Segundo o mentor do projecto, Sofonias Amadeu, o objectivo da campanha é aumentar o acervo bibliográfico do espaço, de forma a colocar à disposição dos moradores daquele distrito várias opções de leitura e de lazer.

O responsável explicou ao Jornal de Angola que a biblioteca reúne, neste momento, duas dezenas de livros, ainda insuficientes para atender a demanda dos leitores. "Estamos abertos a receber tanto livros novos como usados, desde que estejam em boas condições para serem utilizados", disse.

Sofonias Amadeu apelou aos interessados em ajudar o projecto com a sua doação a  dirigir-se ao espaço, localizado  no bairro Rasta, Golfe 2, ou entrar em contacto através da página do facebook "Biblioteca Comunitária SDC".  

O responsável explicou que o projecto surgiu no mês de Fevereiro do corrente ano. Sofonias Amadeu contou, também, que a ideia de criar a biblioteca nasceu por causa do índice de criminalidade que cresce na região.

"Lembro-me que num domingo reuni um grupo de jovens para uma conversa descontraída acerca da importância da leitura e de vários temas pertinentes. Todos gostaram e pediram-me que promovesse mais encontros do género", recorda o estudante do primeiro ano de Contabilidade e Gestão do Instituto Médio de Economia de Luanda (IMEL). 

De acordo com o responsável do projecto literário, o objectivo é, por via da leitura, ajudar a mudar a mentalidade dos jovens daquela localidade. Sofonias Amadeu pretende, enquanto jovem preocupado com o crescimento intelectual da comunidade, ajudar outros jovens a ter um futuro próspero, onde possam ajudar o país a crescer.

"Ler incentiva o raciocínio, activa o cérebro, desenvolve o pensamento crítico e torna as pessoas diferenciadas. O objectivo com o projecto, é tornar diferente os jovens". Segundo o mentor, a iniciativa nasce com o desejo de oferecer oportunidades de aprendizado, reflexão e diálogo para a comunidade, utilizando a literatura como ferramenta de transformação e crescimento pessoal.

Através do projecto, sublinhou, são disponibilizados livros de forma gratuita, incentivando a leitura e o fomento do hábito de leitura e o gosto pelos livros, como meio de ampliar a cultura geral. Além disso, disse, a ideia é organizar debates e discussões acerca de questões que impactam directamente a vida dos cidadãos.

Nos encontros, referiu, são discutidos de forma aberta e livre, temas como inclusão social, diversidade cultural, económica e cidadania. Sofonias Amadeu acredita que ao proporcionar o acesso à leitura e ao mesmo tempo criar espaços para o diálogo e a reflexão, está a contribuir para a formação de cidadãos mais críticos, conscientes e engajados com as questões que permeiam a sociedade actual.

Um exemplo de superação em prol do livro e da leitura

Dado que sempre quis implementar um projecto de incentivo à leitura, o joven que tem no mercado publicado o livro "A Peste do Sucesso” coloca em exposição as dezenas de livros que tem em casa e cria aquilo a que passou a designar "Biblioteca Comunitária SDC”. O que começou como uma mera partilha de conhecimentos entre amigos debaixo de uma árvore hoje atrai, mais de 20 leitores por dia.

Para ter acesso aos livros, o interessado, primeiro, tem de higienizar as mãos e fazer o uso dos livros com muito cuidado para a conservar. A leitura é grátis. Algo curioso que acontece regularmente, segundo conta Sofonias Amadeu, é que os moradores das redondezas aplaudem a iniciativa e gostariam de poder fazer mais com a divulgação da biblioteca comunitária, sobretudo para aumentar o acervo. A equipa de reportagem do Jornal de Angola acompanhou uma das sessões de debates, ontem, no período da tarde.

Os jovens estudantes e amantes do livro, Osvaldo Dala, Rafael Ngunza e Maria Paciência, numa conversa descontraída identificaram-se com o projecto e foram os primeiros a marcarem presença. Osvaldo Dala disse que a iniciativa sensibilizou a sociedade, que agora "timidamente faz doações de livros para que os munícipes possam ter várias opções de leitura e aumentem os seus conhecimentos”.

Dar vida aos espaços públicos subaproveitados

O lugar, antes dominado pelo lixo, está transformado num ponto de encontro salutar. Pessoas de todas as idades sentam-se ao redor de uma árvore, em cadeiras brancas, verdes e laranjas de plásticos, num cenário improvisado, respeitando sempre as regras de boa convivência social.

Nem mesmo o barulho dos motoqueiros, crianças e das zungueiras no movimentadíssimo bairro Rasta, atrapalha quem está absorvido pela leitura e os debates. Rafael Ngunza reconhece que o lugar ainda carece de melhores condições, mas a força da juventude é maior que todas as adversidades. "O projecto precisa de um melhor espaço e com cobertura, mas ainda assim, abraçamos a iniciativa de um jovem como nós que tem de ajudar a criar outras fontes de lazer na comunidade”.

Por sua vez, Maria Paciência recorda que inicialmente mostra-se céptica pelo projecto surgir numa comunidade onde não existem bibliotecas. "Temos conhecimento de que existem muitas pessoas de boa fé e que podem ajudar a projecto a crescer para o bem da comunidade”.

Sofonias Amadeu informou que o objectivo é dar seguimento ao projecto e transformar outros locais públicos abandonados, em espaço de leitura, dando-lhes vida e outra dinâmica cultural.

Para o jovem, o mais gratificante e reconfortante é ouvir os comentários das pessoas em relação à iniciativa, lembrando que "bibliotecas e livros estão cada vez mais distantes das pessoas”.