Entrevista

António Watica: “O fornecimento regular de energia eléctrica veio incentivar o surgimento de pequenas indústrias”

Marcelo Manuel | Ndalatando

Jornalista

Vinte e cinco anos depois, as principais ruas da vila municipal de Quiculungo, província do Cuanza-Norte, voltam a receber um novo tapete asfáltico, mas desta vez feito de betão de cimento armado, a exemplo de algumas ruas e zonas de Luanda e não só, com uma extensão de cinco quilómetros, orçados em mais de mil milhões de Kwanzas, financiados através do Programa Integrado Intervenção nos Municípios (PIIM). Em entrevista ao Jornal de Angola, António Watica destaca os benefícios da ligação à rede eléctrica nacional, que já está a beneficiar 15 das 30 aldeias do município

30/10/2023  Última atualização 11H34
© Fotografia por: Nilo Mateus | Edições Novembro| Cuanza-Norte

Senhor administrador, quais são as principais obras de impacto social e económico existentes em Quiculungo?

A nível de Quiculungo, existem várias obras de impacto social e económico em curso, algumas já concluídas, a começar pelo projecto de pavimentação da sede municipal, que inicialmente estava previsto para uma extensão de 15 quilómetros, mas que, por causa de dificuldades financeiras, tivemos de redimensioná-lo, para uma construção de cinco mil metros, que permitiu pavimentar as principais ruas da nossa vila, através de um sistema de engenharia civil, criado através de betão armado e ferro. As obras deste projecto começaram em Maio de 2020. O período de execução da empreitada estava inicialmente previsto para seis meses, mas somente em Fevereiro de 2022 começamos com o trabalho propriamente dito, que terminou em Julho do mesmo ano.

 
De que projecto faz parte esta obra e quanto custou?

A obra foi adjudicada no âmbito do PIIM, custou mais de mil milhões de kwanzas, que permitiram a pavimentação consolidada do casco urbano da vila. Neste capítulo, ainda faltam alguns detalhes para o acabamento da obra, como os arranjos dos passeios, que estão a depender de alguns pagamentos, por parte do Estado. Temos também a construção de duas escolas de nove salas de aula cada, das quais, uma já inaugurada, no bairro Dungue, a cerca de sete quilómetros da sede municipal e a outra, que por razões de falta de pagamento ao empreiteiro, as obras ainda decorrem.

A escola foi erguida num período de seis meses e inaugurada em Junho do ano passado. A mesma foi, de igual modo, construída no âmbito do PIIM e custou 156 milhões de Kwanzas. Possui sete salas de aula, duas de artes e ofícios e quadra polidesportiva, onde se lecciona da iniciação a 7ª classe. Nesta altura, a referida escola funciona apenas num turno, por falta de professores e energia eléctrica para o período noturno. Acredito que com a realização do concurso público de Novembro próximo, as coisas podem melhorar, atendendo as 50 vagas a que o município tem direito, associada ao plano de electrificação daquela zona, prevista para 2024.

 

Em que comunidade está localizada a outra escola e qual é a sua dimensão?

A escola que se encontra em obras e comporta igualmente sete salas está a ser construída no sector do Bengueji, é de carácter fragmentado, atendendo às necessidades de atendimento ao ensino primário, naquela localidade. Foi assim que decidimos fazer duas salas na aldeia de Camacala, igual número no Seca e outras três no Canda Primeiro. Neste momento quatro salas já estão concluídas e apetrechadas, mas acontece que os atrasos de pagamento ao empreiteiro condicionam a entrega da obra à administração municipal. O empreiteiro das duas escolas é o mesmo e fez um esforço para a conclusão da primeira obra com recursos próprios, onde até agora só pagamos a execução financeira na ordem dos 59 por cento, dos mais de cem milhões de kwanzas que a empreitada custou. O mesmo problema acontece com as quatro salas erguidas no sector do Bengueji, onde a execução financeira ronda os 70 por cento. Dizer que o valor geral deste projecto é igual ao do Bairro Dungue. Neste momento, ainda temos cinco autos de medição para ambas as empreitadas, orçadas em mais de 70 milhões de kwanzas.

 

Apesar da pavimentação da vila, ainda é visível a degradação dos seus edifícios. Para quando a sua manutenção?

No âmbito das contra-ordenações, dentro em breve a administração municipal de Quiculungo vai publicar um edital que vai obrigar os proprietários de imóveis a cuidarem melhor dos seus edifícios. Neste momento aguardamos pela publicação deste documento em Diário da República, para que possamos pôr o plano em prática. A manutenção das residências é da responsabilidade dos donos que devem cuidar do embelezamento das mesmas. Deixa lhe dizer que a maior parte dos imóveis que se encontram na sede municipal de Quiculungo ainda são do Estado e a maior parte dos seus ocupantes são inquilinos do Estado.

 
Quais as acções mais visíveis no âmbito da rubrica de combate à pobreza?

Nesta componente temos diversas obras, com particular destaque para a reabilitação e ampliação de uma escola que era de três salas e passou para sete, uma quadra polidesportiva na sede, para além de outra já concluída no bairro Kianvo, com um orçamento de 50 milhões de Kwanzas, mas que não foi inaugurada por falta de pagamento dos encargos do projecto. Mas pensamos ultrapassar este impasse para inaugurar nos próximos dias. Temos ainda dois sistemas de iluminação, um de carácter público e outro domiciliado na comunidade do Gongolo, que ganhou igualmente um novo sistema de abastecimento de água potável.


A vila tem alguns edifícios onde funcionavam estabelecimentos económicos abandonados há já algum tempo. De quem é a responsabilidade para a recuperação dos mesmos?

