou que o pai desempenha um papel de provedor dos filhos. "Ser pai é ser provedor, amigo e conselheiro. Como pai, digo que a educação parte primeiro da presença, porque as crianças, os nossos filhos, aprendem observando”.

Para Queta, o pai não é só aquele que gere. "Ele também cuida. Então, grosso modo, somos todos pais, os tios são pais, os avôs são pais”.

Papel do pai

Para o sociólogo Zeferino Miguêns "a figura do pai continua a representar a autoridade, a lei, a impor os limites disciplinando a criança. A presença do pai ajuda os filhos a separarem-se da ligação primária com a mãe, de modo a explorarem e descobrirem o mundo e as relações, tornando-se mais autónomos e independentes”. O sociólogo referiu que a urbanização, a industrialização, a inserção da mulher no mercado de trabalho e a partilha dos cuidados dos filhos com a escola e a religião trouxeram mudanças no contexto familiar.

Para o pastor Francisco João de Assunção Luís, o pai desempenha um papel fundamental na vida familiar. "A Bíblia está repleta de exemplos de pais que tiveram impacto bastante significativo nas suas famílias, tais como Abraão, Isaac, Jacob e José, o carpinteiro”, disse.

Segundo o religioso, na família, a figura paterna é a maior referência para os filhos. "O pai é a maior referência para os seus filhos, pois nele reside a bússola orientadora da masculinidade ou feminilidade dos mesmos e a estabilidade para o relacionamento saudável”. O pastor fez saber que os pais devem agir de acordo com as normas explanadas na Bíblia. "Segundo as Escrituras, ser pai é uma dádiva de Deus, um privilégio, e não deve ser encarado como um fardo, como a sociedade moderna tenta pintar. Os pais são ou deviam ser os tutores dos filhos de Deus e devem ensiná-los, educá-los e cuidar deles. Conforme a Bíblia diz em Salmos 127: 3-5”. ["3 - Eis que os filhos são herança do Senhor; e o fruto do ventre, o seu galardão. 4 - Como flechas na mão de um homem valente, assim são os filhos da mocidade. 5 - Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão envergonhados, mas falarão com os seus inimigos à porta.”]

Os pais afectivos

Mateus Luemba, casado há seis anos, possui quatro filhos, sendo um de criação, fruto do antigo relacionamento da parceira. Ele diz que, devido ao estigma, é desafiante assumir essa responsabilidade. "Garanto que não é tarefa fácil. Quando assumi esta responsabilidade, tive de lidar com muita coisa, a pressão de amigos e familiares. Cheguei a ouvir que ‘ninguém começa o jogo a perder’. Foi difícil mas acostumei-me e hoje digo que valeu a pena, cuido deste filho como se fosse meu de sangue”. 

Américo Barros, outro chefe de família que assume a responsabilidade de pai por afecto, diz igualmente que isso é desafiante. "Não é fácil estar nas vestes de pai por afecto, primeiro porque temos noção que é fruto de um relacionamento anterior da parceira, segundo, há a pressão da sociedade. Por esta razão, digo que não é tarefa fácil, é preciso ter maturidade para assumir essa responsabilidade”.

Questionado se foi fácil aceitar, o chefe de família disse que à primeira não conseguiu aceitar. "Leva tempo, até porque para os homens ainda existem muitos tabus em torno do assunto. ‘A mãe um dia vai voltar com o pai da criança’. Isso cria incómodo, só dá um passo à frente quem realmente tem juízo”, sublinhou.

Filipe Butucayandi e Josimar Cassua estão a passar, pela primeira vez, pela experiência da paternidade. O primeiro fez saber que foi difícil encarar a nova realidade a que estava sujeito. "Numa primeira fase, foi um pouco difícil aceitar, porque ainda surgia um medo quanto à responsabilidade, uma vez que era algo que só via em terceiros”. E acresceu: "Ter filho é uma grande responsabilidade,mas nós como homens temos de estar preparados para tudo”.

O segundo, quando soube que seria pai pela primeira vez, teve um sentimento diferente. "Ao descobrir que a minha namorada estava grávida e que eu seria pai pela primeira vez, a princípio surgiu-me uma mistura de pensamentos, dúvidas, alegria e muita insegurança”, disse Josimar Cassua.

O jovem fez saber que, na altura, era dependente dos pais. "Na época, eu não trabalhava, nem a minha namorada, dependíamos a 100 por cento dos nossos pais. Mas, no fundo, eu sabia que tinha de enfrentar os problemas que iriam surgir daí”.

Josimar Cassua e a parceira, após diálogo com ambos os pais, receberam todo o apoio destes, culminando com o casamento. Hoje, o casal continua firme e o filho está com dois anos.

Para Maria de Olinda, o pai representa "aquela protecção, aquele carinho, aquele cuidado. E é muito importante para todos termos a presença do pai durante a nossa vida”. Ainda no seu dizer "é muito importante um filho saber conviver e aprender a estar com o seu pai”.

Ausentes pelo trabalho

Por conta do regime laboral "diferente”, alguns progenitores ausentam-se por dias, semanas, meses…  Manuel de Sousa, funcionário do sector petrolífero, frisou que apesar de se ausentar por quatro semanas, tem feito o papel de pai no lar. "Apesar das ausências por 28 dias, tenho dado o meu melhor sempre que estou presente, desde a educação, afecto e à atenção que eles merecem”, disse.

Manuel de Sousa reitera que os pais que se ausentam devido ao trabalho devem estar em sintonia com as parceiras. "Uma vez que estamos ausentes, devemos trabalhar com as esposas na educação dos nossos filhos”.

João Mbacthi, funcionário da Empresa Nacional de Distribuição de Electricidade (ENDE), trabalha em regime de turno. Ele diz que tudo tem feito para que haja estabilidade no seu lar. Independente do regime de trabalho, segundo diz, o pai tem de focar-se no lar,"temos de estar a par de tudo que acontece lá em casa, as nossas esposas têm de estar connosco em sintonia, no que diz respeito à educação dos nossos filhos”.

O chefe de família apelou à sociedade a valorizar a figura paterna, "apesar de que nem todos merecem”.

"Por trás do sorriso de um pai está uma onda de desafios com vista a garantir o sustento do lar”, defendeu.

O psicólogo D’Alberto Dias defende que a figura paterna deve criar mecanismos para harmonizar o lar e olhar para isso como alívio e não como um fardo. "O lar é um centro de terapia natural, o pai deve reunir com a família, cultivando a empatia. Isso é um processo educativo. E ao criar esta cultura em casa, face a todas as situações de ordem profissional, a figura paterna terá sempre a casa como um refúgio”.

Para o psicólogoo local de trabalho, é sempre um centro de desafios e as pressões estarão sempre lá. "Somos seres humanos multifacetados, por um lado somos pais, por outro somos trabalhadores que produzimos usando esforço mental ou físico, logo, é importante saber lidar com essa situação de ordem natural e conciliar com outra demanda que é a família”.

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