Opinião

As questões “políticas” do Man-Tony

Soberano Kanyanga

Jornalista

Economista de formação na UAN, no tempo em que era única, e bem posicionado no BNA onde chegou ao cargo de sub-director de Emissão e Crédito e presidente do Sindicato dos Empregados Bancários, António Branda ou simplesmente Man-Tony para os de casa, foi um homem que conheci por força da vizinhança, no Rangel, e por ser irmão e primo de meus amigos de adolescência e juventude, o Simão ou Tio (de feliz memória), o Isaque ou Zazá e o Didi.

28/04/2024  Última atualização 08H07

Simples, apesar de ser o único Doutor no nosso bairro, bem posicionado social e economicamente, o Man-Tony construiu a sua humilde casa no bairro Precol onde nos recebia a todos como irmãos. Não distinguia os irmãos dos amigos destes. Era, por isso, o nosso kota, o Man-Tony de quem nos gabávamos indistintamente.

Sempre que, por razões por nós desconhecidas, fôssemos mal recebidos pela esposa, o Man-Tony dizia-nos no seu falar lento, mas marcante: "não liguem, môskandenges, são questões políticas”.

Ele não era dado a conversar connosco, embora aprovasse a nossa militância na Jota, questões de fórum ideológico-partidárias, mas alegava "questões políticas”, o que nos deixava algo confusos.

Hoje, crescidos e amancebados, compreendemos o que ele nos estava a transmitir, o que considerava serem "questões políticas”. Na verdade, eram assuntos que a nossa idade e estado civil não permitiam entender. Questões difíceis de gerir que o obrigavam à gestão política da situação. O Man-Tony não era homem de entrar em gritaria com a parceira ou com quem quer que fosse, por mais coberto de razão que estivesse. Geria tudo de forma política, a arte do equilíbrio, do win-win. Pura verdade!

Estamos hoje (Didi, Puna, Amany, Zazá, Beto Spina e outros amigos de então), crescidos, casados e feitos pais, também a gerir muitas vezes situações "políticas” incalculáveis há 30 anos.

E, mais nos dizia o Man-Tony:  "Môskandenges, não se apressem em ter dama. Casa temos, mas o pitéu é complicado”. Na nossa inocência sempre pensávamos que fosse mais difícil ter-se casa do que comida. Vemos hoje que, embora cerca de metade do que se cozinha vá mais ao lixo do que ao estômago, é por causa da comida que mais se encontram clivagens entre parentes.

Oiço, vezes sem conta, que o fulano não dá assistência alimentar, a fulana deixou o filho sob guarda da vizinha e não deixou a comida, etc. Coisas sem cabimento. Mas, mais uma vez dou razão ao Man-Tony.

"São questões políticas, môskandenges, não liguem. Um dia vão entender!”

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