Reportagem

Calemas no mar do Nzeto causam alta do preço do peixe

Fula Martins | Nzeto

Jornalista

Gabriel Ndungu começou a pescar aos 15 anos e agora tem 38. Nasceu e vive no município do Nzeto, província do Zaire. Exerce a actividade de pesca há mais de 15 anos, com o pai e alguns familiares.

30/12/2023  Última atualização 13H48
Peixeiras optam por salgar o peixe para posterior revenda © Fotografia por: Fula Martins | Edições Novembro
Ele faz-se ao mar, geralmente à noite, com a sua embarcação a motor, de marca Yamaha, na companhia de outros colegas.

Gabriel Ndungu deixou de estudar cedo e enveredou pela actividade pesqueira, porque tem que sustentar a família e paga as propinas dos irmãos e dos sobrinhos, filhos das irmãs, porque o pai já não tem força para trabalhar no mar.

Quanto às capturas, Gabriel Ndungu disse que as quantidades variam. "Quando faço três dias no alto mar, posso trazer em terra 500 quilos de peixe, entre pequeno e grosso, às vezes mesmo uma tonelada, quando somos abençoados”, referiu.

Cooperativa de pesca

Por consenso dos companheiros, Gabriel Ndungu é o responsável de uma cooperativa com 10 membros.

A cooperativa, assegurou, tem recebido apoio do Ministério das Pescas, do Governo provincial e da Administração municipal. Os apoios consistem em embarcações e outros materiais de pesca.

No entanto, disse, as calemas que se registam, de quando em vez, no mar do Nzeto, danificam as embarcações e outros materiais, o que, às vezes, provoca a alta do preço do peixe. "A alta do peixe é devido a vários factores e este é um deles”, pontualizou.

Trajado de calções e camisola interior Gabriel Ndungu revelou que, às vezes, pesca peixe graúdo e bem apreciado pelos consumidores, como a corvina, o atum e a garoupa. Com uma certa tristeza, visível, durante alguns minutos, Gabriel Ndungu lembrou algumas vezes que se fez ao mar, durante três a quatro dias, e voltar em terra de mãos vazias.

"O mar tem dessas. Às vezes chegamos em terra a rir, outras vezes, com vontade de destruir as embarcações e ficar irritado com quem nos pergunta como foi a pesca. Mas já estamos habituados com essas coisas e temos sabido contornar”, disse, dando uma gargalhada e de seguida um gole de "água do chefe”(bebida quente) que estava numa caneca de esmalte, para afugentar o frio, segundo a sua própria justificação.

Zolana João é outro pescador baseado no Nzeto. Sente-se satisfeito com a actividade que exerce, porque é de onde sai o sustento da família.

O pescador considera a subvenção do preço da gasolina para a actividade pesqueira como um incentivo, a que se junta o centro frigorífico para a conservação do pescado, quando há sobras.

O peixe é vendido às peixeiras, que revendem uma parte e salgam a outra, além da reservada para o consumo. Proprietários de restaurantes e gerentes de grandes superfícies comerciais recorrem, também, ao local para a aquisição de peixe e, em alguns casos, para revenda.

Variação do preço

Sobre o preço praticado nas praias do Nzeto, Zolana João reconhece haver muitas reclamações das peixeiras, mas, disse, o preço sobe quando se regista pouca captura. "É a lei do mercado, quando a procura é maior o preço sobe”, referiu.

Celestina Pedro é peixeira e diz gostar da profissão, da qual obtém o sustento para os filhos. "A gasolina subiu e agora pagamos mais caro para conservar o peixe e os clientes têm reclamado do preço, mas ainda assim dá para sobreviver”, comentou.

Centro de apoio à pesca artesanal

 O Centro de Apoio à Pesca Artesanal do Nzeto colabora na diversificação da economia, com a exportação de peixe fresco e seco. São mais de 40 toneladas de pescado exportadas por mês, de acordo com o director do referido centro, Ambrósio Simão.

Além da exportação, Ambrósio Simão disse que as províncias do Uíje, Bengo, Cabinda e Luanda, províncias que, mesmo ricas em pescado são, também, abastecidas pelo centro de apoio artesanal do Nzeto.

O município do Nzeto, garantiu Ambrósio Simão, pode contribuir ainda mais na diversificação da economia, caso se construa uma ponte cais. "Os pescadores pedem para que se construa uma ponte cais, para desenvolverem a actividade piscatória com eficiência, mas isto não depende de nós. Acredito que quem de direito está a ouvir o clamor dos pescadores e, quem sabe, se mais dia menos dia podemos ver a ponte cais construída”, disse Ambrósio Simão esperançoso.

O centro controla 150 embarcações artesanais de pesca, cujos proprietários fazem uso do referido centro, construído pelo Executivo, através do Ministério das Pescas. O mesmo apresenta boas condições de sanidade. No entanto, o director do centro tem feito um trabalho pedagógico, com os pescadores, para evitarem a descarga de pescado nas praias, provocando danos ao meio ambiente. Entre os meses de Abril e Setembro regista-se mais a captura do peixe pungo, corvina, cachucho, calafate, garoupa, linguado, pargo, barbudo e arrancador.

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