Por conta de algum ajuste da pauta aduaneira, concretamente relacionada com a taxação dos produtos de uso pessoal, nos últimos dias, a Administração Geral Tributária (AGT) esteve, como se diz na gíria, na boca do povo. A medida gerou uma onda de insatisfação e, sendo ou não apenas a única razão, foi declarada a suspensão daquela modalidade de tributação, nova na nossa realidade.
Persigo, incessante, mais um instante para privilegiar o sossego. Para a parte maior da raça humana, pondero tratar-se da necessidade que se vai evidenciando quando a tarde eiva as objectivas da vida. Rastos de águas passadas há muito direccionam o moinho para a preciosidade do tempo.
Produtores de petróleo e afins lideram a lista universal de ganhos, em 2023, mas, simultaneamente, a dos maiores destruidores do planeta, com todas as consequência que se prevêem, mas aquém das deste ano recém-nascido.
A desvergonha e o cinismo da maioria dos produtores de petróleo e afins estão estampados por todo o lado, nas mais variadas formas. Não há quem não as veja, oiça, sinta. Onde? Por exemplo, nos maiores palcos internacionais, onde proliferam discursos contraditórios de promessas eternamente adiadas feitas por quem sabe que não as cumpre porque se tal sucedesse ficava sem "a galinha dos ovos de ouro”.
O fim das guerras sem causarem outras, acentue-se, era suicídio para quem as fomenta e vive delas. A própria paz, apregoada aos "sete ventos”, devem mexericar entre eles, não existia sem conflitos. Era palavra sem razão para ser evocada. Nos conflitos não são usados petróleo e sucedâneos? E nos países menos desenvolvidos de todos os continentes não é ele que gera electricidade para mover fábricas, serviços públicos, palácios, vivendas, mesmo ximbecos? Como funcionavam aparelhos de televisão, geleiras, aspiradores de pó, secadores?
Desvergonhas e cinismos de parte dos produtores do petróleo e afins não sobressaem somente nas guerras, sequer em países menos desenvolvidos. Estendem-se a todo o Universo, inclusive, em zonas industriais e grandes metrópoles. Os gases habitam o ar que se respira, mares, rios, lagos, jardins, estabelecimentos de ensino e hospitalares, lares de idosos, chega a confundir-se com cacimbo.
Os gases que afectam milhões de incontáveis pessoas, em todo o Universos, e hão-de acabar por destruí-lo completamente, têm efeitos com causas conhecidas evitáveis se, desde sempre, os mais ricos não se deixassem levar por egoísmos que os conduziram a desvergonhas e cinismos sobejamente sabidos.
As imagens de horror que nos entram em casa pela televisão, rádio, jornais e revistas comprovam à saciedade o egoísmo do "ser humano”, salvo seja, para atingir objectivos perversos, contradizendo-se muitas vezes em situações análogas.
Os milhares de inocentes palestinianos - crianças, idosos, deficientes, inocentes, sem mencionar todos os outros, de qualquer género, trabalhadores em vários ramos - comprovam a dualidade de critérios de vários dos que apoiam e incitam os massacres de que são vítimas, tanto a nível militar e logístico, como em "discursos arrebatadores” em palcos de decisão.
As imagens que chegam a grande parte do Mundo são arrepiantemente indescritíveis: a menina, sozinha, perdida, no meio de uma multidão que corre sem saber para onde, tem apertado contra o peito um boneco sem cabeça; o menino empoleirado sabe-se lá em quê, entre uma multidão de famintos, bracito estendido, bacia na mão, espera que lhe ponham algo no prato; a mulher - nova, idosa? O medo e a dor desfiguram rostos - com a cabeça coberta com véu negro, clama por Alá, pede paz.
As vítimas palestinianas desta guerra, tal como as israelitas, saliente-se, a bem da verdade, embora em muito menor número, não a procuraram, são contra. Querem paz.
Os sobreviventes desta guerra na "Faixa de Gaza” - estende-se já a zonas limítrofes e sabe-se lá onde vai parar - jamais a esquecerão, até porque os efeitos da contaminação atmosférica hão-de perpetuar-se, como em todas as zonas do Universo, onde os poluidores hão-de continuar impunes à sombra de egoísmos e bajulices, outras vias de contágio.
Os produtores de petróleo e afins foram os que, em 20023, mais lucros tiveram. Como em tudo na vida, porém, há o reverso da medalha. Aquele produto também é dos maiores agressores da atmosfera.
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