Opinião

Aumentar a consciencialização sobre o HPV

Maria Quaresma*

*Médica, especialista em Imunização da OMS em Angola

A 4 de Março, assinala-se o Dia Internacional de Consciencialização sobre o HPV, também conhecido como Papilomavírus Humano. O HPV compreende um conjunto de mais de 100 vírus que podem infectar a pele ou mucosas, incluindo as genitais, orais ou anaise, pode causar verrugas anogenitais (na região do ânus e genital) e, em casos mais graves, até câncer, dependendo do seu tipo.

07/04/2024  Última atualização 10H01

A transmissão ocorre principalmente através do contacto directo com a pele ou mucosa infectada, sendo a via sexual a principal forma de contágio. É importante realçar que a infecção pode ocorrer mesmo na ausência do acto sexual completo, uma vez que o simples contacto é suficiente para a transmissão.

É muito provável que todos nós tenhamos contacto com o vírus HPV pelo menos uma vez ao longo da vida e, para a maioria das pessoas, isso não apresentará problemas, pois o nosso próprio sistema imunológico é capaz de eliminá-lo.

No entanto, em alguns casos, o sistema imunológico não responde apropriadamente, o que pode resultar no desenvolvimento de diversas doenças, como citado acima.O vírus possui um período de latência longo, ou seja, um intervalo considerável entre a infecção e o surgimento de sintomas, sendo que muitas pessoas podem não perceber que foram infectadas.

Esse facto torna o vírus ainda mais perigoso, pois mesmo na ausência de sintomas visíveis, o indivíduo infectado pode transmití-lo para outras pessoas. A descoberta da infecção geralmente ocorre quando a resistência do organismo é reduzida, como durante uma gripe severa ou outra doença que requer do nosso corpo uma resposta imune (de defesa), momento em que o vírus HPV pode se multiplicar e causar manifestações como lesões (como verrugas semelhantes a uma couve-flor) ou cancro.

As cepas (variante ou um grupo de variantes do vírus) 16 e 18 do HPV estão directamente relacionadas com o cancro do colo do útero, uma doença que causa aproximadamente 300.000 mortes de mulheres a cada ano, em todo o mundo, sendo que 90% dessas mortes ocorrem em países de baixa e média renda . Em Angola, de acordo com a estatística disponível do Instituto Angolano de Controlo e do Cancro referente a 2022, cerca de 18,80% de todos os casos atendidos foram desse tipo, o que representa a segunda maior prevalência entre todos os tipos de cancro tratados .

É importante mencionar que a transmissão do HPV também pode ocorrer de maneira vertical, isto é, da mãe para o filho, durante o parto. Embora o vírus seja frequentemente associado ao cancro cervical mencionado anteriormente, o risco de infecção é equivocadamente considerado apenas para mulheres.No entanto, dado que o simples contacto com o vírus é suficiente para a infecção, ele pode afectar a ambos os sexos.

Sendo que o HPV é tão comum e afecta tanto homens quanto mulheres, o que podemos fazer para nos proteger? A prevenção é sempre a melhor abordagem. Isso inclui o uso de preservativos durante as relações sexuais, a realização regular de exames preventivos, como o Papanicolau, pelas mulheres, e para aqueles dentro da faixa etária recomendada, a vacinação.

É importante notar que a vacinação pode não ser tão eficaz para pessoas que já iniciaram a vida sexual e, provavelmente, já foram expostas ao vírus. Por isso, é mais indicada para pessoas mais jovens, que ainda não tiveram contacto com o HPV.

Muitos países optam por vacinar exclusivamente as raparigas contra o HPV, em detrimento dos rapazes. Aqui estão algumas razões para essa escolha:

• Eficiência na Prevenção do Câncro do Colo do Útero: o HPV (Papilomavírus Humano) está directamente associado ao câncro do colo do útero, que afecta exclusivamente as mulheres. Vacinar as raparigas pode reduzir significativamente o risco de desenvolvimento deste tipo de câncro.

• Redução da Transmissão em Grupo de População: vacinar as raparigas pode reduzir a disseminação do vírus em grupos de população, o que indirectamente protege os rapazes. Como o HPV é sexualmente transmissível, reduzir a prevalência entre as mulheres pode diminuir a probabilidade de transmissão para os homens.

• Custo-Benefício: em muitos casos, vacinar apenas as raparigas pode ser mais economicamente viável do que vacinar ambos os sexos. Como o cancro do colo do útero é a principal preocupação em termos de saúde pública associada ao HPV, priorizar a vacinação nas raparigas pode ser considerado mais eficiente em termos de custo-benefício.

No entanto, é importante observar que a vacinação contra o HPV em rapazes também tem benefícios significativos, como a prevenção de verrugas genitais e certos tipos de câncro, como o câncro de pênis e o câncro anal. À medida que mais dados e recursos se tornam disponíveis, alguns países estão a expandir os seus programas de vacinação para incluir ambos os sexos.

O Ministério da Saúde de Angola reconhece o risco representado pelo vírus HPV como uma questão relevante em saúde pública.Como resultado, incluiu a vacinação como uma acção prioritária no Plano Nacional de Desenvolvimento 2023–2027.

Entre as diversas vacinas já licenciadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a faixa etária contemplada abrange meninos e meninas entre 9 e 14 anos  de idade. A implementação da campanha de vacinação em Angola ainda está em fase de desenvolvimento e será divulgada em breve.

Através de exames, uso de preservativos ou vacinação, todos nós temos ferramentas para nos proteger das consequências da infecção pelo vírus do HPV. Nossa vida e a daqueles que amamos são nosso bem maior, portanto, devemos fazer o possível para nos proteger e desfrutar de uma jornada longa e saudável.

Além das medidas individuais de prevenção, é fundamental que haja um esforço colectivo para aumentar a consciencialização sobre o HPV e a importância da prevenção.

Isso inclui campanhas educativas nas escolas, locais de trabalho e comunidades, bem como o acesso facilitado a serviços de saúde que ofereçam exames preventivos e vacinação. A colaboração entre governos, organizações de saúde e a sociedade civil é essencial para combater eficazmente o HPV e suas consequências. Juntos, podemos criar um ambiente mais saudável e seguro para todos.Previna-se! Exames, preservativos e vacinas salvam vidas! Nãodeixe de se proteger.

 

*Médica, especialista em Imunização da OMS em Angola

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