Entrevista

Angolana em Marrocos descreve clima vivido 12 dias depois do sismo

Omar Prata

Passados 12 dias depois do sismo de magnitude 7.0 na escala de Richter, que atingiu o Reino de Marrocos, o JA Online conversou com a residente angolana e mestre em Engenharia Civil, Débora Maira João, para saber como é que o país está a recuperar da tragédia.

20/09/2023  Última atualização 12H40
© Fotografia por: Lusa
Há quanto tempo vive no Reino de Marrocos? 
Vivo em Marrocos desde 2016, sou licenciada em Arquitectura e Design e Mestre em Engenharia Civil. 

Onde estava quando ocorreu o sismo?
Estava em casa, na cidade de Tânger, no norte do país, aproximadamente 575,7 quilómetros do epicentro do sismo que foi no sul, onde houve muitos estragos. 

Sentiu a casa a tremer? 
Sentiu-se um ligeiro tremor, quase indiscreto. (Quem esteve sentado ou deitado pôde sentir, mas em pé e em actividade passou despercebido. Por outra, quem esteve em edifícios que levaram em consideração as normas de sismos, não sentiu nada.

Pode descrever mais a fundo a experiência? 
Senti uma vibração, a primeira foi algo que não acreditei e duvidei porque não havia informações nas redes sociais, mas da segunda vez foi um pouco perceptível, depois disto não senti mais nada. Porém, fiquei fora de casa até às 3 horas da manhã por questões de segurança. 

Como é que estão as coisas após o terramoto? 
As pessoas estão em estado de alerta, todo mundo tem receio de que volte a acontecer outro terramoto, uma semana depois da tragédia as pessoas estavam cabisbaixas, de luto (após ser decretado o luto nacional de três dias). Actualmente estão mais descontraídas e claro, unindo forças para ajudar os afectados. Uma das informações que circulou e instaurou o pânico é de que até dia 21 teríamos algum sismo e dentro destes dias há pessoas que ficam fora de casa até tarde, sobretudo os locais, mas poderá ser também fake news (notícias falsas), só que algumas pessoas não querem remediar, preferem prevenir. 

Como é que se encontra a comunidade angolana?
A comunidade angolana tem tido contacto e mantém-se informada, graças a Deus não houve nenhum angolano afectado fisicamente ou de forma material, houve mais questões psicológicas devido ao trauma que ficou, mas aos poucos vai-se superando. 

Os estragos do sismo estão relacionados com a falta de preparação das infra-estruturas? 
No contexto arquitectura/civil, devemo-nos lembrar que se leva em conta parâmetros sísmicos obrigatórios em um determinado país ou localidade e infelizmente, muitas da construção em Marrocos de 10 décadas para baixo, não são feitas de materiais resistentes. Perderam-se casas históricas, património mundial, sobretudo no sul do país, porque não obedeciam aos requisitos exigidos. E não só.

Marrocos está sujeito a mais episódios trágicos como este?
Marrocos situa-se numa zona de risco, a zona mediterrânica ibero-magrebina é uma região conhecida pela instabilidade sísmica que inclui zona de alto risco. Todos os anos centenas de terramotos de diferentes magnitudes são registadas pelas estações de monitoramento sísmico no Instituto Nacional de Geofísica no país. 

Tem receio que se repita? 
Sendo franca, pelo conhecimento que tenho sobre estes desastre naturais, enquanto humana tenho sim, estou ciente que a zona em questão Marrocos é considerada de alto risco. 

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