Reportagem

Cidade do Sequele: Realidade social ainda aquém das expectativas criadas no início

Roque Silva

Jornalista

Se, por um lado, existem indícios que apontam para a melhoria das condições de vida na cidade do Sequele, que sábado completou nove anos de existência, há, por outro, situações negativas que perduram há anos e que levam muitos moradores a assumir que viver ali está, ainda, aquém das grandes expectativas criadas no início

13/08/2023  Última atualização 10H18
Cidade do Sequele © Fotografia por: Edições Novembro

Há cerca de um ano reconhecer um documento ou efectuar um registo de óbito na Cidade do Sequele não passava de sonho. Os habitantes eram obrigados a percorrer 12  quilómetros até Cacuaco, pois os serviços eram escassos. Estavam limitados ao registo civil e criminal.

Da cidade do Sequele, sede do distrito urbano homónimo, um dos três do município de Cacuaco, os moradores procuravam resolver as suas preocupações burocráticas, administrativas e outras junto das instalações do SIAC e sedes dos municípios de Cacuaco, Viana e Talatona, além do centro da cidade de Luanda. Era um grande transtorno para os cidadãos.

Essa realidade faz parte do passado, pois a cidade já conta com uma Loja de Registos, cujo leque de serviços está disponível para os habitantes locais e das zonas circunvizinhas. É a única da província de Luanda instalada para atender um distrito. Nela estão  inseridos os serviços de registo civil, comercial, predial e automóvel, cartório e um Centro de Resolução Extrajudicial de Litígios (CREL). 

A Loja de Registos, que até o ano passado era apenas uma realidade noutras paragens, é, actualmente, um dos maiores ganhos dos últimos 12 meses na cidade do Sequele, que ontem completou nove anos de existência. É, sem dúvida, uma resposta à necessidade dos habitantes face à anterior escassez de serviços, cujo aumento torna a cidade mais inclusiva, pois a Loja dos Registos está preparada para atender 120 utentes por dia.

Clemente Armando dá nota positiva à Loja de Registos, por, em seu entender, constituir um ganho para os cidadãos, na medida em que vem agregar valor à cidade do Sequele.

Funcionário por conta própria, disse que a abertura da Loja facilita não só o seu trabalho de relações públicas, mas o de outras pessoas que pretendem tratar qualquer documento.

"É, sem sombra de dúvidas, um dos grandes ganhos da cidade. Esperamos que se criem outros, pois o Sequele precisa de muito mais serviços”, considerou.

Espaços de recreação

A cidade não dispõe de espaços de lazer e recreação, biblioteca pública, parques infantis públicos, nem salas de cinema. Para colmatar este vazio, muitas famílias deslocam-se para outras localidades, sobretudo aos fins de semana, para se divertirem com os filhos.

Telma Domingos é um exemplo disso. A gestora bancária disse que procura fazer programas "diferentes” com a família. Aos sábados desloca-se para outras zonas para oferecer lazer e diversão à família. "No Sequele, estamos muito limitados, já que a cidade está infestada de bares e não tem diversão para as crianças”, disse, acrescentando que, em nove anos, o Sequele podia ter registado melhorias significativas neste quesito, por ter havido algumas tentativas para o efeito, mas que não deram certo.

Para Telma Domingos, a cidade está distante de reverter a situação devido à conjuntura económica e à actual tendência do empresariado.

"O mundo está em crise e o que se nota é que os empresários apostam mais em bares, acabando por se esquecer das crianças, dos adolescentes e dos jovens”, referiu outro morador.

O gestor e economista Eduardo Neves defendeu ser urgente a construção de espaços de recreação e lazer, "por  constituírem elementos fundamentais para aumentar a qualidade de vida dos moradores”.

 
Oficinas a céu aberto

Instaladas junto a edifícios, as oficinas contribuem para a degradação da imagem da cidade. Improvisadas a céu aberto, estão cheias de viaturas avariadas, carcaças e peças espalhadas por todo o lado.

As carcaças acabam por se tornar local de esconderijo de bandidos e de deposição de lixo, enquanto as viaturas avariadas são alvo preferencial dos meliantes para o roubo de peças.

Junto às oficinas é visível o rasto de destruição causado ao asfalto e passeios pelo combustível e o óleo queimado de motor, que é um atentado ao ambiente.

Trânsito desordenado

A desordem no trânsito automóvel é um facto na cidade, um acto praticado por automobilistas que desrespeitam o Código de Estrada. Condutores há que optam pela condução ofensiva, fazendo o uso da imprudência, em desrespeito ao peão.

De forma sediciosa, os mototaxistas circulam na contramão, evitam a estrada e optam pelos passeios, e obrigam os peões a caminhar em locais inadequados, pondo em risco a sua integridade física.

A esquadra de polícia do Sequele tem um registo, em média, de quatro acidentes de viação por semana, a maioria envolvendo viaturas ligeiras e mototaxistas. 


Assistência médica

A esperança quanto à prestação de uma melhor assistência médica na circunscrição estão depositadas no futuro Hospital Geral de Cacuaco, em construção no Distrito do Sequele, junto ao bloco 13.

A garantia dada pela ministra da Saúde, numa visita às obras, sobre a inauguração do hospital no final do primeiro trimestre do próximo ano, é um sinal de alegria para os moradores do Sequele. O Hospital Geral de Cacuaco, um investimento de 185 milhões de euros, vai contar com 300 camas, com vários serviços especializados, incluindo para tratamento oncológico e hemodiálise.

A unidade vai dispor, ainda, de áreas de cuidados intensivos, desde o neonatal até aos serviços para adultos, com condições operatórias e técnicas, no sentido de melhorar o tratamento quer médico, quer cirúrgico para os moradores do Sequele.

Sandra Pedro, médica e moradora do Sequele, afirmou que o sector da Saúde é o que menos cresceu na cidade.  "Não podíamos receber uma notícia melhor, pois estamos a falar de 300 novas camas”, disse Sandra Pedro. Ela disse acreditar que o problema da assistência médica no Sequele pode ser resolvido após a inauguração do hospital.

Sandra afirmou que o actual Centro de Saúde é incapaz de dar resposta à demanda. "Haverá grandes ganhos com a entrada em funcionamento do Hospital Geral de Cacuaco”, disse.

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