Temos o edifício do antigo núcleo do Banco Nacional de Angola e a ex-Repartição Municipal das Finanças e outros. Os dois últimos andam abandonados desde 1992. Acreditamos que se estivessem ocupados, fariam alguma diferença na arrecadação de receitas tributárias para o Estado. Tenho conhecimento de que a estrutura do Banco Nacional de Angola foi entregue a um cidadão singular, que apresentou a documentação do trespasse, em seu nome, e prometeu a sua reabilitação, para a consequente exploração económica, mas infelizmente ainda não o fez. Em relação ao edifício das Finanças, recebemos a informação da delegação provincial de tutela, que também vai ser reabilitado. Mas são apenas propostas que em nada dependem das acções da administração municipal.

 
O município foi contemplado, há três anos, com um projecto de electrificação, através da rede pública nacional. Que mudanças a energia trouxe para a vida da população?

Actualmente, o município de Quiculungo conta com uma cobertura eléctrica na ordem 50 por cento, cobrindo 15 aldeias, do total de 30 existentes, beneficiando cerca de 20 mil famílias, que viram os seus estilos de vida melhorados, principalmente no que toca ao uso de electrodomésticos, acesso à informação, através da rádio e televisão, para além da conservação dos alimentos frescos e perecíveis. Outro ganho é a administração de aulas no período nocturno e a revisão dos conteúdos temáticos por parte dos alunos, até mesmo de madrugada. As nossas aldeias de noite dão a impressão de cidade, por causa do grau de luminosidade que apresentam neste período. O fornecimento regular da energia veio de igual modo incentivar o surgimento de pequenas indústrias, principalmente moageiras, que, neste momento, já são mais de 15 a nível da vila e aldeias, para além das serralherias e marcenarias, que antes trabalhavam a meio gás, porque dependiam de pequenos grupos geradores, mas que agora podem trabalhar 24 horas ao dia.

 
Que informações o senhor tem acerca do projecto de asfaltagem dos 74 quilómetros entre os municípios de Samba-Cajú, Banga, Quiculungo até Bolongongo?

Neste momento, já decorrem os trabalhos de asfaltagem, entre Samba-Cajú e Banga. As obras estão a bom ritmo. Verificámos que há interesse da empreiteira em cumprir os prazos estabelecidos. Acredito que, no decurso do próximo ano, esta empreitada vai ser concluída também a nível de Quiculungo e Bolongongo. Com a conclusão desta empreitada a região vai conhecer maior movimentação de viaturas e, consequentemente, de pessoas e bens, o vai provocar a redução dos custos por viagem, para além da melhoria do escoamento dos principais produtos do campo, que é uma das principais dores de cabeça para quem vive nesta região.

Anteriormente, quando as vias de acesso estavam boas, a população pagava cinco mil kwanzas por cada viagem, de ida e volta, à cidade de Ndalatando. Hoje os preços praticados pelos automobilistas rondam os 10 mil kwanzas, devido às dificuldades apresentadas pelos troços, que se agravam devido às chuvas.

Existem acções para a melhoria do troço de 13 quilómetros de terra batida que liga Quiculungo ao sector de Pambos-de-Sonhi, na Estrada Nacional 140?

Este projecto também está em curso, com custos estimados em 205 milhões de kwanzas. Hoje já se anda à vontade da vila até à aldeia de Kandunda, resultante de um trabalho de acomodação de tráfego. A área de Dianhugwa é tida como o local mais crítico neste itinerário, onde está a ser construída uma ponte de betão armado que vai garantir maior segurança aos automobilistas que ali circulam. De referir que a construção das linhas de passagem de água e ponte são de nível central, cuja execução vai ditar o término da empreitada. A nível local temos, também um outro projecto de terraplanagem que está a cargo da Direcção Provincial das Obras Públicas, entre as localidades de Huya-Ngombe, até à sede municipal de Quiculungo, num total de 24 quilómetros. Neste momento, as máquinas já estão no sector do Kidyulo, no município de Samba-Cajú.

 
Como está a distribuição e consumo de água potável no município?

Quiculungo é uma região que foi abençoada com várias fontes de água potável e acredito que com a melhoria das estradas, poderemos, num futuro breve, ter vários projectos de venda de água mineral engarrafada, por causa das várias nascentes existentes a nível das distintas cadeias montanhosas que temos. Só para citar algumas, temos a nascente de Cazela, Kádia, Kandua, Katchamba, Kaseke, Kalwando, dentre outras, que brotam água mineral. Só que a nossa população tem um défice na racionalização do consumo de água, deixando as torneiras abertas por um período de 24 horas, o que prejudica a subida do líquido às zonas mais altas. Neste momento, das 30 aldeias que temos, existem dificuldades de água nas comunidades do Seka, Kamakala, Nzambi Kyama dois, Kibanda e Kimwezo, que ainda consomem água dos rios.

Neste ano económico inscrevemos, através do programa de combate à pobreza, dois projectos para a criação de postos de abastecimento em igual número de aldeias, para, no próximo ano, alistarmos mais duas e caso não haja constrangimentos de ordem financeira, pensamos cobrir toda a região, com o consumo de água dos fontanários até 2025.

 
Que contactos existem para a abertura de um banco comercial no município?

A banca é um negócio e não sei se as demandas económicas desta região seriam capazes de suportar os custos de despesas exigidas por uma infra-estrutura do género, principalmente no que diz respeito ao salário dos trabalhadores, consumo de energia, pagamento de impostos, água e Internet. A instalação de bancos numa localidade depende de um estudo de viabilidade económica. Por isso é que muitos balcões foram encerrados na nossa província.

Neste momento, temos um agente bancário que representa uma instituição que tem efectuado alguns pagamentos de salários através de cartões multicaixa, de acordo com as suas capacidades financeiras.

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